
O Boletim Atlas ODS Amazonas da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) divulgou, nesta segunda-feira, dia 25, dados de alerta a municípios do interior do Amazonas que estão em aceleração no número de infectados pela Covid-19 e com baixa efetividade nas medidas de isolamento social.
Os municípios com dados mais críticos, segundo a pesquisa, são os que lideram três parâmetros considerados fatores de gravidade no controle da doença: número de infectados, taxa de adesão a isolamento social e aceleração do aumento de infectados.
De acordo com o coordenador do estudo e professor do programa de Pós-graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Henrique Pereira, aparecer com destaque em qualquer um destes quadros deve preocupar os gestores interessados em planejar formas de proteção da população e evitar alto número de óbitos.
Os 24 municípios são: Coari, Tefé, Parintins, São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga, Itacoatiara, Santo Antônio do Içá, Benjamin Constant, Maués, Careiro, Caapiranga, Juruá, Guajará, Alvarães, Itapiranga, Uarini, Eirunepé, Manicoré, Anori, Novo Airão, Urucará, Manaquiri, Codajás e Nova Olinda do Norte.

O professor da Ufam destacou que aparecer em mais de uma dessas classificações aumenta a gravidade e os riscos do municípios em relação à epidemia. É o caso dos municípios de Caapiranga, Coari, Careiro, Benjamin Constant, Maués, Parintins, Caapiranga e São Gabriel da Cachoeira.
“O gestor tem que se preocupar se a pandemia está crescendo muito rápido e se a população não está obedecendo este isolamento. Se eu sou o gestor, eu quero saber esses detalhes. Alguma coisa precisa ser feita se isso estiver ocorrendo”, afirmou o pesquisador.

Há municípios, que nos últimos três dias demonstraram bons resultados diante dos parâmetros analisados na pesquisa. São eles: Codajás, Borba,
Tapauá, Santa Isabel do Rio Negro, Pauini, Japurá, Itamarati, Careiro da Várzea e Canutama.
“Essa última lista são de municípios que, pela velocidade baixa, aparentemente, estão estacionando a evolução dos casos, considerando os últimos dias. Se eu sou gestor deste município, eu ia comemorar isso. Não estão crescendo o número de casos com velocidade. Seja lá o que estão fazendo, está dando certo”, disse.
Henrique Pereira afirmou que é fundamental que os gestores acompanhem o número de pessoas doentes, além do fator de desaceleração para definir estratégias de planejamento na epidemia.
“Eu tenho que olhar quantas pessoas estão doentes e precisam de tratamento, se a velocidade de crescimento é alta e se as pessoas estão isoladas. Olhando o panorama geral, tem mais município ruim (do que consta na lista divulgada pelo estudo). Todo mundo está com a pandemia indo para cima, está ruim. Mas a gente pode dizer que se olhar para todos 61, esta lista aí, se tiver que priorizar, mandar mais recursos, alertar mais a população, tem que olhar essa lista”, explicou o pesquisador.

O estudo da Ufam analisou – por meio dos decretos municipais, o número de infectados e mortos – o tempo de resposta dos governos locais e a efetividade das medidas de isolamento social no controle da pandemia em municípios amazonenses.
O resultado traz informações diferentes para cada um dos 61 municípios. Para o pesquisador, o resultado exige maior atenção porque as medidas de isolamento ou foram tomadas de forma tardia ou não foram acolhidas pela população e deixaram de surtir o efeito desejado.
“O primeiro impacto que queremos é que o estudo provoque o município a olhar os dados e avaliar se o que fez até então surtiu efeito e o quão efetiva foi essa medida. E aí, talvez, decidir por manter ou tornar mais rigorosa as medidas”, declarou o coordenador do estudo.
O pesquisador acrescentou que não é o momento de reabertura nem para Manaus – que não consta no boletim divulgado ontem, embora seja parte do estudo da Ufam – e nem para o interior do estado.
“A pesquisa ajuda principalmente os municípios que estão sendo pouco efetivos: é ali que as medidas precisam ser reavaliadas com mais urgência”
Uma das conclusões do estudo da Ufam é que os municípios do interior que adotaram medidas mais precoces registraram menor número de casos que os que tomaram medidas tardias para conter a doença.
“São Gabriel adotou medidas com bloqueio, mas depois que a doença avançou. Coari não adotou medidas de bloqueio. Nhamundá e Parintins também adotaram tarde”, citou Alexandre Pereira.
São Gabriel da Cachoeira, na tríplice fronteira com Venezuela e Colômbia e conhecido por ser a cidade mais indígena do Brasil, o número de infectados é de 672 casos e 20 óbitos, segundo dados divulgados nesta segunda-feira, dia 25. A população do município é de 43.831 habitantes.
Coari é, entre os município do interior, o segundo com maior número de infectados (1509) e soma 43 óbitos. Parintins, de onde veio o primeiro registro de morte e que com medidas de isolamento conseguiu conter o avanço nas semanas seguintes, agora aparece como 4º em número de infectados (925) e registra 48 mortes. Nhamundá, cidade próxima a Parintins, tem 38 infectados e 1 óbito.
Tefé, outro município polo que também decretou medidas restritivas à circulação de pessoas, tem número elevado de infectados. Dados divulgados nesta segunda-feira, colocam o município como terceiro em infectados (1.322) e o segundo em número de mortes: 50.
“Tefé adotou o lockdown e não funcionou. Apesar da medida, na prática, não funcionou. Ou porque já havia um grande número de pessoas adoecidas e contaminadas no município ou porque as medidas não foram observadas”, declarou.
Segundo o estudo, Guajará e Pauini adotaram medidas precoces de controle de circulação de pessoas e alcançaram até aqui bons resultados na contenção do avanço da doença. Embora, Guajará tenha apresentado alterações na aceleração de casos, segundo o estudo, nos últimos dias.
O município de Tabatinga, outro que está entre os com maior número de infectados e óbitos no interior, segundo o estudo, adotou tardiamente os cuidados e orientações sobre isolamento.
“Tabatinga está naquele grupo tadio. Essas medidas quando tomadas muito tarde acontecem num momento em que há grande disseminação da doença na população. É mais difícil reduzir e controlar a doença quando há mais pessoas infectadas”, declarou o professor.
Para o professor, municípios como Ipixuna e Envira, onde não há casos confirmados da doença, são isolados e registram pouco fluxo de pessoas. Estes pontos podem ajudar a explicar a razão do município não ter registros da covid-19 até agora.
O estudo disponibilizado no site da Ufam. Parte dos dados coletados ainda estão sendo analisados e cruzados para dar melhor possibilidade de interpretação da evolução da doença no Amazonas, segundo os coordenadores da pesquisa.
Henrique Pereira disse que, por meio de uma entidade nacional de municípios, tenta disseminar o estudo para os gestores do interior do Amazonas.
“Estamos colocando à disposição para ajudar a sociedade. Pedimos apoio da Associação Brasileira do Municípios para que o nosso trabalho chegue ao Amazonas. É estanho dizer isso, mas é necessário. Isso vai ajudar a encurtar a distância entre a academia e os gestores municipais. Até agora a Associação Amazonense dos Municípios não nos procurou demonstrando interesse nessas informações”, declarou.
Números do interior
Nesta segunda-feira, a FVS (Fundação de Vigilância Sanitária) informou que o número de infectados, com testes positivos para covid-19 era de 16.303 nos municípios do interior do Amazonas. Os números do interior sobem e, desde a semana passada, ultrapassaram o de infectados confirmados em relação à soma de Manaus, que hoje é de 13.979.