“A democracia avançou e não permite esse tipo de insinuação”, diz Wilson sobre discurso de Bolsonaro

O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), declarou a jornalistas da Folha de São Paulo e Valor Econômico que o Sínodo da Amazônia não representa risco à soberania nacional, que há ongs que fazem trabalhos significativos na regão e que, para acusá-las de atos ilegais, é preciso de provas.

As declarações foram feitas no Vaticano ao ser questionado sobre criminalização do Greenpeace por parte do presidente da República, Jair Bolsonaro.

Wilson está no Vaticano para participar de uma parte da programação do Sínodo da Amazônia, evento realizado pela Igreja Católica para discutir com religiosos, representantes dos povos da região e cientistas alternativas de preservação à floresta e respeito às comunidades indígenas.

Ao ser questionado se o Sínodo era uma ameaça à soberania nacional, pelo jornalista Fabiano Maisonnave do jornal Folha de São Paulo, o governador Wilson Lima respondeu:

“Eu não vejo dessa forma. O amadurecimento do processo democrático avançou, não permite mais esse tipo de insinuação. A exemplo do que já tem acontecido em outros Países, a soberania brasileira é consolidada. Não tem como estar fora de discussões como essa. Não tem como as pessoas estarem aqui tratando da Amazônia sem a nossa presença. Todas as vezes que há uma ameaça contra a Amazônia é ruim pro Brasil”, declarou.

O presidente da República Jair Bolsonaro (PSL) em entrevista ao jornal Estado de São Paulo no dia 6 de outubro, logo após o início do Sínodo, declarou ao comentar o evento, que “alguns querem voltar para aquilo que foi discutido em 1948 pela ONU (Organização das Nações Unidas), a questão da internacionalização da Amazônia”.

Em várias outras ocasiões, o presidente Bolsonaro tem rejeitado as opiniões de chefes de estado a respeito da Amazônia, afirmando que é uma tentativa de interferência na soberania nacional. O presidente reforça sempre que o território pertence ao Brasil e, por isso, deve ser tratado apenas pelo governo brasileiro.

Os recursos doados por países como Alemanha e Noruega para o Fundo Amazônia para serem usados em medidas de combate ao desmatamento foram desprezados pelo presidente.

Criminalização de ongs

O jornalista questionou o governador do Amazonas, ainda, sobre a criminalização do Greenpeace por parte do presidente Bolsonaro e perguntou se ele também considera que ongs são nocivas à soberania, à segurança nacional e que provocam incêndios na região.

Wilson, mais uma vez, se contrapõe à opinião do presidente, no Vaticano:

“É preciso separar o joio do trigo. Há ongs que fazem serviços muito significativos e bons. Há algumas situações que precisam ser revistas. Com relação a questão de derramamento de óleo, ameaças, queimadas são situações que precisam ser comprovadas. Não tenho dados e nem provas para falar alguma coisa neste sentido. O Amazonas tem um posicionamento muito claro contra desmatamento ilegal, contra atividade ilegal de quem quer que seja. Mas é preciso, naturalmente, que haja as provas e os indícios necessários”, declarou o governador Wilson Lima.

O governador ressaltou que não se pode ignorar um processo histórico e que as queimadas não ocorreram só este ano. Também falou que há instrumentos precários de tecnologia para fiscalização e que o desenvolvimento sustentável caminha ” a conta-gotas”.

No episódio de vazamento de óleo que afeta o litoral do nordeste, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, partiram para o ataque em relação ao Greenpeace com insinuações sem provas.

Bolsonaro declarou: “Para mim, isso é um ato terrorista. Para mim, esse Greenpeace só nos atrapalha. O Greenpeace não nos ajuda em nada”.

Ricardo Salles publicou no Twitter: “Tem umas coincidências na vida né… Parece que o navio do #greenpixe estava justamente navegando em águas internacionais, em frente ao litoral brasileiro bem na época do derramamento de óleo venezuelano…”

Wilson no Sínodo

De acordo com a Secom, o governador Wilson Lima, que está em Roma para a 1ª Cúpula dos Governadores dos Estados da Pan-Amazônia e participou neste domingo, dia 27, da missa de encerramento da Assembleia Especial do Sínodo para a Pan-Amazônia. A celebração foi feita pelo papa Francisco, na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Fotos: Fabiano Maisonnave