
Eleito com a maior votação da história para o mais alto cargo de poder no Amazonas, o governador Wilson Lima (PSC) declarou, ao fazer balanço do primeiro ano do mandato, que está construindo um novo grupo político. O governador fez a declaração ao programa de entrevista Exclusiva da Rádio BandNews Difusora (93.7), nesta segunda-feira, dia 16.
“Quando a gente montou o nosso grupo político em abril do ano passado, do ponto de vista político, a nossa candidatura era inviável (…) Ali estava nascendo um novo grupo político e é isso que a gente está construindo”, declarou o governador.
Eleições 2020
O governador tentou se esquivar do assunto eleição, durante a entrevista, mas deixou escapar sua opinião. Wilson Lima considera que após um declive, ocorrido nos primeiros meses depois da eleição, o novo voltou à preferência do eleitorado.
Para o governador, o eleitorado deve eleger para a Prefeitura de Manaus alguém com o mesmo perfil que o dele: “Acho que vai haver um pedido e uma resposta do cidadão querendo alguém novo”, disse.
Vice
Sobre a possibilidade do vice-governador, Carlos Almeida Filho (PRTB), ser o nome a ser indicado por ele neste processo eleitoral, Wilson Lima declarou: “Não sei se quero abrir mão dele no governo”.
Ainda sobre o vice, Wilson Lima disse considerar ele um amigo, um vice atuante e que divide as responsabilidades do governo.
Novo e velho
Wilson Lima recebeu quase 60% dos votos válidos (1.033.950) em 2018 e foi eleito derrotando um dos maiores símbolos do grupo político criado por Gilberto Mestrinho e que se revesava no Governo do Amazonas por mais de 36 anos: o ex-governador Amazonino Mendes (sem partido). O jornalista e apresentador de TV nunca havia ocupado cargo eletivo antes .
Uma das principais marcas deste grupo que se revesava no poder era a cooptação das possibilidades de novos novos. Todas as vezes que um nome fora da órbita deles se destacava era engolido como aliado nas eleições seguintes.
Wilson Lima não era uma figura considerada de expressão política e que preocupasse a esse caciques. Até que as pesquisas, a cada rodada em 2018, mostravam o seu crescimento na preferência do eleitorado em Manaus, que concentra mais da metade dos eleitores do Amazonas.
A vitória e mudança de 180 graus na rotina dele, provavelmente, surpreendeu até mesmo a Wilson Lima, que logo depois teve picos de pressão alta. Nos intervalos da entrevista na rádio BandNews, o governador relatou pensativo que este foi um ano intenso e de crises de insônia. “Não foi fácil”, falava e sorria.
Ao revisitar alguns episódios de crise na administração pública este ano, Wilson Lima contou que buscou aprender sobre o funcionamento da administração pública e das relações política em meio aos problemas.
Leituras e reuniões com pessoas de dentro e fora da administração pública passaram a ser práticas de sua rotina, segundo ele. “Leio muito. Acordo muito cedo e leio os principais jornais. Ouço o que é importante ser ouvido. Quase todo dia”, disse.
Girassóis
Os primeiros meses foram de relações não consolidadas com as instituições. Sem interlocutores, Wilson foi atacado e sua imagem de liderança competente na administração pública foi fragilizada muitas vezes por sua própria equipe. Viagens, anúncios, recuos e falta de aliados que representassem e defendessem seu governo em espaços públicos.
“Não tive lua de mel”, disse.
O movimento girassol, tão comum no início de governos, parecia algo que era até tentativa de alguns lados, mas a dinâmica não era a mesma.
“Imagina, os candidatos que estiveram no pleito de 2018, o caminho que eles trilharam e quanto tempo tiveram para construir seus grupos, sua rede de relacionamento. Eu comecei do zero. Não foi fácil”, disse o governador.
O final do ano mostrou que a máquina sempre está com a força. A maioria dos nomes tradicionais do legislativo, que não conseguem concorrer a cargos eletivos sem a impulsão da máquina, acharam o caminho de volta e se acomodaram ao lado do outsider.
As imagens do governador e do vice-governador nas redes sociais demonstram fartamente isso. Algumas nomeações no Diário Oficial do Estado também.
“Eu, enquanto governador, tenho que manter boa relação com deputados estaduais e federais (…) Temos feitos agendas na capital e interior com deputados, faço questão que participem”, disse o governador durante a entrevista.
Medidas amargas e expectativa para 2020
No campo administrativo, Wilson Lima afirma que as ações duras e que deram a ele avaliação amarga foram necessárias e, para o governador, os resultados já são visíveis.
“Acho que todas as decisões foram acertadas. Não havia outro caminho. Hoje, a gente já começa a ver resultado porque já tem como a gente fazer previsão do equilíbrio das contas e de investimento”, disse.
Leia os principais trechos da entrevista ou assista o conteúdo na íntegra no link disponibilizado no final desta publicação:
Saúde: “Eu resolvi uma série de problemas e quase não tenho reclamação do interior”
Exclusiva: Neste final de semana, uma decisão judicial contra o Estado e contra uma cooperativa da área da saúde aponta a morte de uma criança em função de problemas administrativos no Amazonas. O senhor dá declarações que não irá ter sossego enquanto não resolver este setor. O que fará de imediato para evitar mortes em função de problemas na gestão?
Wilson Lima: Essa é uma questão que de fato eu tenho acompanhado de perto. Reúno todas as segundas-feiras com a equipe de saúde. A gente ainda tem muitos problemas na área de saúde, resultado do que a gente herdou, de uma engenharia, de arranjos que foram feitos e a gente tem dificuldades de desfazer isso. Há muito desperdício na área de saúde. Só para você ter uma ideia, gastamos por mês R$ 180 milhões. Era para a gente ter uma saúde de excelência. Ainda falta controle. Dispensação de medicamentos, nas unidades, é feita por anotação manual. As trocas de medicação, quando falta em uma unidade e a outra tem em excesso, é feita na base da amizade entre os diretores.
Exclusiva: O que mudou?
Wilson Lima: Na Central de Medicamentos, quando assumimos, havia 12% de abastecimento, hoje temos 60% de abastecimento. No interior, a gente tem um abastecimento bem maior, bem superior. Com o repasse que fizemos, desde o início do ano, inclusive, pagamos a última parcela do FTI com a ajuda da ALE-AM que aprovou a descentralização deste recurso, eu resolvi uma série de problemas e quase não tenho reclamação do interior. Ainda temos problema com UTI aérea, dada a logística. Fazer este atendimento no interior não é tão simples.
Exclusiva: E a morte no Ana Braga?
Wilson Lima: Funcionários abandonaram seus postos de trabalho em duas maternidades. Foram identificados e vão ser notificados. Estamos trabalhando para responsabilizá-los. Primeiro, porque eles não avisaram que iam abandonar os postos de trabalho, colocando em risco a vida de crianças, pacientes destas unidades. Nós, insistentemente, chamamos a Copeeam, de onde são estes funcionários, para um acordo, naquele momento que firmamos um acordo com outras empresas para depósito judicial. A empresa não quis fazer acordo. No último sábado, finalmente, aceitou fazer este acordo, mas não cumpriu. Estamos revisando. A decisão (da Justiça Federal que obriga o Estado a regularizar o atendimento) nos ajuda no projeto em que a gente pretende de contratação direta de servidores da área de saúde. Construímos, junto com o MPT (Ministério Público do Trabalho) e amanhã a gente deve ter um acordo neste sentido para que comece, o mais breve possível, a contratação destes funcionários.
“O governo em muitos casos (fica) refém de empresas, de cooperativas. Não dava para a gente continuar desta forma”.
Exclusiva: Muitos apoiam a ideia de romper com a terceirização de serviços por meio de cooperativas e empresas, na área de saúde. Mas os MPs consideram que contratação sem concurso público é retrocesso. Algo que foi aos poucos vencido e que sua gestão pode trazer de volta. O senhor considera esta uma boa solução?
Wilson Lima: O que eu garanto é que do jeito que está não está bom. Pegamos o governo em muitos casos refém de empresas, de cooperativas. Não dava para a gente continuar desta forma. O que a gente está buscando, agora, é uma relação direta com esses servidores da área de saúde. Muitos passavam três, quatro meses sem receber. Em alguns casos, o governo pagava a empresa. A empresa não repassava aos funcionários, que se desligava da empresa, buscava a justiça e o Estado era condenado solidariamente a pagar de novo.
Exclusiva: Mas não dá para planejar concurso, governador? Não deu para planejar em um ano?
Wilson Lima: Dá. Esse ano não tinha como a gente fazer isso. Eu já assumi o governo com limite de gastos com pessoal excedido. Na área da saúde, não havia a menor possibilidade. Fizemos em outras áreas concursos que já estavam encaminhados. Na Saúde, é mais complexo e estou lidando com uma quantidade significativa de servidores e algumas mexidas podem provocar processos de descontinuidade.
Exclusiva: Como aconteceu neste final de semana …
Wilson Lima: Exatamente.
Exclusiva: O orçamento do ano que vem é suficiente para manter os atendimentos de saúde no Amazonas?
Wilson Lima: O Estado tem que trabalhar dentro da capacidade dele. Se eu tenho R$ 20 bilhões para o ano que vem, tenho que fazer que meus gastos na área de Saúde, sejam compatíveis com o que tenho. Estamos otimizando, implantando processos de informatização da Saúde para ter prontuário eletrônico, controle de dispensação de medicamentos, quem foi trabalhar, quantos médicos de plantão enfermeiros, quantos pacientes operados em tempo real, quantos comprimidos . Estamos adquirindo este sistema para ser implantado. Mas isso não acontece do dia para a noite.
Hoje eu não posso dizer que não há desvio porque eu não tenho controle do medicamento que entra na Cema (Central de Medicamentos) e sai na ponta.
“Eu recebi a saúde desse jeito. Pode ter certeza que eu não vou entregar assim”
Exclusiva: Quais medidas podem impactar no combate a outro problema na Saúde: a corrupção? Como acabar com a roubalheira que há neste setor, demonstrada pela Maus Caminhos? Dá para garantir que hoje não há mais desvios?
Wilson Lima: Um dos caminhos que a gente está procurando é a automatização. Eu só vou ter controle se eu rastrear essa medicação desde a compra dela até a dispensação numa unidade de saúde. Hoje eu não posso dizer que não há desvio porque eu não tenho controle do medicamento que entra na Cema (Central de Medicamentos) e sai na ponta. Eu recebi a saúde desse jeito. Pode ter certeza que eu não vou entregar assim. Estamos trabalhando para ter instrumentos de controle mais rigorosos e que deem transparência sobre como o dinheiro está sendo investido.
Exclusiva: Como o senhor divide a administração do Estado? Qual setor o senhor conduz diretamente? Quais funções delega? O que o senhor delega ao seu vice-governador?
Wilson Lima: Vamos começar pelo vice-governador, né? O Carlos Almeida tem sido um grande parceiro. É um vice muito atuante e nas questões que eu não posso atuar, ele está me representando. Na votação na Câmara dos Deputados da Lei de Informática, que é importante para o Amazonas, ele está lá me representando. Com relação ao que dou prioridade no governo, me reúno com a secretaria de Saúde todas as segundas de manhã e converso todos os dias com o secretário da Susam porque a todo momento as coisas acontecem e a vida não pode esperar. Com a Sefaz, naturalmente, reúno a cada dois dias porque trata das questões fiscais, do pagamento. Principalmente, agora, neste final de ano, com o fechamento do ano fiscal e tendo que garantir pagamento dos servidores públicos em início de janeiro, pagamento da segunda parcela 13º. Tenho, na medida do possível, conversado com todas as áreas. Naturalmente que coloquei no governo, pessoas técnicas e pessoa que eu confio.
Exclusiva: A forma de atuação do vice-governador, em função de não ter algo parecido em governos anteriores, causa reações. Em que medida ele ofusca o senhor e em que medida ele o favorece quando entra em embates que saiu desgastado na imagem e o senhor não?
Wilson Lima: Olha, a gente divide a responsabilidade do Estado. Carlos Almeida é um grande companheiro e amigo e, na condição de vice-governador, faz um papel diferente de todos os outros vices. Não vejo que eu ofusco a imagem dele ou ele a minha. Ou que ele se desgaste ou eu. A minha preocupação é que a gente possa avançar em pautas que são importante para o Estado.
“Não pretendo demitir ninguém”
Exclusiva: É preciso enxugar mais a máquina? Ano que vem haverá mudanças na administração: diminuição do número de secretariais, demissão de cargos comissionados. Ou haverá repetição do cenário deste ano?
Wilson Lima: Estamos otimizando o trabalho do poder público. Estamos enxugando a máquina e a gente não fala em demissões. Não pretendo demitir ninguém. Em janeiro, vamos fazer o recadastramento dos servidores públicos com o Bradesco. Nunca foi feito. A expectativa é que a gente tenha uma redução de pelo menos 3% no gasto com pessoal. Tem gente que não mora no Estado, pessoas que já faleceram e continuam recebendo. Uma revisão em benefício de filhos de servidores de até 24 anos, economizamos R$ 4 milhões por mês. Tem gente que recebe acima do teto e isso precisa ser revisto.
“A ideia é que em março, a gente possa atingir a meta de sair do limite máximo. E, em 2021, a gente possa atingir (sair do) o limite prudencial”.
Exclusiva: O governo conseguirá sair em dezembro do limite máximo com gasto com pessoal após essas alterações na data de pagamento e outras para aumentar a receita?
Wilson Lima: O Amazonas tem tido sucessivos aumentos na arrecadação. Metade do que arrecado com ICMS tenho que repassar para os poderes, para os municípios e para o governo federal que é o Fundeb. No final, fico com 49%. Ou seja, de R$ 100 que arrecado com ICMS, o governo fica com R$ 49. Eu assumi com o limite máximo estourado. A ideia é que em março, a gente possa atingir a meta de sair do limite máximo. E, em 2021, a gente possa atingir (sair do) o limite prudencial.
Exclusiva: O senhor iniciou o mandato com uma votação histórica e a expectativa do novo, sem aliados e com reclamações a respeito da articulação política do seu grupo. Finaliza o ano com a imagem associada a políticos que sofreram rejeição nas urnas. Qual sua leitura sobre isso?
Wilson Lima: Rejeitados, não. Porque eles foram eleitos né?
“Ali estava nascendo um novo grupo político e é isso que a gente está construindo”.
Exclusiva: Pauderney não foi reeleito. Omar Aziz não foi, ficou com uma votação muito abaixo da que o senhor teve …
Wilson Lima: O que acontece? O Omar Aziz, independente de qualquer coisa, é senador da República. Eu, enquanto governador, tenho que manter boa relação com ele e boa relação com os deputados estaduais e federais. Pauderney é alguém que tem uma experiência muito grande, no que diz respeito à ZFM e toda política de incentivos fiscais, tem um trânsito muito grande em Brasília com investidores nacionais e internacionais e está na representação de São Paulo.
“Não tive lua de mel. No início, já começaram a me criticar e cobrar”
“Acho que todas as decisões foram acertadas. Não havia outro caminho. Hoje, a gente já começa a ver resultado porque já tem como a gente fazer previsão do equilíbrio das contas e de investimento”
Exclusiva: Como foi este processo, neste primeiro ano?
Wilson Lima: Quando a gente montou o nosso grupo político em abril do ano passado, do ponto de vista político, a nossa candidatura era inviável. Vencemos e montei um governo muito técnico, quando começamos. Houve, naturalmente, uma indisposição por parte de alguns grupos. O grande problema, para quem criticava, é que eu não tinha padrinho político. Ali estava nascendo um novo grupo político e é isso que a gente está construindo. Imagina, os candidatos que estiveram no pleito de 2018, o caminho que eles trilharam e quanto tempo tiveram para construir seus grupos, sua rede de relacionamento. Eu comecei do zero. Não foi fácil. Tanto que eu não tive lua de mel. Me diziam: ‘Wilson você vai ter três meses de lua de mel’. E eu não tive. Já começaram a me cobrar e criticar. Durante o ano, tivemos uma série de situações que um governador podia passar. Todas as manifestações que eram para acontecer ao longo de um governo, acho que ocorreram em 2019. Acho que todas as decisões foram acertadas. Não havia outro caminho. Hoje, a gente já começa a ver resultado porque já tem como a gente fazer previsão do equilíbrio das contas e de investimento.
“Acredito que em 2020 também vai haver um pedido e uma resposta do cidadão querendo alguém novo”
Exclusiva: Há pesquisas que apontam decepção do eleitorado com o novo. O senhor se considera responsável por isso?
Wilson Lima: Bom, as últimas pesquisas que tive acesso mostram uma recuperação significativa do novo e que de fato a gente precisava oxigenar a política. Eu acredito que o ano de 2020 também vai haver um pedido e uma resposta do cidadão com relação a isso, querendo alguém novo também.
Exclusiva: O senhor pretende que seu grupo político tenha uma indicação sua na disputa pela Prefeitura de Manaus?
Wilson Lima: Olha só, eu ainda não parei para tratar dessas questões. Estou muito focado em resolver os problemas do Estado.
Exclusiva: O seu vice-governador se comporta como pré-candidato. Ele é um bom nome para a Prefeitura de Manaus?
Wilson Lima: Bom, eu não conversei com ele sobre isso. Hoje, inclusive ele nem tem partido … (risos)
“Carlos Almeida é alguém que confio muito. Tem sido um grande parceiro. Não sei se eu abriria também mão dele, no governo, para concorrer à prefeitura. Mas isso é algo que a gente deve discutir mais na frente”
Exclusiva: Não perguntei se o senhor conversou com ele. Apenas se é um bom nome para ser candidato à Prefeitura de Manaus.
Wilson Lima: Carlos Almeida é alguém que confio muito. Tem sido um grande parceiro. Aí, é uma decisão dele. Se ele quer concorrer ou não, não sei. Não sei se eu abriria também mão dele, no governo, para concorrer à prefeitura. Mas isso é algo que a gente deve discutir mais na frente.
Temos construído com nossas lideranças lá na ALE-AM, com o presidente da ALE-AM e temos mantido um bom relacionamento, na construção destas pautas importantes para o Estado
Exclusiva: Esta semana há na pauta da ALE-AM projetos importantes para o governo. O senhor conversou com sua base aliada? Como está sua relação?
Wilson Lima: Temos construído com nossas lideranças lá na ALE-AM, com o presidente da ALE-AM e temos mantido um bom relacionamento, na construção destas pautas importantes para o Estado. Temos feitos agendas na capital e interior com deputados, faço questão que participem. Nas emendas impositivas, temos trabalhado em conjunto.
Foto: Reprodução live BandNews Difusora
Veja entrevista neste link.