
Mais de uma semana após informações da Polícia Civil apontarem um funcionário da segurança do prefeito de Manaus, Arthur Neto, e carro da prefeitura como suspeitos de envolvimento num homicídio na casa do enteado do tucano, a CMM (Câmara Municipal de Manaus) ouviu representantes da prefeitura sobre o assunto.
O secretário extraordinário de Articulação Política da Prefeitura de Manaus, Luiz Alberto Carijó (PSDB), e o procurador do município, Rafael Albuquerque, foram à CMM a convite, após a blindagem que os vereadores fizeram a Arthur Neto (PSDB) e a reação negativa nas redes sociais da proteção política.
Arthur tem na base aliada 40 dos 41 vereadores. Uma desproporção que garante a ele rolo compressor. Não há correlação de forças, seja qual for o assunto. O convite só foi possível após a pressão da opinião pública.
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Além do mais importante do evento que era ouvir o que a prefeitura tinha a dizer, impossível ignorar a fala dos vereadores aliados.
Deram alta demonstração de fidelidade ao líder Arthur Neto, mas sem conseguirem esconder a preocupação de que o caso possa respingar na imagem deles, que devem concorrer à reeleição no próximo ano.
As falas demonstravam dois claros objetivos: se descolarem da repercussão negativa do caso e defender o líder tucano.
Independente do desdobramento das investigações, um estrago já está posto na imagem e no campo político do prefeito.
Informações de bastidores, antes do homicídio de Flávio, indicavam que Arthur vinha conseguindo melhorar seu desempenho na opinião pública. A reviravolta ocorreu após a postagem em suas redes sociais sobre o homicídio.
Conscientes disso, os vereadores tentaram, na sessão, se desvencilhar deste efeito, tomando o cuidado de manter o elo com o chefe da máquina municipal.
A fórmula parece difícil, neste momento, tendo em vista as reações, até desmedidas, direcionadas aos advogados que legitimamente atuam na defesa de Alejandro Valeiko.
Todos que se omitem ou ponderam questões razoáveis sobre Alejandro estão sendo atacados. Nem mesmo a cobertura jornalística escapa a essa reação de raiva e indignação que tomou conta da opinião pública.
Os vereadores tentaram uma válvula de escape acusando a cobertura que a imprensa faz do assassinato e “adversários” de usarem o homicídio como palanque político.
Vereadores atacam cobertura que imprensa faz do caso
Políticos que não se posicionam com veemência sobre os problemas da cidade e da administração municipal, que só tomam atitude depois de muita pressão pública e de olho na eleição próxima têm condições de se tornarem palmatória do trabalho dos outros?
Parlamentares que só faltam implorar, fazem de quase tudo pela publicação de releases e disparam para todo lado as postagens destes textos enviados às redações, preenchem condições de analistas críticos do trabalho da imprensa?
Quando é positivo, ainda que ridículo, disparam as publicações da mídia para se valorizarem. Quando a matéria é avaliada como negativa, quando não interessa que o assunto tenha cobertura e chegue ao conhecimento da população, é ataque de adversários.
Todos os elementos que envolvem o homicídio de Flávio Rodrigues são de interesse público e, portanto, é papel e obrigação da imprensa fazer a cobertura. Estranho seria que jornalistas não se interessassem. Como estranho seria que órgãos como a CMM ficassem em silêncio.
A imprensa cumpre seu papel social e democrático que é informar. Tentar desqualificar a informação denota intolerância e autoritarismo. Pior: medo de que a população esteja informada. Não é um bom papel atuar para desmerecer o trabalho de um setor importante à ordem democrática, que é a imprensa.
Desdobramentos políticos
Ninguém tem dúvida que o episódio e seus futuros desdobramentos serão usado por adversários. Isso os favorece e os grupos que iniciam caminhada para 2020 devem estar satisfeitos com a desconstrução da imagem de Arthur e usando esta peça na construção de suas articulações.
Mas, até agora, publicamente, o prefeito se debateu sozinho. Ele se colocou no evento e politizou o homicídio de Flávio a partir daquele texto postado nas redes sociais. A culpa não é da mídia e nem dos “adversários”, neste ponto.
Aí, me pergunto sobre o palanque político: calar sobre questões de interesse público – sobre um homicídio!!! – de olho no apoio político, altamente cortejado, da máquina municipal a um ano do pleito não é de igual modo construir palanque?
Chorar e ler bíblia na sessão aproveitando a comoção social e minimizando a explicação que a prefeitura deveria dar a respeito suspeita de participação de sua estrutura no cenário de um homicídio não é de igual modo construir palanque?
Será que os vereadores acham mesmo que ninguém percebe isso?
Foto: CMM – Divulgação