
*Por Luiz Cládio Chaves
Manacapuru e Iranduba na escuridão é o abuso do inaceitável, há mais de três dias Manacapuru e Iranduba padecem com a falta de energia elétrica e vão ficar mais tempo ainda, em consequência disso seus habitantes estão igualmente privados de telefonia, internet e água.
Segundo a companhia prestadora do serviço a causa é o furto da fiação subaquática que interliga esses dois municípios a Manaus e consequentemente à rede elétrica nacional.
Trabalhei 14 anos seguidos no interior do Amazonas, sete em Humaitá e outros sete em Manacapuru. Durante esse tempo as interrupções no fornecimento de energia elétrica eram comuns embora o Código de Defesa do Consumidor determine que o fornecimento de energia seja contínuo (Art. 22).
Várias decisões prolatei no sentido de penalizar a companhia elétrica que na época se chamava Ceam a cumprir a lei e respeitar os consumidores e o povo em geral.
Sempre li nas defesas que o grande problema era o isolamento do sistema e no dia que os municípios estivessem interligados à rede nacional tudo seria diferente, o fornecimento de energia elétrica melhoraria e os consumidores respeitados.
O futuro chegou: Manacapuru e Iranduba foram finalmente interligados à rede elétrica brasileira e agora seus habitantes ficam não apenas horas do dia ou da noite, mas dias e noites inteiras sem energia elétrica, sem internet, sem telefone, sem água e tudo o que a companhia afirma é que ladrões furtaram a fiação e levará uma semana para consertar.
Se a companhia energética não tinha um plano B, tipo fornecer energia nos moldes antigos com os geradores à óleo diesel, por que não providenciou vigilância ininterrupta da fiação subaquática?
Por que permitiu de novo tamanho sofrimento à população (já roubaram a fiação mais de uma vez). Parecem ser mais eficientes para cobrar as contas de um serviço que prestam pessimamente.
Parecem ser mais eficientes para lançar o nome dos consumidores nos cadastros de inadimplentes.
A falta contínua de energia elétrica em pleno século 21 é inaceitável porque é fruto do descaso e do abandono que historicamente assola o interior do Amazonas, é muito mais do mesmo, é a vanguarda do retrocesso.
*Luiz Cládio Chaves é juiz da Vara de Execução de Medidas Socioeducativas e trabalhou em comarcas do interior do Amazonas por 14 anos, sendo 7 em Manacapuru.
Foto: Reprodução/Vídeo