
*Marcelo Seráfico
O Amazonas é o estado da federação com maior índice de favelização. Manaus, depois de Belém, a segunda capital com mais pessoas vivendo em favelas. Esses dados, somados aos da pobreza e da extrema pobreza, certamente se combinam aos de informalidade e desemprego para compor o quadro da desigualdade que campeia por aqui.
Pode parecer estranho que essa situação ocorra com a capital que desfruta do sétimo PIB da federação. Mas não é.
Em sociedades capitalistas não existe qualquer incompatibilidade entre a produção da riqueza e sua concentração nas mãos de exíguas camadas.
A desigualdade é a expressão do modo pelo qual a riqueza é produzida e distribuída, enquanto a pobreza indica as condições materiais de vida comparadas a indicadores considerados mínimos para se desfrutar da cidadania.
Se observarmos a história que nos trouxe até aqui, veremos que vimos experimentando, de modo combinado ou não, relações de produção escravistas, de aviamento e de assalariamento.
Em qualquer delas, porém, há uma mesma lógica política e econômica, a do extrativismo. Ou seja, muda a relação de produção, mudam as mercadorias produzidas (borracha, juta, guaraná, madeira, ouro, vídeocassete, celular, motocicleta… o que for), mas poucas camadas sociais mantêm o controle sobre os processos de apropriação da riqueza.
Isto é, elites econômicas e políticas, em conluio, configuram-se como uma classe que organiza privadamente o butim da natureza, a exploração da força de trabalho usada para transformá-la em riqueza e a usurpação do Estado.
Este, além de excepcional fonte de rendimentos, se converte em braço armado para combater e impedir qualquer mudança. É importante não esquecer, porém, que não se trata apenas de elites locais ou regionais, pois em todos esses processos de exploração e dominação estão envolvidos agentes nacionais e transnacionais. O resultado é essa tragédia social.
O Amazonas continua a ser, para a classe que o domina e explora, de dentro e de fora, uma colônia.
*Marcelo Seráfico é professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas
Esse artigo mostra que um dos mais graves problemas que atingem o povo brasileiro _ a concentração de renda _ é extremamente cruel na cidade de Manaus. Essas observações merecem forte e ampla denuncia.
Excelente, Marcelo. Gostei muito de tudo que dizes, a plena verdade que se funda nos dados empíricos da realidade social. No passado (que é distante em termos de uma vida, mas é próximo pela mesma razão), eu dizia que na Amazônia não havia a miséria absoluta, inexistia a ocorrência da fome individual, seletiva ou endêmica. Eu pensava assim por observar as sociedades amazônicas em torno. Ninguém vivia em “casas” de papelão; os mais pobres moravam em casas construídas de madeiras ou de taipa e tinham sempre os rios a sua frente para pescar a proteína dos peixes e a floresta lhes oferecia frutos, além de haver a caça não predatória. Ninguém morria de frio deitado em calçadas nas ruas e sempre tinha o que comer. Em Belém não havia favelas. Havia sim bairros pobres onde moravam trabalhadores, nas casas que se comunicavam por “estivas” , nas áreas alagadas. Aí em Manaus existia a Cidade flutuante. Mas, as pessoas viviam com um mínimo de dignidade, mesmo na pobreza. No entanto, no presente, o PIB aumentou, mas com ele a miséria.
Desculpa tantas palavras!
O Brasil é uma colônia. Em todos sentidos. Econômico, político e geopolítico. A teoria da dependência ainda é válida desde os anos 1930.