Amazonas volta ao colapso: falta de leitos, aumento de enterros e previsão de desassistência a pacientes

Foto: Uma mulher com Covid-19 aguardou em maca atendimento na parte externa do Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto, neste sábado (2) em Manaus (AM) – Edmar Barros

O último boletim epidemiológico da FVS (Fundação de Vigilância em Saúde)
descreve o quadro de saúde do Amazonas como de “esgotamento de
leitos”, previsão de “desassistência de pacientes” em relação a
esta e outras doenças e “risco generalizado” de novas infecções em todos os municípios do estado. Os números de doentes, infecções e mortes ainda estão em crescimento. 

O boletim foi assinado no dia 31 de dezembro de 2020 pela diretora-presidente da FVS, Rosemary Costa Pinto, e foi divulgado neste final de semana.  Segundo a FVS, “a análise do risco da COVID-19 realizada no dia 30 de dezembro de 2020 aponta que o município de Manaus encontra-se no cenário de Alto risco”.

Após as festas de final de ano, o aumento de casos, que já vinha pressionando o sistema desde o período de campanha eleitoral, explodiram e apresentam registros de internações e ocupações de UTI, que não ocorreram nem no maior pico da doença em 2020, nos meses de abril e maio.

O quadro consolida a segunda onda da covid-19 no Amazonas com a reprodução da pressão sobre o sistema de saúde, agravado pelo aumento de doenças sazonais do período de chuva, também de ordem respiratória.

O  cenário, identificado a partir dos dados do relatório da FVS, é de de colapso total do sistema de saúde, incapaz – mesmo com ampliação de oferta de vagas de UTI em 128% desde setembro – de atender a multiplicação do número de pacientes em função da alta exposição da população em dezembro. 

 

Recorde de internações

Neste domingo, dia 3, foram hospitalizadas 159 pessoas  nas unidades públicas em Manaus, o que, segundo a Secom (Secretaria de Estado de Comunicação), é o recorde de internação em 24 horas desde o início da pandemia. Até então, entre abril e maio, o recorde havia sido de 105 internações diárias.

O estado atingiu, com isso, 1.338 pacientes internados pela doença. Segundo o vereador e farmacêutico Marcelo Serafim (PSB), o máximo de pacientes internados foi de 1.438, em maio. Na ocasião, o estado contava com dois hospitais de campanha. 

 

Enterros aumentaram

Antes mesmo dos picos de internações, os números de enterros em Manaus mais que dobraram em dezembro e continuam a subir neste início de ano.  Foram 76 no sábado, dia 2, e 72 neste domingo, dia 3. A média antes da pandemia, segundo a Prefeitura de Manaus, era de 30, 33 sepultamentos.

Até o dia 12 de dezembro, a média de enterros estava em 35. Na semana seguinte, a média de enterros havia aumentado para 41,5 sepultamentos diários. Na semana que se encerrou no dia 26 de dezembro a média foi de 44,7 sepultamentos.

Nos três últimos dias do ano, o número de casos confirmados ultrapassou mil casos diários, o que potencializa os vetores de transmissão da doença e a possibilidade de aumentarem as infecções e a quantidade de pessoas que buscam atendimento e que agravam.

Com o sistema de saúde lotado, doentes de covid-19 ou de quaisquer outras doenças ficarão sem atendimento. Os hospitais particulares de Manaus também mantém nas suas redes sociais informes acusando lotação máxima atingida e pedindo para que as pessoas parem de circular para evitar aumento de número de doentes em Manaus. 

O colapso do sistema de saúde já é possível perceber pelos relatos de profissionais da saúde, sobrecarregados, e pelos familiares que deixam as unidades de saúde sem atendimento. 

O boletim da FVS estimou, no dia 31 de dezembro, o esgotamento de leitos de UTI em dois dias: Ou seja, há dois dias:

“Nesta data, a taxa de ocupação de leitos de UTI é de 83,3%, a ocupação de leitos clínicos destinados a pacientes com COVID-19 é de 69,1% e, de acordo com o algoritmo que estima o esgotamento do número de leitos, a previsão é de ocupação de todos os leitos disponíveis em 2 dias, caso a taxa de internações permaneça na atual velocidade de crescimento”, informa trecho do boletim.

Em outro trecho, a FVS indica que as festas de final de ano e o descuido da população com as medidas de proteção são as responsáveis pelo colapso do sistema, tendo como consequência a desassistência de pacientes.

“Com o período festivo no final do ano, espera-se um incremento nas taxas de transmissão da doença, o certamente poderá resultar em uma grande pressão e sobrecarga sobre a rede de saúde pública e privada do Estado, com consequente desassistência, não apenas aos pacientes com COVID-19, mas também aos outros casos de SRAG, doentes crônicos e vítimas de causas externas”.

Na última semana, passou a circular na mídia imagens de pacientes aglomerados em corredores e em locais antes de circulação de pessoas e funcionários sem a estrutura necessária para o tratamento. Filas de espera e aglomerações de familiares nas portas da unidades de saúde. 

Neste domingo, o Governo do Amazonas divulgou medidas para “remanejar” profissionais e criar recursos humanos na intenção de abrir novos leitos de UTI. Segundo o governo, a meta é abrir 60 leitos “nas próximas horas”.

A distribuição de novos leitos indica 13 leitos de UTI no Instituto da Mulher Dona Lindu, 13 no Hospital de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), 15 leitos no Hospital Beneficente Português, oito no Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), seis na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon) e cinco na maternidade Ana Braga.

A medida de criar leitos de UTI covid em maternidades sofre críticas por parte do Sindicato dos Médicos e infectologistas.

 

Aceleração de casos no interior

Os dados da FVS sobre o interior também mostra que há aceleração de registros de casos no municípios, o que amplia a necessidades de vagas em hospitais. 

“Os dados dos 61 municípios do interior demonstra uma situação de risco generalizado no Estado, com registros de crescimento em todas as regiões de saúde. Todos os municípios da Região Metropolitana de Manaus registram crescimento de casos e óbitos nos meses de novembro e dezembro”, informa outro trecho do boletim.

Segundo o relatório da FVS, “todos os municípios da Região Metropolitana de Manaus registram crescimento de casos e óbitos nos meses de novembro e dezembro”.

De acordo com o estudo ODS Atlas Amazonas Covid-19, realizado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas), considerando casos de óbito em dezembro, a situação mais crítica no interior é nos municípios de Tonantins, Fonte Boa, Boca do Acre, Maraã, Codajás e Jutaí.  Ainda segundo o estudo da Ufam, 60% dos municípios do interior do Amazonas apresentam elevação nos índices da Covid-19 desde dezembro.

 

Eleições e festas de final de ano

De acordo com o relatório da FVS, o aumento da ocupação de leitos na rede público foi retomado a partir de setembro, data que coincide com o período de campanha eleitoral.

Em paralelo, o Governo do Amazonas foi reativando leitos de contingência para dar conta da demandas. Mas a explosão de casos em dezembro fez com que chegasse ao fim a reserva para internação de pacientes.

“Em setembro haviam 90 leitos de UTI destinados a pacientes com COVID-19 na rede pública do Estado. Atualmente são 192 leitos de UTI, o que representa uma ampliação de 128% no número de UTI. Apesar disso, o estado enfrenta situação crítica, com uma ocupação de 91% dos leitos de UTI”.

 

 

Infectologista alerta para segunda onda da covid no Amazonas: “mais grave que a primeira”

http://www.rosiene.blog.br/covid-19-matematico-defende-testes-por-amostragem-para-reabertura-segura-no-am/

http://www.rosiene.blog.br/covid-destroi-sistema-de-saude-do-amazonas-afirmam-new-york-times-associated-press-e-washington-post/