Ao professor Osvaldo Gomes Coelho (*30/11/1936 – +30/04/2020) – in memoriam


Foto: Professor Oswaldo Coelho (Adua)

* José Alcimar Oliveira

Nesses tempos de desolação sinto-me triste, tomado de indignação  e de  angústia por não poder me despedir do meu velho amigo e professor Osvaldo Coelho, hoje subtraído ao nosso convívio.

Em 1980 fui seu aluno no Curso de Filosofia da Universidade do Amazonas. A partir de 1986 fui seu colega de docência no Departamento de Filosofia. Professor Osvaldo é egresso da primeira turma do Curso de Filosofia, criado em 1961.

Foi um dos fundadores de nossa ADUA veia de guerra em 1979 e seu primeiro presidente. Em 1982, na primeira eleição direta para governador, concorreu pelo Partido dos Trabalhadores ao governo do Estado  do Amazonas.

Aposentado do Departamento de Filosofia em 1991, continuou ativo na militância social. Era uma presença permanente nas assembleias da ADUA e suas intervenções ecoavam para muito além dos espaços acadêmicos.

De perfil calmo, comedido, caboclo do Solimões, feito de sabedoria e de refinada e silenciosa desconfiança, quando tomava a palavra parecia se transfigurar pela força socrática de um dáimon interior. Era o Decano dos militantes.

Por diversas vezes nós, participantes do MEC – Movimento Educar para a Cidadania -, Michiles, Mena, com a presença do Comandante Aloysio quando lhe era possível, e eu, nos reunimos no Auditório da ADUA, às tardes de quarta-feira, sob a coordenação do nosso Decano Osvaldo Coelho, para discutir temas de relevância coletiva.

Em várias ocasiões, em que por força do temperamento dos  companheiros Mena e Michiles a discussão se exaltava, era o nosso Decano Osvaldo que pacificava os ânimos, embora fosse dele as intervenções mais contundentes e aguardadas.

Compensava a gradativa perda visual com as luzes da sabedoria militante e filosófica.

Conhecia como poucos os mistérios da alma cabocla amazônica, tanto quanto os grilhões da miséria e a arrogância financeira da baixa política que até hoje continuam a parasitar e subalternizar a classe trabalhadora.

Por isso, era um irredento e nunca fez concessões aos dominantes. Suas palavras seguirão ecoando entre os que seguem na grande luta. Seu nome já está impresso no Memorial dos que, no presente, se recusam a entregar o futuro aos inimigos de classe.

Como dizia o mestre Brecht: se o que foi abatido não lutou sozinho, o inimigo ainda não pode proclamar vitória. Companheiro OSVALDO, Presente!

Do seu amigo José Alcimar de Oliveira, professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas e filho dos rios Solimões e Jaguaribe. Em Manaus, AM, aos 30 de abril  do ano coronavirano de 2020.