
Não entendo como formadores de opinião e autoridades conseguem dar conotação de comemoração e êxito ao episódio que terminou com 17 mortos no Crespo na madrugada desta quarta-feira, dia 30.
Segundo informações da SSP-AM (Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas) e das famílias que conversaram com a imprensa no IML (Instituto Médico Legal), metade dos mortos tinha até 23 anos, sendo que pelo menos três eram adolescentes de 17, 16 e um de apenas 14 anos.
Se a grande política para a juventude no Estado do Amazonas é encarceramento e execução, há lógica neste raciocínio.
O problema é que o episódio exibe, mais uma vez, uma grande falência das instituições e aponta o quanto avança a crime organizado e a escalada de violência em Manaus. Enquanto isso, o estado gasta recursos públicos em publicidade de insistentes tentativas de governos em evidenciar números e registros de diminuições de homicídios e apreensões de armas e drogas como indicativo de controle da segurança pública.
Discurso
Além das declarações do secretário de Segurança, Louismar Bonates, de que polícia não mata, mas intervém tecnicamente e que quem vai chorar serão as famílias de quem atira, o governador Wilson Lima (PSC) disse que não irá sossegar enquanto a população não se sentir segura logo após 17 mortes. O que eles quiseram dizer com isso? O que autorizam com este tipo de posicionamento?
Louismar Bonates foi questionado, durante a coletiva, se temia represálias e respondeu:
“Não estamos preocupados com represálias. Não tem por que ter represálias. Não fizemos nada irregular. São marginais que estão trazendo intranquilidade para a população. Estamos muito tranquilos quanto a isso”.
Fiquei com a impressão que o secretário entendeu a pergunta no campo político e não no campo da segurança pública.
Dentro do campo político faz sentido. Afinal, o MP-AM (Ministério Público do Amazonas) divulgou que o atendeu dentro da sede numa sala com ar-condicionado e não se fez presente ao lados das famílias.
Os direitos humanos de instituições como a OAB- AM (Ordem dos Advogados do Brasil, no Amazonas) e a ALE-AM (Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas) não se manifestaram. Se esses órgãos se mobilizam e criticam a ação, haveria uma repercussão negativa para o governo.
Porém, no campo da segurança pública, há um clima de temor à revanche. E não é de se estranhar que a população e familiares de policiais sintam isso. Não seria a primeira vez que “confrontos” assim desdobrassem em outros episódios violentos.
Há vários lados que constatam alívio por policiais saírem ilesos, mas que consideram o episódio “incomum” e temem novos registros de violência e que inocentes, em comunidades e entre os policiais, sofram as consequências.
Dados
Segundo a polícia, os 17 mortos são ligados à fação criminosa e foram mortos durante confronto com a PM-AM (Polícia Militar do Amazonas), que foi acionada pela população durante uma disputa por área de tráfico de drogas entre grupos rivais nos becos e vielas do Crespo.
Na matéria do jornal Folha de São Paulo sobre o caso, moradores do local indicam que um dos mortos não tinha envolvimento e era o adolescente de 14 anos.
Segundo o último relatório do Infopen, divulgado pelo Ministério da Justiça em dezembro de 2017, o Amazonas está entre os seis estados com maiores índices de jovens na população carcerária: 6 em cada 10 presos são jovens.
O relatório do Ministério da Justiça destacou que 40% da população carcerária do Estado do Amazonas é formada por pessoas com idade entre 18 e 24 anos. O percentual do País, para esta faixa etária, é de 30%.
Outro dado, que foi matéria publicada pelo UOL quando o relatório foi divulgado, é que a população carcerária do Amazonas é formada por homens e mulheres de baixa escolaridade: 87% dos presos não completaram o ensino médio. A maioria dos presos, 65% deles, não completou o Ensino Fundamental.
Lista com os mortos confirmados pela SSP, até agora:
- Bruno Cardoso Lopes, 23 anos.
- Markleuson Batista da Silva, 18 anos.
- Max William Sampaio da Silva Cavalcante, 29 anos.
- Michel dos Santos Cardoso, 27 anos.
- Alexsandro Custódio de Carvalho, 16 anos.
- Erick Osmarino Silva Santos, 17 anos.
- Lucas da Costa Pereira, 21 anos.
- Eder Júlio Canto Costa Junior, 20 anos.
- Aldair Campos Nascimento, 21 anos.
- Vinicius Eduardo Souza da Silva, 21 anos.
- Natanael Costa Melo, 20 anos.
- 12. Samuel Pinheiro Campos, 23 anos.
Foto: Divulgação
Essa falência não é de hj. O Estado todo falha, pois você não vê uma única politica pública em processo de instalação. É sempre mais do mesmo. Pequenas e irrevelantes ações pontuais, quando têm.
Quem não está fazendo sua parte é a secretaria de ação social, tanto do município como do Estado, junto com a falta de politicas públicas de outras áreas, como a de trabalho, de esporte, cultura, abastecimento etc…
A morte seja de bandido ou de policial, nunca será motivo de júbilo. Seria voltarmos à época da barbárie humana. Mas, passou da hora de outros segmentos da sociedade cobrarem dos administradores ações eficazes no combate às mazelas de todos nós. Do jeito que vai, muitas lágrimas ainda vão rolar.