
Após depoimento chave do ex-secretário executivo da Susam (Secretaria de Estado de Saúde), João Paulo Marques, à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Saúde quer descobrir e convocou para depoimento a consultora de imagem Carla Pollake. Ela foi citada pelo ex-secretário como a comandante da reunião que apresentou aos funcionários do segundo escalão e técnico da Susam a nova secretária, Simone Papaiz.
João Paulo disse que não sabia se ela era secretária, assessora ou “fantasma”.
Para a CPI, o depoimento de João Paulo era chave por ter sido citado nos depoimentos anteriores como agente no processo de compra de respiradores suspeito de fraude e superfaturamento. Os deputados afirmam que João Paulo era o condutor do processo, que consideram fraudado, na tentativa de convencer outros funcionários a assinarem papéis para convalidar o negócio com o governo.
A notícia virou destaque nacional na imprensa indicando que o Amazonas comprou respiradores inadequados com sobrepreço em loja de vinhos, em plena pandemia e crise do sistema de saúde.
Na tentativa de extrair no depoimento de João Paulo informações sobre quem dava as ordens no governo e na Susam durante a pandemia, os membros da CPI foram surpreendidos com a declaração de que a comunicação sobre a troca de secretários na pasta da Saúde foi feita numa reunião na sede do governo, mais precisamente na Casa Civil, comandada por Carla Pollake.
A declaração de João Paulo suscitou alerta para um dos mistérios sobre o que ocorreu na administração pública do Amazonas num dos momentos de maior caos: como a atual secretária Simone Papaiz chegou ao cargo e quem a indicou ao Governo do Amazonas?
João Paulo disse que no dia 8 de abril, data em que foi fechado o contrato com a FJAP para a compra dos 28 respiradores suspeitos de superfaturamento, ele deu a assinatura dele no processo de forma remota porque estava na Casa Civil. FJAP é a mesma fornecedora da loja de vinhos, que forneceu o produto ao governo.
O ex-secretário disse que estava na Casa Civil por ter sido convocado, assim como outros funcionários de segundo escalação e técnicos da Susam, para ser apresentado à nova secretária Simone Papaiz numa reunião na Casa Civil. A troca na Susam foi anunciada, em coletiva, pelo governador Wilson Lima (PSC) no mesmo dia.
Ao ser questionado sobre quem o chamou para a reunião, João Paulo disse ter sido “Carla Polack”. O ex-secretário afirmou que a reunião foi no ambiente da Casa Civil, mas que nem o governador e nem o vice-governador e então chefe da Casa Civil, Carlos Almeida Filho, estavam presentes.
O ex-secretário executivo da Susam também disse ignorar se o chefe do Executivo e chefe da Casa Civil sabiam da reunião. João Paulo declarou à CPI não saber qual função Carla Pollake exerce no governo e sequer se é nomeada oficialmente. Disse apenas saber que ela era da “comunicação”.
“Olha, ela deve ser importante. Não estava governador, não estava o vice. Ela chama e apresenta a nova secretária? Ela fez as vezes de governadora. E para nós, todos nós aqui. Nenhum de nós deputados sabia da existência dessa mulher tão poderosa. Ela é a própria governadora do estado. Eu lamento isso. Isso é um susto para mim. Creio que para o presidente da comissão, o relator, o Dr Gomes. Eu nunca tinha ouvido falar em doutora Calra Pollake. Ela deve ser poderosa. Para ter esse poder… entrar por cima, atropela todo mundo”, declarou o deputado Serafim Corrêa ao defender a convocação da consultora de imagem citada pelo ex-secretário.
Para o deputado Serafim Corrêa, Carla Pollake representa um elo que está perdido e que é o que a CPI da Saúde busca identificar entre a fraude e o superfaturamento e os comandos dentro do Governo do Amazonas.
“Ela deve ter algum poder. Ela talvez seja um elo que está perdido e que vai trazer muitas luzes a esta comissão. Porque na hora que a gente puxar o elo, talvez venha a ligação que a gente está procurando”, declarou Serafim Corrêa.
O deputado Wilker Barreto afirmou não estar convencido sobre a declaração que João Paulo deu de ignorar a função de Carla Pollake no governo. Wilker destacou que ele era o nº 2 da Susam e que se atendeu a uma convocação de reunião de Pollake é porque sabe da função dela na cadeia de comando do Governo do Amazonas.
Campanha
Carla Pollake atuou na campanha do governador Wilson Lima, indicada por um dos grupos econômicos que o apoiou em 2018 no primeiro turno.
Ao assumir o governo, Pollake passou a ser uma das principais conselheiras de imagem e discurso do governador. Foi a consultora de imagem que conduziu as mudanças no visual de Wilson Lima, no primeiro semestre do ano passado.
As alterações, na avaliação de sua consultoria, transmitiriam confiança à população. O governador tinha acabado de ser eleito com a maior votação da história do Amazonas. Wilson passou a usar óculos, roupas sociais e também fez mudanças nos dentes. Outra alteração foi distanciamento físico da população.
Foto sorrindo no dia do caos
No dia em que o hospital referência Delphina Aziz colapsou, dia 10 de abril, e a ex-secretária de Bertioga e recém-nomeada para a Susam, Simone Papaiz, fez pose para uma foto em frente à unidade, Carla Pollake apareceu sorrindo ao lado da titular da pasta.
A foto gerou constrangimento ao governo e confusão na comunicação do governo por ter sido distribuída à imprensa no bojo dos releases que tentam massivamente transformar todos os dados em positivos. Enquanto isso, a Folha de São Paulo – um dos principais jornais do País – por meio do depoimento de médicos, noticiava que o hospital referência do Amazonas era o primeiro a colapsar durante a pandemia no Brasil.
A ex-secretária de Bertioga
A nomeação de Simone Papaiz para a Susam, na ocasião, em plena crise da pandemia, foi questionada até por aliados, como deputados da base de Wilson Lima A troca ocorreu em meio ao aumento dos casos de covid e o colapso nas unidades de saúde. O currículo de Papaiz foi alvo dos questionamentos em função de não constar nada que a aproximasse da realidade de Manaus e Amazonas.
Biomédica, Simone foi diretora de planejamento da secretária de Saúde de Mogi das Cruzes e era secretária de Saúde do Município de Bertioga, no litoral paulista.
Bertioga é um município do litoral de São Paulo, próximo a Santos, com 490, 03 quilômetros quadrados e com uma população 57.942 habitantes, segundo informações do site da CNM (Confederação Nacional dos Municípios). A cidade tem IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,730 .
Para se ter ideia das diferenças sociais e geográficas, o município de Manacapuru, um dos poucos com ligação por estrada a Manaus e o primeiro a ter explosão de casos no interior, é 14 vezes maior que Bertioga. Além de ser maior em extensão territorial, tem mais habitantes e densidade demográfica muito diferente. Enquanto Bertioga tem 109,52 habitantes por quilômetro quadrado, Manacapuru tem 12,52 habitantes por quilômetro quadrado.