Arthur acusa procurador-geral de Justiça do AM: “moleque de recado de governador e senador corruptos”

O pré-candidato ao Senado e ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto (PSDB) disparou acusações contra o procurador-geral de Justiça do Amazonas, Alberto Rodrigues do Nascimento Júnior, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), e o senador Omar Aziz (PSD), no evento de lançamento de sua pré-candidatura. As declarações foram feitas na noite desta quinta-feira, dia 25.

No discurso, Arthur Virgílio se diz perseguido pelas forças políticas do estado que infuenciam “até instituições” e seus membros contra adversários políticos. Arthur, ao se referir ao procurador-geral de Justiça, Alberto Rodrigues Nascimento Júnior, disse não ter medo nem das relações de amizade dele com “ministros” e defendeu que o procurador tenha prerrogativas cassadas porque “diminui a instiuição”.

“Aqui é um governo, Imbassahy (ex-governador da Bahia e representante do PSDB no evento), são tão poderosas essas pessoas. E há uma relação tão mafiosa, tão desonesta entre essas pessoas e até instituições que, por exemplo, eu tenho o chefe do MP-AM como um moleque de recado desse governador e desse senador corruptos, que aí ainda estão. Mas a gente vai tirá-los de lá e colocar gente decente para que a gente possa parar com essa sangria que fazem com os cofres púbicos”, declarou Arthur Virgílio.

O tucano elogiou o MPF (Ministério Público Federal) e lamentou a conduta do procurador Alberto Nascimento: “Estou muito orgulhoso do MPF, muito orgulhoso das ações permanentes da PF (Polícia Federal) que joga duro contra o tráfico, duro contra a corrupção. Aí eu vejo o procurador do MP estadual e digo: “Como o senhor faz um papel desses?”, afirmou.

Arthur Virgílio declarou que o Ministério Público não pode ser chefiado por quem tem “patrão”.

“Eu, como parlamentar, me procuraram para defender as prerrogativas do MP. Eu fui lá defender e nós conseguimos manter. E eu me pergunto: defender para quê? Para o senhor perseguir os inimigos dos seus patrões? Aprenda uma coisa, doutor Alberto, o MP tem que ser chefiado por quem não tem patrão. Quem tem patrão está baixando a cabeça e diminuindo sua instituição. Seus colegas não merecem isso”

Arthur destacou não ter medo de “amigos ministros” do procurador Alberto Nascimento: “Agora, medo do senhor, medo dos seus amigos ministros, eu não tenho medo de nada. Estou precisando ser duro porque o momento do Amazonas é muito grave”, afirmou.

Veja o video neste link.

Outro lado

O procurador-geral de Justiça e a assessoria de comunicação do MP-AM não responderam às solicitações de resposta sobre as acusações até a publicação da matéria.

O senador Omar Aziz afirmou que Arthur Virgílio é um difamador contumaz e conhecido como “boca-rota”. Omar alegou que não quer fazer da campanha da disputa pelo Senado uma baixaria e por isso não bateria boca no nível dos adversários.

A reportagem entrou em contato com o governador Wilson Lima e com a Secom (Secretaria de Estado de Comunicação), mas não recebeu respostas sobre manifestações a respeito das decarações de Arthur Virgílio.

Plínio Valério e ausências

Ao chegar no evento, Arthur Virgílio atendeu a imprensa, que foi informada que ele responderia apenas a três perguntas, permitidas a jornalistas selecionadas pela equipe dele. Esta repórter furou o bloqueio e questionou o pré-candidato sobre a permanência do senador Plínio Valério (PSDB) no partido e ele respondeu:

“Não sei. O partido nunca se fechou para alguém leal. Aqui, a pessoa não sendo ligada a essa gente, a essa gente de ‘maus caminhos’, a essa gente de morte por asfixia, a essa gente de fortunas fáceis. Quem tiver de coração e ficha limpos, venha para cá que estamos de portas abertas”, respondeu.

A reportagem procurou a assessoria de comunicação do senador Plínio Valério e não recebeu retorno se ele se manifestaria sobre as declarações do correligionário tucano até a publicação da matéria.

Sem alianças e sem “mala de dinheiro”

Sobre as alianças para a disputa eleitoral, Arthur não citou partidos e nem nomes, como já fez em suas redes sociais há poucos dias quando houve desentendimentos púbicos e disputa pelo comando do PSDB no Amazonas com o senador Plínio Valério.

Nas redes, Arthur defendeu a filiação do ex-governador Amazonino Mendes, líder das pesquisas de intenção de votos ao governo, que está sem partido, e disse que mantinha conversas com o senador Eduardo Braga (MDB). Já no discurso no palanque nesta quinta, Arthur se referiu ao antigo adversário Braga, afirmando ser “bom amigo” dele.

“Nessas alianças, se é número de gente, eles estão bem. Se a questão é ter bravura, decência e não ter a PF na porta da sua casa, aí muda de figura. Estamos com as melhores pessoas do estado, enquanto eles estão de conchavo, achando que podem comprar um, comprar outro. Eu já tenho a melhor das alianças, e para sempre, com o povo de Manaus e do Amazonas)”, disse.

No discurso, Virgílio afirmou que a ex-deputada federal Conceição Sampaio (PSDB) foi procurada pelo governador Wilson Lima e pelo prefeito de Manaus, David Almeida (Avante). Elogiou a lealdade da aliada e disse que ela não muda com proposta de “mala de dinheiro”.

Ainda falando em lealdade, Arthur Virgílio, que quando prefeito era apoiado por praticamente todo parlamento municipal, agradeceu a presença de dois vereadores (Raulzinho e Rosivaldo Cordovil, ambos do PSDB) e do deputado estadual Wilker Barreto.

O deputado Wilker se filiou ao Cidadania para concorrer a sua reeleição de deputado estadual após o Podemos, partido ao qual era filiado, migrar para o campo político do govermador Wilson Lima. Wilker era aliado de Arthur e foi presidente da Câmara Municipal de Manaus, no primeiro mandato do tucano como prefeito. Na eleição de 2018, Wilker rompeu com Arthur para apoiar a reeleição de Amazonino.

O vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida (PSDB), não compareceu ao evento e nem foi citado. Na semana passada, quando Plínio Valério e Arthur brigaram, Almeida tomou partido do ex-prefeito e chamou o senador de “Peteleco do Peteleco”. Os dois trocavam farpas quando Almeida tinha poder no governo.

Memória Boca Ratón

A família do pré-candidato a senador foi alvo de uma operação por parte do MP-AM no último mês dos oito anos de mandato. No dia 18 de dezembro de 2020, o MP-AM deflagrou em Manaus a operação Boca Ratón, que teve como alvo a enteada de Virgílio, o marido dela e a esposa do tucano, a ex-primeira-dama Elisabeth Valeiko. Foram cumpridos, na ocasião, 20 mandados de busca e apreensão e 11 mandados de buscas pessoais em endereços residenciais e comerciais ligados à família. A operação investiga corrupção, tráfico de influência e lavagem de dinheiro.

Arthur Virgílio e a família negam a acusação e alegam perseguição política, no caso.

Caso Flávio

A família do pré-cadidato também foi investigada por envolvimento no assassinato do engenheiro Flávio Rodrigues, em setembro de 2019. O engenheiro foi assassinado ao participar de uma festa na mansão da família na Ponta Negra durante uma festa regada a álcool e cocaína. A estrutura da gestão de Arthur Virgílio na cena do crime só passou a ser investigada pela MP-AM um ano depois do crime. Uma semana antes do MP publicar que havia aberto um inquérito para a questão, matéria do site UOL destacou a omissão do órgão na investigação sobre um carro e um funcionário da prefeitura estarem envolvidos no assassinato do engenheiro.

Nesse caso, Arthur Virgílio também nega as acusações sobre a família. Logo após o assassinato, Arthur apresentou sua versão para o crime apontando envolvimento do engenheiro com o tráfico de drogas e pediu fim das suspeitas sobre o enteado Alejandro Valeiko. Após ser desmentido, o ex-prefeito declarou numa coletiva que o caso era com a justiça. Ao final da investigação, o MP-AM envolveu Alejadro entre os acusados, mas por omissão e não por execução do assassinato. O juiz do Tribunal do Júri, Celso de Paulo, em setença, decidiu não levar Alejandro ao júri popular sustentando que o MP não apresentou elementos suficientes contra ele. A decisão foi tomada no ano passado.

Memória Maus Caminhos

A operação Maus Caminhos iniciou em 2016 e acusa o alto escalão do Governo José Melo, incluindo o próprio ex-governador, de participação num esquema de corrupção e crimes que envolvem o desvio de recursos federais da Saúde do Amazonas. De acordo com o MPF-AM, as ações judiciais apresentadas à Justiça Federal contabilizavam, em dezembro de 2018, mais de R$ 82 milhões em desvios de recursos públicos da saúde do Amazonas

O senador Omar Aziz foi alvo de operações policiais. Em 2019, chegou a sofrer busca e apreensão em sua casa, teve o passaporte apreendido e foi acusado por uma delatora de ter relação com o chefe do esquema, o médico e empresário Mouhamad Moustafá.

No mesmo ano, uma investigação sigilosa da Polícia Federal apontava que recursos da Saúde foram desviados para beneficiar Aziz. A PF o indiciou por lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa. Em julho de 2019, a mulher e três irmãos de Aziz chegaram a ser presos pela PF, mas foram soltos na sequência. Advogados dos acusados alegaram incompetência do MPF porque os recursos eram estaduais e o caso foi encaminhado à justiça estadual e aos cuidados do MP-AM.

O senador nunca foi denunciado e sempre negou todas as acusações.

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