
O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), mirou o coordenador da bancada do Amazonas e ex-aliado, o senador Omar Aziz (PSD), e o deputado federal Silas Câmara (PHS) no discurso da abertura da 1ª FesPIM (Feira de Sustentabilidade do Polo Industria de Manaus), nesta quarta-feira, dia 27.
Arthur Neto foi descortês com o governador Wilson Lima (PSC) durante o evento e isso não é algo que se possa chamar de novo e nem inesperado. Há meses a relação pública do tucano com o grupo político que elegeu Wilson Lima é de guerra declarada.
Mas o discurso de Arthur Neto pró-Bolsonaro revelou azedume em relação ao aliado da eleição passada, o senador Omar Aziz.
Ao elogiar o “critério técnico” que o presidente Bolsonaro elegeu ao escolher coronel Alfredo Menezes para a Suframa, Arthur mirou o ex-aliado e o deputado federal Silas Câmara (PHS).
Omar e Silas são apontados no meio político como os responsáveis pelas indicações à Suframa que precederam o Governo Bolsonaro.
“Capitanias hereditárias, não!”
“Aqui, cada político, se achava no direito de indicar alguém para algum lugar. Isso acabou. É preciso deixar isso num passado bem distante (…) O coronel Menezes foi muito bem escolhido. O fundamental era: capitania hereditária, não! Opinião de deputado, senador, prefeito, governador não deve valer absolutamente nada quando se trata de fazer indicação para cargo da Suframa. Não se deve fazer isso. Isso deve ser proibido daqui para frente e o exemplo foi dado no governo de vossa excelência”, declarou Arthur.
Bolsonaro aplaudiu e elogiou
No momento desta fala, o presidente Jair Bolsonaro aplaudiu o prefeito Arthur Neto e, no discurso, destacou esta afirmação do tucano com elogios.
Bem-me-quer, malmequer
Arthur Bisneto, filho do prefeito, foi vice de Omar nas eleições ao governo, em 2018, quando o senador saiu das urnas com apenas 8,07% dos votos válidos.
Em 2017, Arthur e Omar se uniram e apoiaram Amazonino Mendes na eleição tampão ao Governo do Amazonas. Em 2016, romperam e trocaram farpas em plena eleição para a Prefeitura de Manaus. Arthur se aliou a Braga, vencendo a eleição.
Em 2015, estavam juntos apoiando José Melo ao Governo do Amazonas.
Hábil
No discurso na Fespim, Arthur iniciou a fala com sutil tom da preocupação com o meio ambiente – o calcanhar de aquiles do presidente-; elogiou Bolsonaro em relação à ZFM e cobrou infraestrutura para o modelo; e terminou com uma linha parecida a do presidente: radicalização e negação da política, assumindo como verdadeira a versão de que o coronel Menezes seria uma indicação técnica.
Indicação política
Menezes é indicação política do presidente Bolsonaro para a Suframa. O ministro da Economia, Paulo Guedes, revelou isso, na primeira reunião do CAS, em julho.
O coronel não tem formação nas áreas que envolvem o funcionamento e interesses da ZFM, fica limitado na atuação quando os ataques ao modelo partem de Paulo Guedes, tem filiação partidária e se movimenta na articulação política para a escolha do candidato do presidente a Prefeitura de Manaus, em 2020.
E o grande problema não é a indicação política e, sim, o que elas fazem a favor e contra a ZFM e o Amazonas no cargo.
Deu perdido
Arthur Neto foi descortês com o governador Wilson Lima em dois momentos do evento público no espaço que cabia às autoridades na abertura da 1ª FesPIM.
A primeira foi quando terminou o seu discurso. Ao sair do púlpito, o governador Wilson Lima se levantou para cumprimentá-lo e ele o ignorou, se adiantando a pegar nas mãos do presidente Bolsonaro.
A segunda foi, ao final do discurso do governador. Arthur se levantou justamente no momento em que o governador faria o cumprimento de mãos com cada uma das autoridades. O tucano levantou para bater um papo com a pessoa que estava sentada atrás dele.
Wilson, então, acenou cumprimento à primeira-dama de Manaus, Elisabeth Valeiko que, por sua vez, virou o rosto para o governador.
Pedalada
Trecho do discurso de Arthur Virgílio Neto também foi interpretado como torpedo para o governador Wilson Lima. Arthur disse que a gestão dele é responsável com os recursos públicos, está equilibrada fiscalmente e que não comete pedaladas.
“Manaus é a cidade mais equilibrada fiscalmente deste País. Manaus tem a melhor previdência publica, a mais equilibrada deste País. Não é Manaus que dá prejuízo a este pais. Ao contrário. Manaus tem se comportado com correção Não faço pedalada. Não faço brincadeira com dinheiro público. Manaus se dá ao respeito”, declarou.
O Estado do Amazonas enfrenta grave crise financeira em função da ultrapassagem, por dois quadrimestres seguidos, do limite máximo do gasto com pessoal. O Governo Wilson Lima não fez cortes que revertessem o quadro ao longo do ano e, agora, alterou a data de pagamento dos servidores.
A mexida criou a expectativa que o governo possa “driblar” o terceiro quadrimestre seguido do rompimento do limite máximo. Alguns chamam a medida de “contabilidade criativa”. Outros de “pedalada”.
Outro lado
A reportagem procurou a assessoria de comunicação do senador Omar Aziz para saber se ele se manifestaria sobre o assunto. A resposta foi que o senador não irá comentar nada a este respeito.
A Secom (Secretaria de Estado de Comunicação) informou que o governador não iria comentar sobre a forma como o prefeito o tratou no evento.
A reportagem também tentou ouvir o deputado Silas Câmara, mas as mensagens não foram respondidas até o fechamento desta matéria.
Ouça a coluna de polícia da BandNews Difusora (93.7), desta quinta-feira, dia 28, neste link: