
O advogado e empresário Luís Felipe Belmonte dos Santos, principal operador político do Aliança pelo Brasil, o partido que está sendo criado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, declarou que lançar candidatura à Prefeitura de Manaus é simbólico e estratégico.
“Eu considero que participando das eleições, nós teremos algumas áreas estratégicas. (…) Eu entendo que o Amazonas, Manaus principalmente, é emblemático, que é uma região de grande riqueza”, declarou em entrevista ao blog ao responder pergunta sobre candidatura à Prefeitura de Manaus.
Questionado se a disputa pelas eleições municipais continuarão sendo vistas do mesmo jeito, caso o partido não consiga se legalizar, Belmonte disse considerar duas questões: que a região é estratégica independente da eleição e que outras eleições virão.
Após a eleição municipal em 2020, haverá a eleição de 2022 em que o presidente Jair Bolsonaro deve disputar a reeleição.
“A região é estratégica, independente da eleição. Porque outras virão, né? Então, acho que merecerá atenção”, declarou.
Em viagem pelo País, para mobilizar lideranças locais que ajudam na criação do partido do presidente Bolsonaro, Belmonte é apontado pela mídia nacional como o nº 3 da sigla, atrás apenas do próprio presidente e do filho dele, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido – RJ).
Em entrevista ao blog, Belmonte destacou como pilares do Aliança pelo Brasil, “Deus, família e nação” e disse se considerar um “conservador equilibrado”. O empresário defendeu a pacificação do Brasil ao mesmo tempo em que repetiu frases da linha considerada mais radical da direita.
Na entrevista, ele fala suas opiniões a respeito da direita e da esquerda do País, sobre as chances de legalizar o partido para as eleições municipais deste ano e diz que Manaus deve receber atenção.
A entrevista foi concedida na quinta-feira à tarde, dia 23, após uma reunião e almoço com lideranças de movimentos de direita em Manaus e do interior do Amazonas.
Na agenda do nº 3 do partido do presidente, em Manaus, apenas dois políticos: o superintendente da Suframa, Coronel Alfredo Menezes, e o presidente da ALE-AM (Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas), Josué Neto (PSD).
O advogado também teve encontro, na visita de um dia à capital do Amazonas, com membros do TJ-AM (Tribunal de Justiça do Amazonas), Marinha, Exército, Aeronáutica e Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas).
Sobre Belmonte
A mídia nacional identifica Belmonte como um milionário, filiado ao PSDB, que, em 2018, fez doações para campanhas, entre as quais de candidatos do PCdoB. Ele é marido da deputada federal Paula Belmonte (Cidadania – DF)
Belmonte é suplente do senador Izalci Lucas (PSDB-DF). Segundo matéria publicada pelo Estado de São Paulo em dezembro do ano passado, o senador é cotado para a Esplanada, o que abriria portas para o exercício do mandato por parte do articulador político do Aliança.
Outra característica de Luís Felipe que chamou atenção na imprensa, quando o nome dele surgiu no entorno do presidente Bolsonaro foi em relação ao exercício de sua religiosidade. A Revista Veja destacou que Luiz Felipe foi coroinha na Igreja Católica, que frequenta cultos em igrejas evangélicas e também é adepto da União do Vegetal, uma religião de orientação cristã e reencarnacionista que faz uso do chá de ayahuasca.
Foto: Joel Arthur
Leia a entrevista concedida com exclusividade ao blog, na íntegra:
Quando você fala hoje o que é ser político de direita, podemos dizer que são aquelas pessoas que são conservadoras.
Rosiene Carvalho (RC): O que é ser um político de direita?
Luís Felipe Belmonte: Essa questão de esquerda, direita é um entendimento que vem da Revolução Francesa e que tem uma conotação diferente do que se tem hoje. Era a nobreza, os representantes do povo que se reuniam para tomar as decisões. Com o advento do marxismo, passou a se atrelar essa questão de esquerda a pessoas da área socialista, do proletariado. E a direita seriam as elites. Só que eu acho que este conceito é um pouco impreciso hoje em dia. Quando você fala hoje o que é ser político de direita, podemos dizer que são aquelas pessoas que são conservadoras. E quem são os conservadores? São aquelas pessoas que prezam aquelas raízes, os princípios básicos de uma cultura. Então, na medida que temos esses preceitos do partido Aliança pelo Brasil como Deus, a pátria e a família, nós temos um grupo conservador. E esse grupo é colocado de direita. Veja bem que na própria Bíblia, nos evangelhos, as orientações são: quem está sentado à direita de Deus pai, a destra. Então, ficou meio que convencionado de que há esse conservadorismo. Conservador não significa atraso, significa manutenção das raízes. Atribuo àquelas pessoas que querem manter as raízes, a cultura.
Então, acho que é importante, que é fundamental para uma nação que a gente, de alguma forma, trabalhe com pacificação. Agora, é claro, algumas ideias serão combatidas de forma muito incisiva.
RC: A qual perfil de direita, que se tem no mundo hoje, o senhor se considera mais atrelado? Com qual há maior afinidade do partido que está sendo criado?
Luís Felipe Belmonte: Em todos os segmentos e estruturas de pensamento, você tem pessoas moderadas e as mais radicais. Isso você vai encontrar na chamada esquerda e na chamada direita. Então, as pessoas se envolvem com níveis diferentes de intensidade. Eu me considero uma pessoa com princípios de uma forma equilibrada. Até porque, quando você encontra um ponto de equilíbrio, você começa a unir as convenções e os entendimentos. Então, acho que é importante, que é fundamental para uma nação que a gente, de alguma forma, trabalhe com pacificação. Agora, é claro, algumas ideias serão combatidas de forma muito incisiva. Todas as considerações de ideologia de gênero, ideologização de determinados princípios, em faculdades e escolas, claro que isso não é admissível. Temos que defender a liberdade. Aí, falam que o Estado é laico. Sim, ele é porque não impõe a ninguém a obrigatoriedade de uma religião ou filosofia. Mas isso não significa que não possa haver um pensamento cristão nos governantes. E as nossas crenças são o que guiam nossas condutas. Assim como se respeita o ateu, se devia respeitar também o religioso. Mas feliz é a nação que tem pessoas que tem a Deus a frente e possa com este princípio nortear a conduta deste País.
Há um princípio que é o princípio da moralidade pública. Isso pode ser exercido por quem tem pensamento à direita e quem tem pensamento à esquerda. Moralidade não é um atributo específico de um lado.
Eu tenho dito que não defendo a nova política, eu defendo a política de raiz, a original.
RC: Na sua opinião, o que aproxima e o que distancia esquerda e direita no Brasil?
Luís Felipe Belmonte: Eu acho que uma coisa que todos devem ter é se unir em torno de princípios. Há um princípio que é o princípio da moralidade pública. Isso pode ser exercido por quem tem pensamento à direita e quem tem pensamento à esquerda. Moralidade não é um atributo específico de um lado. É um princípio, de honestidade. Você têm pessoas que vão para a política para se servir da política. E você têm pessoas que vão para servir à sociedade. Isso também não tem lado. Eu tenho dito que não defendo a nova política, eu defendo a política de raiz, a original. A da Grécia, onde ela surgiu. O que é política? É cuidar do polis, cuidar da cidade. É pensar na sociedade. É pensar em servir aquele grupo de pessoas que vive na sua comunidade. Todas as pessoas que trabalham sem intenção de projetos pessoais de poder, essas pessoas acumulam o mesmo sentimento, de fraternidade, solidariedade e prestação de serviço. Eu vou dar um exemplo, estive na Rússia e entendi como foi a experiência da União Soviética. Se tínhamos quatro pessoas: um tinha 4 vacas, outro 10, outro 6 e outro nenhuma, o que o governo fez? Desapropriou tudo, criou uma cooperativa e essa cooperativa passou a ser dona de tudo. Quem tinha 10 não tinha mais interesse em produzir porque não seria dele. E aquele que nunca produziu, menos ainda. Mérito é uma coisa que diferencia. Igualdade de oportunidades, sim, concordamos. Mas não vamos gerar coisas artificiais. Mérito cada um tem o seu.
Mérito é uma coisa que diferencia. Igualdade de oportunidades, sim, concordamos. Mas não vamos gerar coisas artificiais. Mérito cada um tem o seu.
RC: Como o senhor avalia esse discurso mais extremistas, nos dois lados, que demonizam o adversário? Isso serve para o País?
Luís Felipe Belmonte: Eu sou um religioso. E defendo os princípios de fraternidade cristã. Esses dias, ouvi o presidente Bolsonaro falando uma coisa: que é importante defender Deus e a família, mas não vamos ser contra as pessoas que pensam diferente porque eles passaram a vida sendo ensinado que aquilo era o certo. Temos que compreender. Compreender não significa aceitar, concordar. Acho que aquele que se diz cristão deve ter um princípio de fraternidade e não de atacar as pessoas. Agora, é óbvio, ninguém vai ser atacado e ficar calado. Outro dia uma pessoa falou que o presidente anda atacando a imprensa. Ele não anda atacando, ele anda se defendendo de ataques. Agora, as pessoas acham que podem falar o que bem entendem e ficar sem resposta nenhuma. Eu acho que combater ideias é válido. Agora, combater as pessoas, não, porque temos que procurar uma convivência fraterna e minimamente pacificada.
Acho que aquele que se diz cristão deve ter um princípio de fraternidade e não de atacar as pessoas. Agora, é óbvio, ninguém vai ser atacado e ficar calado.
RC: O senhor acha que a direita permanece por quanto tempo no poder no Brasil?
Luís Felipe Belmonte: A continuar o rumo que estamos tendo de desenvolvimento da economia, de liberdade de iniciativa, de desenvolvimento do País, a tendência é que isso seja algo que se mantenha. Não necessariamente como esse nome “direita”, mas principalmente com as propostas conservadoras, que é a conservação das conquistas e raiz da nossa cultura.
A reeleição do presidente Bolsonaro hoje, com o quadro que nós temos é quase um consenso
RC: O senhor acha que fica por quanto tempo?
Luís Felipe Belmonte: Olha, eu acho que a reeleição do presidente Bolsonaro hoje, com o quadro que nós temos é quase um consenso, mesmo na área de oposição, se não houver nenhuma mudança significativa, ele deverá ser reeleito. E acredito que um próximo mandato, depois da reeleição, tenha fortes possibilidade de ser mantido. Mas, veja, isso são fatores que ainda dependem de um futuro incerto. Muitas das vezes está caminhando muito bem e numa esquina acontece algo diferente. É uma tendência até cíclica do País. Entra um governo, com 20,30 anos, entra outro. Mas, se tiver princípios bem definidos, isso não será um ciclo de lados e sim de evolução.
RC: Quais trocas políticas e administrativas o Aliança está disposto a fazer?
Luís Felipe Belmonte: Não entendi, quais as …?
RC: Trocas.
Luís Felipe Belmonte: Não. O presidente não trabalha com questão de cargo e ocupação, ele defende ministérios técnicos. Então, não é o fato da criação do Aliança que vai gerar modificações ou mudanças no sistema de governo. Claro que pontualmente, uma coisa ou outra, pode ser que ele faça. Mas não será algo para prestigiar o partido como um todo. Ele vai procurar dar sustentação ao governo. Tenho muita confiança que na Eleição de 2022 nós teremos uma bancada muito forte, na Câmara e no Senado. O partido Aliança pelo Brasil não está sendo criado para as próximas eleições, mas para as próximas gerações.
Confio que em mais duas, três semanas, a gente consiga completar a exigência em 100% e mais além. Queremos ter uma certa sobra.
RC: Quais as chances reais do Aliança pelo Brasil participar das Eleições 2020 com candidaturas próprias?
Luís Felipe Belmonte: Começamos no dia 20 de dezembro. De lá, até o dia 10 de janeiro, mesmo em época de festejos, conseguimos cerca de 150 mil apoiamentos. Hoje, eu diria que temos algo em torno de 60% destes apoiamentos. Confio que em mais duas, três semanas, a gente consiga completar a exigência em 100% e mais além. Queremos ter uma certa sobra.
RC: Qual sua opinião sobre o polo industrial de Manaus?
Luís Felipe Belmonte: Eu vim morar em Manaus, em 1968. Muito próximo da criação da ZFM (Zona Franca de Manaus). De lá para cá, a gente viu o tanto que isso contribuiu para o desenvolvimento do Estado. Considero que foi realmente relevante para a integração do Amazonas ao País. Claro, que outras medidas ainda precisam ser desenvolvidas. Eu entendo que isso deve ser valorizado e mantido. De forma que a gente mantenha o crescimento desta região do País.
Não estamos criando um partido para as próximas eleições e sim para as próximas gerações.
RC: É comum, em época de eleição, candidatos a presidente pedirem votos aqui prometendo proteger a ZFM. Neste momento de criação do partido, o senhor acha possível colocar no regimento interno um compromisso com este modelo industrial que é a base da sustentação da economia no Amazonas?
Luís Felipe Belmonte: Eu acho que não mais de inclusão no estatuto e documento da carta de princípios. Porque eles já foram elaborados. Mas eles falam também no desenvolvimento industrial, sustentável. A partir do momento que o partido for criado, vamos ter que setorizar as diversas áreas de atuação da esfera política industrial e econômica. Há, inclusive, pedidos de pessoas, que eu considero justo e que deve ser atendido, de que se tenha uma área do partido destinada aos estudos sobre a região Norte. Dentro disso, teremos oportunidade de analisar quais as necessidades da região e defender aquilo que seja de proveito e crescimento da região Norte.
Eu considero que participando das eleições, nós teremos algumas áreas estratégicas. (…) Eu entendo que o Amazonas, Manaus principalmente, é emblemático, que é uma região de grande riqueza.
RC: Considerando, que o partido seja efetivamente criado com o aval da justiça eleitoral, eleger um prefeito em Manaus será prioridade para o Aliança, como tem definido outros partidos?
Luís Felipe Belmonte: Eu tenho falado que não estamos criando um partido para as próximas eleições e sim para as próximas gerações. É possível que o partido esteja pronto para as próximas eleições, sim. Vamos ter os apoiamentos, mas dependemos também da velocidade da justiça eleitora. Agora, eu, pessoalmente, vou dar uma opinião minha como cidadão, mais que dirigente do partido, eu considero que participando das eleições, nós teremos algumas áreas estratégicas. Óbvio que São Paulo, pelo o que representa, considerando a pujança econômica que São Paulo representa. Mas eu entendo que o Amazonas, Manaus principalmente, é emblemático, que é uma região de grande riqueza. Não só mineral, biodiversidade, mas também cultural, mas acho fundamental para mostrar o olhar que o governo brasileiro tem sobre esta região que é tão cobiçada por tanta gente, a nível internacional. Eu considero estratégico a questão do Amazonas e de Manaus.
RC: E se não for criado, conquistar a prefeitura continuará sendo estratégica para esse grupo político?
Luís Felipe Belmonte: A região é estratégica, independente da eleição. Porque outras virão, né? Então, acho que merecerá atenção.
Ele (presidente Bolsonaro) será um eleitor de muito peso nas próximas eleições municipais.
RC: Considerando que o presidente teve em Manaus quase 70% dos votos válidos e que há um pré-candidato do PT entre os líderes das pesquisas para a Prefeitura de Manaus, que leitura vocês fazem disso?
Luís Felipe Belmonte: O presidente disse que não vai se envolver, quanto à eleição municipal, em todos os lugares. Naturalmente, a cada momento, isso é uma posição dele que tem uma visão política mais ampla que a minha e sabe o que vai justificar o apoio direto dele. Então, mesmo se não for criado o partido, é possível que em alguns locais ele tenha uma opção, em outros se abstenha. Não sei dizer hoje qual seria a preferência do presidente. Sei que, a continuar, o crescimento da economia, ele será um eleitor de muito peso nas próximas eleições municipais.
RC: Qual sua avaliação sobre o encontro de hoje aqui com as lideranças locais?
Luís Felipe Belmonte: Esse encontro, já tive um antes e devo ter outros depois, eu me senti muito surpreendido com o carinho das pessoas e a motivação para a defesa da criação do partido e dos valores conservadores. Eu saio daqui desse encontro com um sentimento de muita alegria e gratidão por todo esse carinho e apoio que as pessoas manifestam pela proposta que o presidente Bolsonaro apresenta.
Foto: Joel Arthur