Candidaturas de centro tentam linha “renovação” e “experiência” para conquistar eleitor

As convenções partidárias, encerradas na semana passada, fecharam um quadro com 11 pré-candidatos que vão disputar a voto do eleitor para chegar à Prefeitura de Manaus. Destes, quatro são de direita, três de esquerda e outros quatro candidatos de alianças políticas de centro. A campanha começa em 27 de outubro e o primeiro turno será no dia 15 de novembro.

Para o diretor-presidente do instituto Action Pesquisas de Mercado, Afrânio Soares, os candidatos de centro têm ainda uma segunda subdivisão: o centro experiência e o centro renovação.

O ex-prefeito e ex-governador Amazonino Mendes (Podemos) e o ex-ministro dos Transportes e também ex-prefeito de Manaus Alfredo Nascimento integram o grupo centro experiência, porque são candidatos com apoio de partidos de centro e que já passaram pela prefeitura e outras funções de gestão.

Centro experiência

Alfredo e Amazonino, antigos aliados, dividem também o posto de segundo melhor tempo de TV e fundo partidário após o fechamento das convenções.

Outro ponto em comum entre os dois é o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB). Para ter o apoio do tucano que comanda a máquina da prefeitura, Alfredo aceitou colocar nome e imagem de Arthur Virgílio em seu palanque.

Já Amazonino conta com a simpatia em declarações recentes de Arthur e, além de poupá-lo de sua metralhadora acusatória na convenção do Podemos na semana passada, fez acenos positivos para o tucano em dois assuntos que publicamente mais incomodam o prefeito: “ataques políticos à família” e investigação do MP-AM (Ministério Público do Estado do Amazonas) em relação à sua família.

Amazonino fechou aliança contando com adesão do MDB de Eduardo Braga e do PSL, partido que elegeu o presidente Bolsonaro e hoje é liderado no Amazonas pelo deputado federal Delegado Pablo. Os dois deram o tempo de TV que Amazonino conta neste pleito. Também integra a chapa o Cidadania.

Aos 80 anos, a condição de saúde pauta os adversários do ex-governador e também seu aliados. No período que antecedeu a convenção, houve intensa disputada pela vaga que acabou ficando com o deputado estadual e ex-presidente da Câmara Municipal de Manaus, Wilker Barreto, que também é do Podemos.

O pesquisador Afrãnio Soares afirma que a variação entre o teto e o piso do ex-governador o colocam em condição de presença praticamente certa no segundo turno.

“Amazonino tem um teto 43% (intenção de votos), se ele amassar todo mundo, e tem um piso que é 14%. Se ele secar até o piso, continua competitivo. Em 2012, quando ele não concorreu à sua reeleição, deu a impressão que sairia para a aposentadoria. O tempo que ficou no vácuo é o mesmo das operações da PF(Polícia Federal) Lava-jato, Maus Caminhos. Ele não aparece neste contexto”, explica o analista.

Para Afrânio, o nome fora de investigações da PF e a desaprovação do novo representada pela má avaliação do Governo Wilson Lima ajudam a explicar a intenção de votos do candidato, além do legado de grandes obras e programas populistas dos governos dele nos últimos 40 anos.

Segundo as pesquisas eleitorais divulgadas até este momento, o ex-governador e ex-prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (Podemos) lidera a intenção de votos em todos os cenários de primeiro e segundo turno. O pré-candidato também tem um dos maiores índices de rejeição nos mesmos levantamentos que mostram ainda grande parte do eleitorado sem saber em quem votar.

Já o outro candidato do centro experiência é Alfredo Nascimento. O pesquisador considera que Nascimento deve disputar os votos dos eleitores de centro. Isso em função da fragmentação das candidaturas e pelo tempo de distanciamento do ex-ministro do eleitorado de Manaus – são quase 20 anos desde que ele deixou a prefeitura para tocar os gabinetes em Brasília.

O apoio da máquina municipal é um motor para Alfredo, ao mesmo tempo que pode funcionar como âncora. Tudo depende de como os adversários irão atacar o atual prefeito Arthur Virgílio Neto durante a campanha. Em fim de mandato, o tucano fez questão de colar a imagem dele no palanque de Alfredo e, já na convenção, a maioria do tempo de fala sobre anúncio da aliança foi para exaltar a gestão de Arthur.

Coube ao próprio Alfredo, quando pegou o microfone, lembrar seus índices de aprovação no período que administrou Manaus. Alfredo, assim como Amazonino, lidera o ranking de rejeição entre os eleitores e aliança não acrescentou a ele nenhum outro partido aliado do prefeito, além do próprio PSDB.

“A chance do Alfredo e pegar voto do Amazonino”, afirmou Afrânio Soares.

Centro Renovação

Os dois candidatos do centro que devem se apresentar como renovação durante a campanha, na opinião do analista Afrânio Soares, são o ex-presidente da ALE-AM (Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas) e governador do Amazonas tampão por quatro meses, David Almeida (Avante) e o deputado estadual e também ex-presidente da ALE-AM Ricardo Nicolau (PSD).

“A palavra deles não é novo. Vão falar em renovação”, afirma Afrânio Soares.

Ambos não têm experiência em cargos do executivo e tem em seus palanques partidos e políticos aliados do Governo Wilson Lima e de um dos mais influentes políticos do Amazonas, o senador Omar Aziz (PSD), que também é da base de apoio do governador.

O apoio dos dois, ainda que não seja declarado, dá muita força às candidaturas, na opinião do presidente da Action.

“O Governo do Amazonas, meio que de forma camuflada, está apoiando o David Almeida e o senador Omar Aziz, tem uma influência muita grande no próprio governo e fora dele”, disse.

David Almeida nega que tenha apoio de Omar Aziz neste pleito,. O senador também nega que esteja participando das articulações das eleições em 2020.

Omar Aziz é o maior player do jogo político antes e depois dos registros de candidatura das últimas eleições. Tanto Omar quanto Wilson Lima enfrentam investigações da PF que colocam os dois nomes como pesos em palanques. Omar é investigado na Operação Maus Caminhos e Lima na Sangria. Ambos negam as acusações, assim como negam que tenham candidatos nesta eleição municipal.

“Esse apoio camuflado não é uma coisa nova. A gente sabe que isso existe. Desde que a eleição começou, isso existe no mundo. Sempre tem a máquina apoiando A , B ou C”, declarou Afrânio.

O candidato do PSD conseguiu reunir em torno dele partidos que o colocam com o maior tempo de TV entre os demais concorrentes. Este fator positivo deve ser um instrumento para combater sua maior fragilidade, o desconhecimento entre o eleitorado em disputas para cargos no executivo.

“Nicolau tem o maior tempo de TV e uma das fraquezas dele é que é pouco conhecido para um cargo majoritário. Esse é um problema. Gente que teve menos mandatos no executivo é mais conhecido que políticos com um grande número de mandatos no legislativo. Ele está apostando nisso e nos recentes trabalho na saúde, durante a pandemia”. disse.

“O cara do meio”

David Almeida mesmo se apresentado como evangélico, segmento identificado com a direita, é, na avaliação de Afrânio Soares, um candidato de centro.

Nas últimas eleições se apresentou como opção de ruptura com as oligarquias políticas que dominam o estado há quase 40 anos, mesmo tendo origem neste berço. Também na eleição passada disputou o pleito pelo PSB, um partido de centro-esquerda e correndo atrás do apoio do PT para melhorar seu tempo de TV.

“David Almeida é o cara do meio. Está entre o novo e o velho, entre a direita e a esquerda”, disse.

Há entre Nicolau e David o fato de terem sido presidentes da ALE-AM no período em que Omar Aziz e José Melo faziam parte do mesmo grupo político. Nicolau foi presidente do poder legislativo quando Omar era o governador e Almeida, no Governo Melo.