
O ato de filiação e o lançamento da pré-candidatura do vice-prefeito Marcos Rotta, foi tratado pelo DEM como grid de largada para as Eleições 2020.
O partido trouxe o presidente nacional da sigla e prefeito de Salvador, ACM Neto, que garantiu que a candidatura de Rotta é para valer e uma das prioridades no próximo ano. O DEM quer se fortalecer nos municípios para as Eleições 2022.
Legenda de grande força política nacional neste momento, o DEM estava sem candidato a prefeito para iniciar o jogo de conversas e articulações de alianças em Manaus, que pode confirmar ou não as pré-candidaturas que estão sendo lançadas e testadas agora.
Dois partidos marcaram presença no lançamento do nome de Rotta à Prefeitura de Manaus, o PL, que estava representado pelo presidente municipal e deputado federal Marcelo Ramos, e Podemos, com o presidente estadual e deputado estadual Wilker Barreto.
Todos os discursos exaltaram os predicados de Rotta para a disputa e também para a gestão da cidade: ACM Neto, o presidente estadual do DEM, Pauderney Avellino, Marcelo Ramos e até cerimonialista do evento.
Jogaram Marcos Rotta para cima, apesar do desgaste da imagem do vice-prefeito, que pulou de galho em galho nos últimos anos, e do sufocamento, que as lideranças que Rotta se aliou, impuseram ao nome dele. As mudanças de rota e discurso foram vários nas últimas eleições e as pessoas não tiveram tempo de esquecer.
Apesar do incenso dos aliados, o vice-prefeito parece não ter entrado no clima. A expressão facial era carrancuda, séria, semblante pesado. Os movimentos das mãos demonstravam certa tensão, o que depois foi exposto no discurso.
Marcos Rotta gastou muito mais tempo falando do passado, das mágoas, das derrotas, do que não deu certo, reforçando a imagem de que sempre se submeteu às decisões dos caciques.
O que o vice-prefeito revela agora em tom de mágoa é diferente das declarações e atitudes que demonstrava a cada tomada de decisão no passado recente. Se aceitou, foi conveniente para ele.
Como vai equilibrar mais essa mudança de discurso na memória das pessoas, quando o jogo pesado começar?
Trocas
Marcos Rotta era presidente municipal do MDB e um dos líderes das pesquisas eleitorais na Eleição Municipal de 2016. A indicação, antes do registro de candidatura, era que, no segundo turno, ele era o único a derrotar o prefeito Arthur Virgílio Neto, que concorria à reeleição.
Foi quando o que ninguém esperava ocorreu, o tucano se aliou ao adversário de anos às vésperas da eleição, o senador Eduardo Braga (MDB) e rompeu com o senador Omar Aziz (PSD) por mensagem de celular na madrugada. Rotta foi anunciado como vice.
Na filiação de ontem ao DEM, o vice-prefeito contou os anos que caminhou para construir a candidatura de 2016. Topou, segundo ele, inclusive, disputar uma vaga de deputado federal em 2014, o que estava fora dos seus planos em função do medo de voar.
“O MDB me convidou a pensar num cargo para a Câmara dos Deputados porque era algo necessário para aspirar ao cargo de prefeito”, disse.

“Aquele meu sonho não poderia ser realizado”
No período pré-eleitoral de 2016, o então vice-presidente da República, Michel Temer (MDB), tal qual ACM Neto, esteve em Manaus colocando Rotta como nome do MDB na disputa pela prefeitura.
“Passei a formatar um plano exequível de governo e a respirar uma candidatura 24 horas por dia. Infelizmente, numa tarde fatídica, fui comunicado pelo presidente do meu partido (Eduardo Braga) que aquele meu sonho não poderia ser realizado porque o partido havia feito a composição com o atual prefeito (Arthur Neto). A mim foram dadas duas opções: ingressar na chapa ou não disputar mais as eleições”, declarou.
Rotta, como todos sabem, escolheu abrir mão do mandato de deputado federal para virar vice de Arthur Neto. Salário menor para pegar um caneta sem tinta. O quase candidato a prefeito foi destaque na apresentação da campanha de TV da Chapa MDB/PSDB.
No ano seguinte, 2017, Arthur rompeu com o senador Eduardo Braga e apoiou, ao lado de Omar Aziz, Amazonino Mendes (PDT) ao Governo do Amazonas, na eleição suplementar.
Rotta teve, mais uma vez, que fazer escolhas. Além de se desfiliar do MDB, escolheu se filiar no PSDB de Arthur Virgílio. Não negociou sequer um partido para chamar de seu.
“Por dois anos seguidos, fui quase um secretário particular do prefeito”
Daí para a frente, o vice-prefeito aceitou se anular politicamente para estar no grupo político de Arthur, construiu uma imagem ainda mais impregnada de conotação de subserviência e ele mesmo admitiu isso no discurso desta sexta-feira, 13:
“Depois da eleição, levando em consideração, inclusive, o histórico de relação do prefeito com seus vices, tracei uma linha imaginária na minha cabeça. Por dois anos seguidos, fui quase um secretário particular do prefeito. Não me afastei um centímetro sequer da linha imaginária que tracei para mim mesmo. Não partiria de mim, como não partiu, qualquer tipo de sinalização, vírgula que fosse para que o distanciamento ocorresse”, disse.
Rotta afirmou que, em 2018, estava ainda mais preparado que em 2016 e que as conversar do grupo tucano, onde Arthur sempre brilhou só, o fez crer que ele disputaria o Governo do Amazonas.
“Infelizmente, mais uma vez, fui frustado das minhas aspirações. Nunca pedi para ser candidato e resolveram me lançar. Me ofereceram uma candidatura ao Governo do Estado”, se queixou.
Mágoas com o senhor feudal
O vice-prefeito afirmou que, no final daquele processo eleitoral, foi comunicado “pelo senhor feudal” – como chamou Arthur Virgílio – que o jogo seria outro e ele estava fora da partida.
“Numa rede social, o excelentíssimo senhor feudal, conhecido também como prefeito, mostrou que o nosso candidato seria outro. Se tivessem me mostrado o caminho, eu juro pela pureza da minha alma, como sou muito disciplinado, não teria nenhum tipo de problema para acatar a decisão do partido”, contou.
Rotta, na sequência da suas recentres trocas, rompeu com Arthur e virou secretário de Amazonino Mendes em plena campanha. Amazonino perdeu e ele voltou ao gabinete de vice-prefeito.
Ensaiou reaproximação com Arthur e, mais uma vez, se expôs publicamente. Não deu certo e passou, num programa de TV e nas redes sociais, a criticar a administração que ele fazia parte e defendia.
Estava avulso, sem partido, sem grupo e com um passado que registrou grande potencial e escolhas que, agora, ele se queixa.
No lançamento da pré-candidatura, Rotta não deu sinalização da tentativa de sanar a imagem. Não entrou no clima do partido e dos políticos presentes. Preferiu dar destaque e voz às mágoas não superadas por decisões políticas que ele acatou.
Fotos: Rosiene Carvalho