Caso Sotero: promotor nega encontro com testemunhas e vítimas; advogados admitem

Foto: Gustavo Sotero, promotor George Pestana e advogada Catharina Estrella (Raphael Alves/Divulgação TJ-AM)
Foto: Gustavo Sotero, promotor George Pestana e advogada Catharina Estrella (Raphael Alves/Divulgação TJ-AM)

O promotor do Tribunal do Juri George Pestana negou que tenha se encontrando com vítimas ou testemunhas do Caso Sotero às vésperas do julgamento, como acusa o perito Ricardo Molina em entrevista ao blog.

Molina alega que às vésperas do julgamento do delegado Gustavo Sotero houve uma “visita/diligência irregular” no local em que o advogado Wilson Justo foi assassinado e que descobriu que o ato foi “irregular” em função da presença do promotor e das “vítimas/testemunhas”.

Juristas ouvidos pelo blog afirmam este tipo de encontro “não é regular, nem comum” e que podem gerar nulidade da sentença.

Promotor: “não tive contato com testemunha de nenhuma espécie”

O promotor George Pestana afirmou que não teve qualquer tipo de contato com vítimas e testemunhas do Caso Sotero antes do julgamento. Pestana disse que o contato não se estabeleceu nem para a instrução do processo porque atuou apenas no júri.

O promotor disse que esteve no Porão do Alemão para tirar dúvidas sobre o laudo de Molina.

“Não procede. Isso não procede. Estive no Porão do Alemão, sim, acompanhado dele porque ele é o perito. Estava apoiando o MP, neste aspecto. Fui para entender, ouvir, para acompanhar a logística que ele estabeleceu e a dinâmica dos fatos”, declarou o promotor.

O promotor George Pestana disse não ter tido contato com as vítimas Yuri e Maurício “até porque seria uma falta de lealdade processual”.

“Fui lá porque estava marcado com ele para ver a possível dinâmica dos fatos e pouco demorei lá. Se você observar o julgamento, pouco foi usado de pericia. Não tive contato com essas pessoas. Mesmo porque seria uma falta de lealdade processual. Isso não existe”, declarou.

Catharina Estrella: “Não há irregularidade”

A advogada e assistente de acusação Catharina Estrella confirmou que as “vítimas” Yuri José Paiva e Maurício Rocha, o promotor George Pestana, o perito Ricardo Molina e ela estiveram no Porão do Alemão e que nada de irregular ocorreu.

Catharina disse que não houve reunião e nem orientação no dia em que todos estiveram no bar Porão do Alemão, antes do julgamento. A advogada acrescentou que nada há de irregular ou que possa gerar nulidade do caso.

A advogada Catharina Estrella afirmou que tecnicamente o argumento é frágil porque Yuri e Maurícios não são testemunhas e sim vítimas.

“Não foi uma reunião. Fomos ao local. Entender a dinâmica de cada um: ‘se posiciona aqui na escada’. Somente isso., onde estava cada um. Somente isso. Meros esclarecimentos. Isso não anula nada”, disse.

Sobre a presença do promotor gerar nulidade, ela afirmou: “De forma alguma gera nulidade. Até porque estávamos prestes a ter o julgamento. Vítima não é testemunha, não presta compromisso. Não é testemunha e ele (Ricardo Molina) não sabe disso”, afirmou.

Advogado Josemar diz que todos foram ao local , mas que nada irregular ocorreu

O advogado Josemar Bercot, que também atuou como assistente de acusação no Caso Sotero representando a vítima Maurício Rocha, confirmou que as vítimas, o perito, advogados e o promotor estiveram no Porão do Alemão antes do julgamento do delegado.

No entanto, Josemar nega que algo de irregular tenha ocorrido no local. Josemar diz não lembrar detalhes do dia e não saber afirmar se, no momento em que o promotor esteve no Porão, as vítimas também estavam presentes.

“Realmente fomos. Não me recordo se estava todo mundo lá. Até porque não foi assim: vamos em tal horário lá, não. Eu mesmo, não sou frequentador do Porão, queria entender a dinâmica. Compareci com meu cliente. Não tem absolutamente nada de irregular. Primeiro, que não havia testemunha. Havia duas vítimas”, disse.

Josemar disse que o promotor George Pestana passou muito rápido no local e não lembra de ter falado com ele.

O advogado Josemar afirmou ainda que não participou da reunião sobre o Caso Flávio, em que atua na defesa do lutador de MMA, Mayc Parede, que assumiu sozinho a autoria do homicídio do engenheiro, versão rejeitada pela Polícia Civil.

Advogado de Alejandro Valeiko nega “pacote” com perito

O advogado Diego Gonçalves negou que o perito Alberi Espíndola tenha sido contratado com “pacote fechado” para os casos Flávio e Lorena. Gonçalves atua na defesa de Alejandro Valeiko, enteado do prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB), acusado de participar do assassinato do engenheiro Flávio Rodrigues. O advogado também participou da assistência de acusação do dentista Milton César condenado pelo homicídio da ex-companheira dele Lorena Batista.

Diego disse que Alberi já havia sido contratado pela família de Lorena antes do assassinato de Flávio Rodrigues e que ele o indicou para o caso Flávio em função da qualidade profissional do perito.

Diego Gonçalves não atuou no Caso Sotero.

Mágoas

Os três advogados afirmam que as acusações que Molina levanta sobre os três processos do Caso Lorena, Caso Sotero e Caso Flávio são resultado de ele ter se “chateado” com a condenação de Milton César e pelo fato do laudo dele ter sido criticado pelos promotores.

Os três advogados afirmam que nenhuma palavra de desrespeito foi proferida por eles contra o perito e que a atuação deles é profissional em todos os casos em que atuam.

O advogado Josemar considera antiético a postura do perito de “ameaçar” os advogados.

Notas

Durante a semana, a OAB-AM (Ordem dos Advogados do Brasil no Amazonas) e o MP-AM (Ministério Públicos do Estado do Amazonas) emitiram notas destacando a atuação técnica e o respeito dos advogados e promotores que atuaram no Caso Lorena, citados por Ricardo Molina em suas redes sociais.

A reportagem enviou e-mail à assessoria de comunicação do MP-AM questionando para ouvir a procuradoria sobre o Caso Sotero. A assessoria informou que o prédio do MP passa por uma manutenção neste sábado, dia 15, o que deixou fora de ar os mecanismos via internet da instituição.

Outros lados

O presidente da OAB-AM, Marco Aurélio Choy, disse não saber se esta reunião de fato ocorreu, no Caso Sotero, mas que encontro de assistência da acusação e da acusação com vítima não é algo irregular.

“Esse Maurício e Yuri são vitimas e não testemunhas, não tem problema nenhum. Não sei se efetivamente ocorreu esta reunião. Se ocorreu, é algo absolutamente normal. Sobre a nota, a OAB defende os advogados e isso com absoluta naturalidade”, disse.

A reportagem tentou ouvir o perito Alberi Espíndola. Ele informou que entraria em contato para responder à reportagem, o que não ocorreu até o fechamento da matéria.

Foto: Gustavo Sotero, promotor George Pestana e advogada Catharina Estrella (Raphael Alves/Divulgação TJ-AM)