
Não sei de onde é essa informação que quase 90% de leitos de UTI estão ocupados no Amazonas. Ouvi citado ontem, dia 18, numa matéria do Jornal Nacional.
A Folha de São Paulo, neste sábado, também deu uma nota que coloca a realidade distante do leitor. Publicou na sua mais importante coluna de opinião que o sistema de saúde do Amazonas estava “prestes a colapsar”.
O governador do Estado do Amazonas, Wilson Lima, foi claro na entrevista que deu sexta-feira, 17, à Rádio Tiradentes: NÃO HÁ MAIS LEITOS DE UTI NO AMAZONAS. Estão lotados. Ele também admitiu que previa “convulsão” e “revolta”.
Sem UTIs, sem respiradores, sem recursos humanos e outros problemas de gestão que apontam os médicos e valorosos profissionais da saúde – que estão na linha de frente das unidades hospitalares e merecem todo nosso respeito e apoio! – a medida imediata possível foi instalar contêineres para colocar corpos dos mortos pela covid-19 nas unidades da rede estadual.
Wilson Lima, ao mesmo tempo em que anunciou a medida dos caminhões frigoríficos, ressaltou: EM ALGUM MOMENTO NÃO TEREI MAIS ONDE COLOCAR CORPOS.
A realidade ajuda a entender as palavras que agora o governador apresenta: a criação de novas vagas – 16 de UTIs neste final de semana no hospital de campanha na Nilton Lins – é MUITO MENOR que a demanda que explodiu nesses dias de “aceleração descontrolada” da covid-19 em Manaus. A classificação é do Ministério da Saúde.
De toda sorte, a matéria do JN mostra em todo seu conteúdo falta de leitos, RH, estrutura para atendimento e o sofrimento dos pacientes e familiares.
Assisti a uma entrevista do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, na quinta-feira, dia 16, em que ele anunciou medida para obrigar hospitais públicos e privados a emitir boletins diários sobre a quantidade de leitos disponíveis e ocupados durante a pandemia do novo coronavírus. Ressaltou o dever de todos em dar transparência e “permitir que a população conheça a realidade dos hospitais”.
Uma tentativa didática, republicana e responsável de um gestor em convencer as pessoas a ficarem em casa porque a lotação dos leitos está – lá sim – “prestes” a ocorrer e que, sem adesão ao isolamento social, ele avisa: “não vamos dar conta”.
Há semanas, eu e outros colegas jornalistas de veículos nacionais tentávamos nos esclarecer para informar em nossas matérias sobre o detalhamento dos leitos de UTI e clínicos no Amazonas.
Recebíamos informações genéricas e engessadas na live diária do governo – que chamam coletiva, mas há filtros nas perguntas – e nas notas oficiais. Sei da peregrinação dos outros jornalistas porque me ligavam em busca dos mesmos dados que eu não conseguia acesso, se queixavam das não respostas e me pediam contatos de alternativas para apurar a informação.
Os profissionais da saúde romperam a barreira que tínhamos.
As cenas que estamos vendo esses dias, em Manaus, são de um filme de terror real. Não sou da linha sensacionalista e nem de palavras que criem pânico nas pessoas. Isso é completamente diferente de informar e ser responsável com a realidade dos dados e fatos.
Não são de hoje os problemas graves da saúde do Amazonas e nem de hoje esse tipo de método de informar (ou desinformar) a população, que, aliás, também soma na fórmula do produto “saúde em colapso”.
A gravidade do que ocorre no sistema de saúde, e infelizmente pode piorar nos próximos dias, e a conexão com a falta de transparência é tanta que o MPF (Ministério Público Federal) acionou e a Justiça Federal condenou o Estado a dar o detalhamento dos dados da covid-19. Se não der transparência em três dias, há previsão de multa diária de R$ 250 mil e “medidas coercitivas”.
Quando tentei as informações das UTIS, recorri a deputados da ALE-AM em busca de dados. Recebi respostas de que eles também, os fiscais dos atos de executivos, não tinham acesso.
O grau do absurdo chega ao ponto de que, há mais de uma semana, a ALE-AM convocou a nova secretária a apresentar as ações sobre a pandemia para o poder legislativo e Simone Papaiz não vai. A PGE (Procuradoria Geral do Estado) e deputados da base aliada tentam blindá-la.
E, se for, o que vai apresentar? Se deve saber menos que nós sobre Manaus e Amazonas, em função de ter sido escalada para gerir uma crise sem ter no currículo algo que a aproxime da realidade do estado. Eu queria entender como ela chegou ao cargo, quem a indicou ao Governo do Amazonas, mas as pautas do resultado do colapso do sistema de saúde se sobrepuseram.
Na minha opinião, a esta altura dos acontecimentos, as informações jornalísticas e as oficiais têm obrigação de serem cirurgicamente REAIS. O próprio governador já se viu obrigado a admitir isso. Então, está na hora né?!
Quem puder, fique em casa. Cuidem dos seus idosos e familiares de grupo de risco para não infectá-los por imprudência. Não há vagas nas UTIs e o atendimento precarizou ainda mais no Amazonas.