
O colapso do sistema de saúde no Amazonas e o sofrimento dos pacientes da covid-19 nas portas das unidades hospitalares de Manaus viraram manchete na tarde desta segunda-feira, dia 20, nos principais jornais americanos, após a agência de notícias AP (Associated Press) publicar reportagem com 14 fotos do repórter fotográfico Edmar Barros mostrando a realidade do avanço da pandemia no estado.
The New York Times e The Washington Post, entre outros veículos dos EUA, estamparam a machete: “Crise do vírus destrói sistema de saúde da cidade brasileira da Amazônia”
Na matéria da AP, a informação é que “o sistema de saúde de Manaus, já sobrecarregado antes da crise do coronavírus, está se deteriorando sob o atual ataque de pacientes com coronavírus”. A reportagem durou cerca de uma semana, ouvindo pacientes e captando imagens nos hospitais da cidade e no cemitério do Tarumã.
“Os ventiladores são muito escassos, os médicos lamentam a falta de equipamento de proteção e os coveiros estão cada vez mais ocupados”,. afirma trecho da matéria..
A reportagem informa que Manaus pode oferecer cenário sombrio para o futuro em função da falta de estrutura para atendimento e a não adesão ao isolamento social.
“A preocupação é que Manaus possa oferecer um vislumbre sombrio do futuro, especialmente quando o presidente Jair Bolsonaro desrespeita as recomendações de especialistas em saúde para que as pessoas fiquem em casa para conter a propagação do vírus e, em vez disso, pede aos cidadãos que voltem ao trabalho. Em cidades como Manaus, com escassez de equipamentos e leitos de UTI, a falta de cumprimento das medidas de distanciamento social está levando o sistema de saúde ao seu ponto de ruptura”, afirma outro trecho da matéria.
No texto, a informação é que não está claro como Manaus está no pico da doença, mas que os problemas anteriores de gestão da saúde era uma prévia da crise.
“Não está claro como Manaus se tornou um dos pontos quentes do coronavírus no Brasil; seu primeiro caso relatado foi uma mulher de 39 anos que retornou de Londres em 11 de março. Mas seu sistema de saúde cedeu foi uma crise prevista, diz Mario Viana, presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas: antes da crise, os hospitais já operam quase sem capacidade devido à falta de investimento, e salários baixos há muito tempo incentivam os profissionais de saúde a deixar a cidade.”.
A reportagem da AP ouviu médicos em on e off sobre o quadro interno das unidades. Mais um dado ruim é destacado: os riscos que o sistema coloca os profissionais da linha de frente de combate ao coronavírus.
“Geraldo Barbosa, um ginecologista que atendeu várias mulheres grávidas com COVID-19, disse que o governo local não foi capaz de testar ele ou sua esposa, também médica, para verificar se eles contraíram a doença”. diz texto da matéria e, seguida, acrescenta:
“Todos os profissionais de saúde aqui têm certeza de que estaremos contaminados. Só esperamos não morrer ”, disse Barbosa por telefone da maternidade Balbina Mestrinho.
A matéria diz que o médico usa máscara que comprou do próprio dinheiro e a reportagem indica que o médico não recebeu vestidos descartáveis. “Muitas vezes, nós médicos, somos chamados de super-heróis, mas nem sempre somos uma prioridade”, disse ele.

Outro destaque da reportagem são os enterros do cemitério Parque Tarumã, em Manaus. Num dos casos, a matéria cita um funeral que era transmitido ao vivo para familiares que estavam em casa. O enterro era do marido da mulher que fazia a live – um técnico da saúde do SPA do São Raimundo que também registrou a morte da diretora da unidade, segundo Edmar Barros.
A condição precária de atendimento aos pacientes na porta dos hospitais de Manaus é outro destaque na mídia internacional a respeito do tratamento dado aos infectados pelo covid-19 na capital do Amazonas, no texto e nas fotos.

“Ao lado da entrada de uma instalação, pacientes com suspeita de coronavírus estavam sentados em cadeiras de plástico na semana passada, esperando para serem admitidos. Um homem mais velho, acompanhado pelo filho, ficou sentado por várias horas até que, finalmente, frustrado, o filho passou o braço do pai em volta do ombro e os dois cambalearam, indo para casa”, diz trecho da matéria.
A descrição desoladora do filho que não conseguiu atendimento para o pai ganha proporções ainda mais duras por meio das expressões do rosto dos dois captadas na foto do repórter fotográfico Edmar Barros. Veja a foto no alto da matéria do blog.
Em outras fotos é possível ver pacientes sentado por horas em cadeiras de plástico debaixo das tendas de triagem no 28 de Agosto. Uma das fotos destaca em cima na lota a frase: “Fique em casa”.

Outras fotos mostram a espera na maca, do lado de fora, de pacientes idosos e de grupo de risco para serem recebidos no hospital. Edmar Barros afirma que flagrou caso em que um idoso na maca aguardava no chuvisco ser permitida a entrada dele na unidade. Noutro caso, uma pessoa numa cadeira de rodas e com aparência de mal estar não conseguia entrar porque não havia papel na impressora para fazer a ficha dela.
A matéria é assinada pelos jornalistas Marcelo de Souza, David Biller e pelo repórter fotográfico Edmar Barros, único dos três funcionários da AP que está em Manaus registrando o dia a dia da pandemia.
Veja nos links abaixo, a reportagem da AP nos principais veículos do mundo:
