
Com 25 anos de experiência na área criminal, o advogado Claudio Dalledone Júnior avalia que poder econômico e político se entrelaçam no assassinato do engenheiro Flávio Rodrigues, 42, e há suspeita de que os mesmos possam interferir na colheita da verdade.
Em entrevista exclusiva ao blog (abaixo), advogado diz acreditar que o MP-AM (Ministério Público do Estado do Amazonas) deva está colhendo “elementos suficientes para decretar novas prisões e evitar que algo seja forjado”.
Para Dalledone, há “muita coisa esquisita neste caso”. O criminalista diz apostar numa grande reviravolta com prisões de novos personagens.
Em Manaus há mais de uma semana, para atuar na defesa do delegado Gustavo Sotero no Tribunal do Júri, na próxima terça-feira, dia 29, Dalledone afirma que estudou o Caso Flávio e, se fosse convidado, “adoraria” atuar no mesmo porque vê pontos convergentes nas duas investigações.
“Há muita coisa esquisita neste caso. Eu quero crer que o MP esteja com suas promotorias especializadas com procedimentos investigatórios em cima disso tudo. Tenho absoluta convicção que isso esteja acontecendo”, declarou.
O advogado ganhou notoriedade nacional ao atuar em casos com grande repercussão midiática como o do goleiro Bruno, acusado de mandar matar e ocultar o cadáver da mãe do filho dele, Eliza Samudio, e o da família Brittes, suspeita de envolvimento no assassinato do jogador Daniel Corrêa.
Leia entrevista com Dalledone sobre o Caso Flávio na íntegra:
“Há muita coisa esquisita neste caso. Quero crer que o MP esteja com suas promotorias especializadas com procedimentos investigatórios em cima disso tudo.”
Rosiene Carvalho (RC): Qual a sua opinião, diante da sua experiência na área criminal, sobre esta investigação do caso do homicídio do engenheiro Flávio Rodrigues, que tem o enteado do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, Alejandro Valeiko como suspeito? Há pontos a se entranhar na investigação, no caso ou não?
Claudio Dalledone: Há muita coisa esquisita neste caso. Eu quero crer que o MP esteja com suas promotorias especializadas com procedimentos investigatórios em cima disso tudo. Tenho absoluta convicção que isso esteja acontecendo. Não estou vendo por parte da família do Flávio… A família tem que procurar o MP, formar uma boa equipe de advogados. Essas questões…Um carro da prefeitura entrou lá para dar apoio, um funcionário da prefeitura… isso é fato comprovado. Vi um delegado de polícia desconfiando desta versão apresentada. No nosso ordenamento jurídico, autoincriminação é crime. O sujeito chega e diz: eu matei fulano. Não pode, se não fez.
RC: Esse procedimentos investigatórios, que o senhor acredita que o MP deva estar cuidando, podem ampliar informações sobre o caso?
Claudio Dalledone: Tenho convicção que no próximo mês existirão novidades, que o MP está atento a isso. Pelas causas que atendi, enxerguei um MP diligente e atuante, de acordo com a contemporaneidade do combate às organizações criminosas. Tenho certeza que não está só no âmbito de delegacia. Controle externo da atividade policial e da política atento. Não vou me surpreender se este Caso Flávio tenha uma grande reviravolta.
“O MP deve estar investigando as versões apresentadas e se dessas investigações resultar qualquer fumaça de que há ali uma ingerência, coações, algo que turbe o bom andamento da justiça, ele vai atuar. Não vou me surpreender com novas prisões e novos personagens”
RC: Diante das informações que se tornaram públicas, até este ponto, o senhor considera que já seria o momento de indiciamentos de outras pessoas na órbita desta casa, considerada cena do crime?
Claudio Dalledone: Volto a afirmar que, com certeza, o MP está colhendo elementos suficientes para decretar novas prisões e evitar que algo seja forjado. O MP deve estar investigando as versões apresentadas e se dessas investigações resultar qualquer fumaça de que há ali uma ingerência, coações, algo que turbe o bom andamento da justiça, ele vai atuar. Não vou me surpreender, se nos próximos dias, se novas prisões e novos personagens vierem a ser decretadas, pelo que a experiência me mostra de 25 anos de Tribunal do Juri. É muito estranha esta história pelo que colhi da imprensa e acabei estudando. Não tem como não correlacionar Caso Sotero e Caso Alejandro, principalmente pelos personagens atuando como duas faces de uma mesma moeda. Uma saga acusatória de um lado e de outro invocando todas garantias possíveis. Por conta disso, enxergo que coisas ainda virão e muito breve neste Caso Alejandro.
RC: Por outro lado, é razoável que todas as pessoas que estavam na casa estejam presas por uma morte que ocorreu com seis facadas? Há um exagero neste sentido na prisão temporária de 30 dias para todas essas pessoas?
Claudio Dalledone: Se tem um caso, que a decretação de prisão temporária é cabível, é neste tipo de caso. Há uma dúvida de quem investiga sobre a autoria. Esse é o ponto controvertido. Há uma dúvida sobre a autoria. Então, se prende para investigar de uma maneira em que o poderio econômico e político não influenciem. Se existe um caso em que a prisão temporária por 30, prorrogável por mais 30, (é cabível) é neste tipo de caso.
não me remanesce nenhum tipo de dúvida. Se existe caso que precise de uma prisão temporária que pode ser convertida em prisão preventiva, é nesse tipo de caso: onde o poder econômico e político se entrelaçam e suspeita-se até que eles possam interferir na colheita da verdade”
RC: As dúvidas sobre os depoimentos destas pessoas justificam a prisão?
Claudio Dalledone: Claro que justifica. Há dúvida se aquela autoria invocada por um é realmente autoria. Como operador do Direito não me remanesce nenhum tipo de dúvida. Se existe caso que precise de uma prisão temporária que pode ser convertida em prisão preventiva, é nesse tipo de caso: onde o poder econômico e político se entrelaçam e suspeita-se até que eles possam interferir na colheita da verdade, num casos como esses, que está se fazendo por intermédio da investigação.
“É uma causa que aceitaria sem problema nenhum. Até para enfrentar estes personagens de outra maneira.”
RC: Sua presença aqui em Manaus há alguns dias, em função do júri de Gustavo Sotero que se aproxima, suscitou comentários. Ouvi dizer que o senhor pode entrar no Caso Flávio. Houve essa sondagem? O senhor aceitaria?
Claudio Dalledone: Já há advogados constituídos atendendo a família. Me parece gente muito capacitada, mas eu, até pela experiência que passei no Caso Sotero, adoraria – adoraria – com a minha equipe, ingressar neste caso. Me parece muito curioso. Um caso que exige de quem vai fazer assistência da acusação muita coragem, desprendimento. Estaria à inteira disposição. Não fui procurado. Mas, se viesse, seria de bom grado. É uma causa que aceitaria sem problema nenhum. Até para enfrentar estes personagens de outra maneira.
Memória sobre o Caso Flávio
O cadáver de Flávio foi encontrado num terreno no bairro Tarumã, com marca de seis facadas na costas, perna e barriga, horas após se reunir no dia 29 de setembro com outros homens na casa de Alejandro Valeiko, enteado do prefeito de Manaus, Arthur Neto. A casa de Alejandro foi o último local que Flávio foi visto vivo antes do homicídio.
Até agora há duas versões públicas sobre o homicídio, prestes a completar um mês. Uma delas foi apresentada pelo prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), em suas redes sociais afirmando que Flávio tinha ligação com tráfico de drogas e que a casa de Alejandro foi invadida por traficantes que o sequestraram. Na ocasião, Arthur pediu ponto final nas suspeitas sobre o enteado.
A outra é a confissão que Mayc Parede fez, isentando todos os demais presos que estiveram com Flávio no dia do homicídio, incluindo o enteado do prefeito, de participação no crime. Mayc é amigo de um dos presos, o policial militar que trabalhava na segurança de Arthur Virgílio, Elizeu da Paz.
A polícia também suspeita que o corpo de Flávio foi retirado do condomínio em um carro da Prefeitura de Manaus, conduzido por Elizeu. Mayc estava no carro.
A primeira-dama de Manaus, Elisabeth Valeiko, prestou depoimento na semana passada, no caso. A polícia a questionou se houve contato com Elizeu antes, durante e depois de Flávio ser retirado da casa do filho dela. A primeira-dama também foi questionada sobre a limpeza da casa, antes da polícia realizar a perícia.
Elisabeth Valeiko confirmou, em depoimento, que ela e o prefeito de Manaus, Arthur Neto, estiveram na casa de Alejandro, local considerado como cena do crime, na noite do homicídio.
A defesa de todos os envolvidos, menos a de Mayc Parede, negam participação no assassinato.
Foto: Divulgação