O delegado da Polícia Civil Gustavo Sotero foi condenado por “homicídio privilegiado” após três dias de julgamento no Tribunal do Júri pelo assassinato do advogado Wilson Justo.
Na sentença, o juiz da 1ª Vara do Tribunal do Júri, Celso de Paula, determinou que Sotero perca o cargo de delegado.
Gustavo Sotero pode recorrer da sentença para tentar reduzir a pena. A acusação também pode recorrer para aumentar a mesma. O MP-AM (Ministério Público do Estado do Amazonas) adiantou que não vai apresentar recursos.
A advogada Catharina Estella, que atuou como assistente da acusação, adiantou que ainda vai analisar se vai recorrer sobre a sentença.
A condenação de Sotero, somado todos os crimes em que ele foi considerado culpado, é de 30 anos e dois meses. A sentença prevê a continuidade da prisão já que Sotero está preso há dois anos, desde o dia que Wilson foi assassinado.
Ele deve permanecer na carceragem da Delegacia Geral, segundo informou a defesa.
Homicídio privilegiado
O conselho de sentença, formado por sete jurados, entendeu que Sotero cometeu homicido privilegiado com duas qualificadoras: meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
Homicídio privilegiado é um crime cometido em determinadas circunstâncias e que a lei considera menos graves. Assim, o acusado pode ter a pena reduzida.
A lei prevê que, se o crime for cometido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, na sequência de uma injusta provocação da vítima, o réu pode ter redução da pena.
Sobre as acusações de tentativa de homicídio contra a mulher de Wilson Justo, Fabíola Rodrigues, e Yuri José Paiva, o júri entendeu que a acusação não era verdadeira. Neste caso, Sotero foi condenado por lesão corporal.
O conselho de sentença reconheceu, ainda, a acusação de tentativa de homicídio privilegiado contra Maurício de Carvalho Rocha.
O delegado Sotero era acusado de homicídio triplamente qualificado após reagir com uma sequência de tiros a um soco do advogado Wilson Justo no dia 25 de novembro de 2017 na boate Porão do Alemão, Zona Oeste de Manaus.
A defesa de Sotero, feita pelo advogado curitibano Cláudio Dalledone alegou que o delegado agiu em legítima defesa e reagiu para não perder a arma e virar vítima de Wilson no episódio.
Ao todo, a condenação poderia chegar a 60 anos de prisão.
A defesa apresentou o argumento que Sotero foi vítima de uma orquestração de versão por parte de um “poderoso grupo de advogados liderados pelo presidente da OAB-AM, Marco Aurélio Choy”. Também sustentou que o caso foi usado com objetivos políticos pelo grupo.
O Caso Flávio foi citado várias vezes no julgamento. O advogado Dalledone afirmou que o enteado do prefeito Arthur Neto (PSDB), Alejandro Valeiko, indiciado por homicídio, recebe olhar e tratamento diferenciado de Sotero em relação ao mesmo grupo de advogados .
Tanto acusação quanto defesa apresentaram nos três dias, como parte da estratégia de convencimento do júri, testemunhas, vídeos e levaram peritos para apresentarem versões sobre o crime.
Ao longo do julgamento tanto amigos e familiares e do advogado quando os do delegado se emocionaram no auditório.
Ao final das alegações finais no júri, quando os jurados se retiraram e foram a uma sala para definir os votos, a irmã de Sotero orou com as mãos levantadas para o teto e de joelhos no local, enquanto a mãe chorava abraçada por outros familiares.
Próximo a elas, do outro lado da fila de cadeiras do auditório, a viúva de Wilson também em prantos era consolada por amigos.
O presidente da OAB-AM, Marco Aurélio Choy, chegou ao local do julgamento momentos antes da leitura da sentença. Falou com os familiares de Justo. Depois subiu, cumprimentou Dalledone e tiraram uma foto juntos.
Há mais de um mês, Choy ficou na mira do ataque da defesa de Sotero em função de seus posicionamentos sobre o caso na mídia e nas redes sociais neste dois anos.
Foto: Daniella Cardoso – Divulgação
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