Foto: BandNews Difusora
A primeira mulher indígena eleita deputada federal está em caravana pelos estados do Norte. Além de enfrentar o ano que terá de concorrer à reeleição em Roraima, Joenia Wapichana (Rede) abraçou como desafio filiar lideranças indígenas ao seu partido para ampliar o número de parlamentares que representam os povos tradicionais da Amazônia na Câmara dos Deputados. Ela é a única nesta legislatura.
“Os povos indígenas anseiam por candidaturas que os representem. Queremos ampliar essa representatividade política no Brasil todo. A minha eleição mostrou que isso é possível”, declarou a parlamentar em entrevista ao EXCLUSIVA da rádio BandNews Difusora (93.7), que foi ao ar na manhã desta segunda-feira, dia 30.
Os dois objetivos – sua reeleição e ampliar a bancada indígena – precisam superar as resistências internas do movimento à unificação de votos e a estrutura que a Rede Sustentabilidade oferece. Isso porque o partido já foi alcançado na eleição passada pela temida cláusula de barreira e não tem direito ao fundo eleitoral e nem a tempo de TV para propaganda. Outro ponto negativo é que, a cerca de dois meses para o final do prazo de filiação e federação partidária, a Rede caminha isolada e mantém conversas, até este momento, apenas com o Psol.
Em 2018, em todo País, o partido conseguiu eleger apenas Joenia em Roraima para Câmara dos Deputados e Randolfe Rodrigues no Senado no Estado do Amapá. O mandato de Joenia foi alcançado por uma decisão e organização dos povos indígenas de Roraima. Numa coligação que tinha além da Rede, PTB, PV e PT, Joenia foi a mais votada com 8.491, o que a fez garantir a última das oito vagas de deputados federais do Estado.
“Em 2018, tínhamos um cenário diferente. Tínhamos uma legislação que permitia coligação. Não tinha a exigência de um quociente eleitoral amplo de 80% (…) Eu concordo que a Rede não pode ficar isolada.”, declarou Joenia ao comentar as duas questões durante a entrevista.
No Amazonas, Rede e Psol não tem, neste momento, nomes de expressão de desempenho de urnas. Analistas políticos e de institutos de pesquisa apostam que o quociente eleitoral de 2022 para a Câmara dos Deputados, no Amazonas, seja de 220 mil votos.
Para a líder indígena e técnica de enfermagem Vanda Ortega, a aposta de Joenia e Rede no Amazonas, mesmo em condições desafiadoras, a Rede irá priorizar a candidatura de uma mulher indígena, o que não foi possível costurar nos diálogos firmados com outros partidos. No ato de filiação, além da presença de Joenia, participou também a presença da ex-senadora e fundadora da Rede Marina Silva. A filiação ocorreu na Maloca dos Povos Indígenas, no Parque das Tribos, Zona Centro-Oeste de Manaus.
“Os partidos querem atingir a cota com mulheres negras, trans, indígenas, mas não querem a prioridade de elas serem eleitas. Então, a gente teve alguns desafios. Temos lideranças filiadas à Rede no nosso Estado e essa representação da Joenia, para a gente, é fundamental. A Rede nos colocou como prioridade.”, declarou Vanda Ortega.
Vanda afirma que o Amazonas, estado com maior população indígena do País, precisa ter representação nos espaços de tomada de decisão de pessoas que conheçam e tenham identidade com a pauta e os problemas enfrentados pelos povos originários.
“Quando a gente olha para a Câmara Municipal e para os deputados a gente não consegue se enxergar. As pautas ali não nos atendem como sociedade”, disse a indígena amazonense.
A fala dela é corroborada pela avaliação da deputada Joenia Wapichana que afirma até contar com o apoio e votos de deputados federais do Amazonas em favor da defesa dos direitos dos povos indígenas, mas não de forma incondicional: “Temos apoio dos parlamentares do Amazonas, a depender dos seus interesses”.
Marina Silva, no discurso do ato de filiação, disse estar confiante que os indígenas filiados à Rede no Norte do País conquistarão cadeiras na Câmarados dos Deputados e Assembleias Legislativas.
“Tenho certeza que no Pará, em Rondônia, no Acre, no Amazonas, em Roraima, onde tiver candidatura indígena para deputado estadual e federal a gente vai eleger. E, se Deus quiser, na próxima eleição, que serão duas vagas para o Senado, nós vamos eleger o primeiro ou a primeira mulher indígena para o Senado da República. Se a gente juntar todos os parentes (termo que os indígenas usam para se referirem uns aos outros) a gente dá uma lição no que significa luta, compromisso e generosidade”, declarou.
Joenia e Vanda afirmam que mandatos de indígenas não servem apenas para os povos originários, mas para toda sociedade e isso pode ser expressado tanto pelo desempenho da parlamentar como pela luta travada na sociedade pelas lideranças indígenas.
A deputada destacou, ainda, na entrevista, os nomes de lideranças que também estarão nas urnas em outros estados pela Rede Sustentabilidade.
“No Pará, O-é Kaiapó Paiakan, que é líder, mulher jovem que tem feito atuação bastante importante para o movimento indígena, filha de grandes lideranças indígenas como Paulinho Paiakan. A tia dela é Tuíra Kaiapó que se manifestou no Congresso contra as hidrelétricas. Também tem a Juma Xipaya, no Pará. No Acre também teve ontem (quinta-feira), a filiação à Rede de Ninawa (Huni Kuin) com a intenção de concorrer a deputado federal. São pessoas sérias comprometidas com a causa indígena e com a causa não indígena também. De forma que a gente da Amazônia, quando chega ao Congresso Nacional, o nosso rosto é o rosto da Amazônia”.
Veja abaixo frases da deputada Joenia Wapichana e da líder indígena e pré-candidata à deputada federal Vanda Ortega ou assista a entrevista na íntegra no link disponibilizado no final da matéria.
Filiação de Vanda Ortega ao partido Rede com presença de mulheres que são lideranças indígenas, entre as quais a deputada Joenia Wapichana (Rosiene Carvalho)
Joênia Wapichana
“Os povos indígenas anseiam por candidaturas que os representem. Queremos ampliar essa representatividade política no Brasil todo. A minha eleição mostrou que isso é possível”.
“No Pará, O-é Kaiapó Paiakan, que é líder, mulher jovem que tem feito atuação bastante importante para o movimento indígena, filha de grandes lideranças indígenas como Paulinho Paiakan. A tia dela é Tuíra Kaiapó que se manifestou no Congresso contra as hidrelétricas. Também tem a Juma Xipaya, no Pará. No Acre também teve ontem (quinta-feira), a filiação à Rede de Ninawa (Huni Kuin) com a intenção de concorrer a deputado federal. São pessoas sérias comprometidas com a causa indígena e com a causa não indígena também. De forma que a gente da Amazônia, quando chega ao Congresso Nacional, o nosso rosto é o rosto da Amazônia”.
´É necessário que a gente reverta essa situação de negacionismo e de ações anti-indígenas, que não colabora nada para a nossa sociedade”
“Em 2018, tínhamos um cenário diferente. Tínhamos uma legislação que permitia coligação. Não tinha a exigência de um quociente eleitoral amplo de 80%. A gente viu que havia uma esperança muito grande nos povos indígenas. Fui escolhida numa assembleia indígena com quase cinco mil pessoas. Com três anos de atuação parlamentar, minha atuação não foi somente para a questão indígena. Mas para os direitos sociais. Muitas vezes, nas questões de direitos sociais e econômicas, eu fui a única parlamentar do meu estado a votar com o povo”.
“Ainda está em diálogo com o PSOL. Eu concordo que a Rede não pode ficar isolada. A Rede tem toda uma questão de princípios que devem, justamente, ser discutidos”.
“Nós temos fundo eleitoral, infelizmente não temos fundo partidário porque a Rede não alcançou a cláusula de barreira. A direção do partido vai dar prioridade às candidaturas indígenas.”
“Os brasileiros têm dever de cobrar do governo federal e das autoridades e parlamentares que haja proteção dos direitos. Uma vez que é um ano eleitoral e é preciso entender o que os parlamentares têm como propostas para não votarem contra os direitos indígenas. Esta semana, temos como desafio derrubar os vetos do presidente Bolsonaro que retirou recursos para proteger as terras indígenas, os povos e esses grupos isolados.”
“Temos apoio dos parlamentares do Amazonas, a depender dos seus interesses”.
Vanda Ortega
“Nos anos eleitorais, as pessoas vão nos nossos territórios iludir nossos povos e, quando são eleitos, nós somos esquecidos.”
“No Amazonas, não há políticas de proteção desses povos. Temos um quantitativo de indígenas em contexto de cidade que não são assistidos pela saúde indígena.”
“Somos muito discriminados na cidade. É negado o nosso direito de ser quem somos na cidade. Isso faz com que o Estado negue todas as políticas garantidas aos nossos povos.”
“Tivemos um grande desafio de dialogar com outros partidos, que a nossa candidatura fosse uma prioridade para os partidos.”
“Os partidos querem atingir a cota com mulheres negras, trans, indígenas, mas não querem a prioridade de elas serem eleitas. Então, a gente teve alguns desafios. Temos lideranças filiadas à Rede no nosso Estado e essa representação da Joenia, para a gente, é fundamental. A Rede nos colocou como prioridade.”
“Quando a gente olha para a Câmara Municipal e para os deputados a gente não consegue se enxergar. As pautas ali não nos atendem como sociedade.”
“Eu sou uma mulher indígena. Mas a defesa dos direitos que a gente pleiteia não é só para os povos indígenas somente. Quando defendemos demarcação e meio ambiente, a gente está lutando em defesa da população deste País.”
“Eu sou profissional da saúde. Os servidores da saúde têm demandas que não são atendidas. A gente quer dialogar com várias camadas dessa sociedade. A defesa de direitos e vozes não é somente para os direitos indígenas”.
“Quem vai reparar os danos causados aos povos indígenas?”
“É um ataque à Constituição e aos povos indígenas”, afirma deputado Elias Vaz sobre estudo de ouro em SGC
“Eu não posso silenciar, a não ser se me matarem mesmo”
“Não queremos mais intermediários. Somos protagonistas, sim”