
Sem expertise na saúde, o dono da empresa FJAP e da Vineria Adega, Fábio José Antunes Passos, declarou que foi à Susam (Secretaria de Estado de Saúde) saber o que podia vender durante a pandemia, passou a receber e-mails com demandas e, em dez dias, fechou negócio de respiradores.
As informações constam no depoimento dele à PF (Polícia Federal) no dia 30 de junho, quando a operação Sangria foi deflagrada e o empresário foi um dos presos temporariamente. Veja o documento do depoimento, que o blog teve acesso, no final da matéria.
No mesmo depoimento, Fábio Passos nega que alguém tenha feito ponte ou o atraído para o negócio na Susam. Como também nega que antes do contrato conhecesse alguém na secretaria e afirma que ficou sabendo da oportunidade de vender para o governo pela mídia.
“Que só foi uma vez à Secretaria de Saúde, para saber quais produtos eram necessários; que nessa oportunidade deixou seu cartão com e-mail e passou a receber as demandas; Que na secretaria de Saúde falou com dona Neide; Que assim que se apresentou como importador, imediatamente passou a ser acionado pelo setor de compras, para cotação de diversos equipamentos; Que recebeu o primeiro e-mail para cotação mais ou menos uma semana depois da visita; Que depois da primeira visita à secretaria já fechou a primeira venda; Que o processo todo entre o primeiro contato com a Secretaria de Saúde e a venda demorou dez dias”, afirma trecho do depoimento de Fábio Passos à PF.
No depoimento, além de admitir não ter expertise em materiais médicos, o dono da loja de vinhos afirmou que até então nunca havia feito contrato com a Susam.
“Que não tem expertise em materiais médicos hospitalares. Mas sua empresa tem habilitação para vender tais produtos; Que apenas se interessou por esses produtos agora, por causa da pandemia mas nunca havia vendido nada para a secretaria de saúde; que ele foi até a secretaria de saúde oferecer os seus serviços e que não houve licitação (…)”.
Mais uma vez Fábio admitiu que comprou os equipamentos da Sonoar, sem no texto do depoimento constar esclarecimentos sobre como ele descobriu que a empresa tinha tudo na especificação exigida pela Susam.
O empresário disse que os respiradores foram entregues em dez dias, o que ocorreu entre o dia 8 e 10 de abril.. E que a foi a própria dona da Sonoar, Luciane Andrade, que entregou os respiradores diretamente à Susam, sem passar por ele, que só recebeu a nota fiscal. Segundo o empresário, tudo estava previsto no contrato.
A CPI da Saúde informou, há cerca de duas semanas, que nos registros documentais do caso, a nota fiscal dos 28 respiradores foi entregue no dia 30 de abril, o que levou os deputados da comissão a interpretarem que o governo pagou antecipado e só recebeu os equipamentos no final do mês.
No depoimento, Fábio repetiu que para comprar os equipamentos da Sonoar contou com empréstimo do empresário Cristiano Cordeiro, dono do Big Amigão, também preso na Operação Sangria.
A operação de transferência para a empresa Jalusa, interpretada pela PF como lavagem de dinheiro para o exterior, o empresário diz ter sido com valores de outra origem e não o mesmo que recebeu do Governo do Amazonas pela venda dos respiradores. Passos disse que pretendia comprar novos equipamentos, o que não ocorreu e que o dinheiro foi devolvido a ele cerca de 15 dias após o depósito feito no dia 9 de abril.
A devolução ocorreu, portanto, em data após o caso dos respiradores com sobrepreço vir à tona na imprensa nacional. A matéria do UOL sobre o caso foi publicada no dia 20 de abril.
A origem do valor remetido ao exterior, segundo Passos, é de um empréstimo feito mais uma vez com o dono do Big Amigão.
O empresário diz que o lucro de R$ 496 mil entre o valor gasto com a compra da Sonoar e a venda ao Governo do Amazonas, restou para ele cerca de R$ 200 mil em função dos impostos.
Ele informou ainda que vende para a Prefeitura de Manaus alimentos por meio de licitação pública. O dono da importadora disse que não importava nada há mais de cinco anos.
Operação Sangria
No dia 30 de junho, a PF deflagrou a Operação Sangria que investiga desvio de recursos que deveriam ser aplicados com urgência no sistema de saúde para enfrentamento ao Covid-19. A operação tem como foco o governador do Estado no Amazonas, Wilson Lima (PSC), no caso dos 28 respiradores inadequados comprados de uma fornecedora de vinhos com suspeita de sobrepreço.
Na operação, foi presa a ex-secretária de Estado de Saúde, Simone Papaiz, outros funcionários da Susam e empresários. Houve cumprimento de mandado de busca e apreensão no gabinete do governador, na sede do Governo do Amazonas, na casa de Wilson Lima e ele próprio foi abordado pela PF no aeroporto de Brasília, quando teve o tablet e o celular apreendidos.
Após vir à tona a informação que um dos sócios da empresa Sonoar, suspeita de participação na irregularidade, Luiz Carlos Avelino Júnior, é marido da jornalista Daniela Assayag, a secretária deixou o cargo no domingo à tarde, dia 5.
Papaiz pediu exoneração após passar cinco dias presa em penitenciária do Amazonas cumprindo prisão temporária.
Todos negam envolvimento em irregularidades.
O sobrepreço
Em pesquisa feita pela PGR (Procuradoria Geral da República), o preço dos respiradores comprados pelo Governo do Amazonas, em média, por R$ 106.285, 71 custam no mercado R$ 45.485, o que representou um sobrepreço de 133,67%.
No dia 8 de abril às 15h01, a Sonoar vendeu os respiradores no valor de R$ 2,48 milhões para a FJAP, (CNPJ da empresa de vinhos) que, por sua vez, vendeu os aparelhos para o Estado no mesmo dia, apenas 2 horas e 32 minutos depois, pelo valor de R$ 2,976 milhões. Houve um lucro de R$ 496 mil, num intervalo de duas horas.
Já a Sonoar, a maior beneficiada financeiramente com o negócio, lucro R$ 1.414.270,04, num intervalo de seis dias. Isso porque comprou os respiradores de fornecedores em outros estados a um total de R$ 1.091.800,00 e vendeu ao dono da loja de vinhos por R$ 2.480.000,00
Veja o depoimento de Fábio Passos à PF, na íntegra:


