Dos 11 parlamentares da bancada do AM, oito são ex-alunos da Ufam. Apenas quatro se posicionaram em defesa da instituição

✔ Lideranças e professores em greve no Estado do Amazonas, parlamentares, funcionários públicos de outros setores e até membros do Governo Wilson Lima (PSC) se dizem surpresos com a mudança brusca do rumo das negociações com os profissionais da Educação a partir da fala do governador na segunda-feira, dia 13. Professores avaliavam ontem em rodas de conversa na assembleia-geral do Sinteam que haviam criado empatia com o governador no primeiro encontro. A impressão mudou.

✔ Acusados pelo governador de atrapalharem a negociação da data-base com vaidades e interesses de políticos, representantes do Sinteam e Assprom Sindical foram à ALE-AM ontem. Juntos sentaram, durante a sessão, na mesa diretora da Casa, ocuparam o plenário para, também juntos, criticarem no mesmo tom o governo.

✔ Em 2017, as falas do então chefe da Casa Civil, Arthur Bisneto (PSDB), e da secretária municipal de Educação, Kátia Schweickardt, alegando que o movimento de professores era político e não de classe atiçou a categoria. Grande número de professores fez manifestações nas ruas cobrando transparência no Fundeb na gestão de Arthur Neto após a mesma acusação.

✔ O governador Wilson Lima deve ter dados confiáveis sobre a tentativa de políticos de se aproveitarem da insatisfação da categoria, tendo em vista as Eleições 2020. Porém, tropeçou mais uma vez na condução política da informação. Generalizar, em coletiva à imprensa, com fala rude e antipática, profissionais há um mês em greve, em Manaus e no interior, não é a melhor maneira de acalmar os ânimos e esfriar o caldo.

✔ A greve de 30 dias já traz efeitos políticos ao secretário de Educação, Luiz Castro (Rede).

✔ A crítica à postura dele na Seduc pode ser considerada o único ponto convergente entre parte de membros do governo e parte dos professores. No governo, diferentes e influentes vozes no entorno de Wilson Lima atribuem à inabilidade do secretário o ponto em que a greve chegou neste 30º dia. Também consideram que ele deu “conselhos” negativos a Wilson e vendeu o que não podia entregar.

✔ De vários lados há uma avaliação de que Luiz Castro vive uma crise de identidade: não pode mais ter a postura de um deputado com discurso de oposição e não consegue ser um secretário de linha de frente e voz em defesa do governo. Estes membros do Executivo que estão irritados com o secretário desconfiam que o principal entrave nesta indefinição é a intenção dele em disputar as Eleições 2020. Avaliam que isso atrapalha a gestão Wilson Lima.

✔ No Palácio, o comentário é que, se o governador não tivesse a linha que tem, Luís Castro já estaria em situação bem mais complicada.

✔ A avaliação dos professores não é diferente, postagens na internet e manifestações individuais e coletivas nas assembleias da categoria apontam a antipatia com que a classe de profissionais da Educação começa a ver o ex-aliado.

✔ Após a recepção de ontem no poder legislativo, representantes das duas entidades acreditam que na ALE-AM possam caminhar para uma solução sobre a data-base de 2019. A presidente do Sinteam, Ana Cristina Rodrigues, disse que os professores contavam com o apoio de 16 deputados e agora são os 24. “Até o Dr Gomes disse que nos apoia”, comemorou a professora ao se referir ao deputado que tem feito discursos defendendo o governo, há mais de 40 dias sem líder na ALE-AM.

✔ Professores e estudantes da Ufam e da rede estadual farão protesto às 15h na Praça da Saudade, Centro de Manaus, em relação aos anúncios do Governo Federal de congelamento e cortes de verbas para unidades de ensino federal. Bolsas de pós-graduação, pesquisa e despesas de custeio estão no caminho do efeito imediato dos R$ 32 milhões que devem diminuir no orçamento da Ufam, no segundo semestre.

✔ A bandeira levantada pelos professores e estudantes da Ufam, na verdade, é uma pauta que interessa toda a sociedade amazonense. Quem não estudou na instituição certamente foi formado a partir da produção do conhecimento desta universidade que tem mais de cem anos e está intimamente ligada à história do Amazonas e de Manaus. A universidade, a exemplo de outras unidades do País, há anos vive em situação de precarização. Precisa de ações que impulsionem e ampliem o acesso ao ensino e não de cortes e limitações.

✔ Dos 11 membros da bancada federal do Amazonas, as vozes do Estado no Congresso Nacional, pelo menos oito são ex-alunos e concluíram o curso superior na Ufam. O senador Omar Aziz (PSD) e o senador Eduardo Braga (MDB) se formaram em Engenharia. O senador Plínio Valério (PSDB) e o deputado federal Sidney Leite (PSD) cursaram Jornalismo na Ufam. Os deputados federais Marcelo Ramos (PR), Átila Lins (PP) e Delegado Pablo (PSL) cursaram Direito na universidade federal. E o deputado José Ricardo (PT) cursou Economia na instituição.

✔ Apenas quatro deles se manifestaram contrários aos cortes de verbas da Ufam, após a polêmica nacional que leva hoje professores e alunos em todo País às ruas. Braga, Sidney Leite e José Ricardo usaram o plenário do Senado e da Câmara para criticarem a medida, além de postagem em redes sociais. Átila recebeu em seu gabinete os reitores da Ufam e do Ifam, respectivamente, Sylvio Puga e Antônio Venâncio.

✔ O deputado Pablo se manifestou sobre o assunto em entrevista à Rádio Band News Difusora apresentando o lado do Governo Bolsonaro e tentando mostrar o efeito positivo dos cortes. Mantém a mesma linha nas redes sociais. Os demais silenciaram até agora.

✔ A ALE-AM faz avaliação de cem dias da nova legislatura dando destaque a um momento diferenciado na construção política da atuação deste poder: ação conjunta e de unidade entre os deputados. O grupo se fortalece porque não deu prioridade a estrelatos e incluiu com espaços parlamentares com menor expressão política e de primeiro mandato.

✔ Os cem dias também trouxeram à ALE-AM inícios de debates de políticas públicas para mulheres, quase impossível em outras legislaturas, e maior participação nos reais espaços de poder das deputadas. A formação da Mesa Diretora, a partir de lei aprovada no ano anterior, conta com duas deputadas. A vice-presidente da ALE-AM é uma mulher: Alessandra Campelo (MDB). E uma mulher é cotada para ser líder do Governo Wilson Lima na Casa.

✔ O grupo busca um diferencial, sem a mesma preocupação de legislaturas anteriores de ser e demonstrar subserviência ao Poder Executivo. Apesar disso, o atual governo, que passa por momentos políticos e econômicos complicados, não pode reclamar da sorte. Isso porque, com menos possibilidades, o ex-presidente da ALE-AM, David Almeida (PSD), conduziu ações que causaram estragos no Governo Amazonino Mendes (PDT).