
Sem verniz na fala, o ministro da Economia do Governo Bolsonaro, Paulo Guedes, explicou a jornalistas da Globo News na noite desta quarta-feira, dia 17, como diminuir as vantagens competitivas da Zona Franca de Manaus em relação a outras regiões do País.
“Não vou mexer na Zona Franca de Manaus. Está na Constituição. Está lá. Mas, e se os impostos caírem todos para zero? Eu não mexi na ZFM, a ZFM fica do jeito que ela é. Ninguém nunca vai mexer com ela. Agora, isso quer dizer que eu não vou simplificar impostos para o Brasil, porque senão…? (…) Quer dizer que o Brasil não pode mais ficar eficiente? Quer dizer, eu tenho que deixar o Brasil bem ferrado, bem desarrumado porque senão não tem vantagem para Manaus? Isso não existe”.
A declaração do ministro repercutiu hoje entre parlamentares do Estado.
Em entrevista à Rádio Band News Difusora, o deputado federal Marcelo Ramos (PR), declarou a fala do ministro Paulo Guedes é irresponsável e o chamou de “inimigo” do Amazonas.
“Não há proposta boa para o Brasil, que seja ruim para o Amazonas. Porque o Amazonas é um dos setores estratégicos mais importantes do Brasil para o mundo. Um País continental como o nosso não pode prescindir de política de desenvolvimento regional (…) Se tira as vantagens competitivas, vamos pagar a conta por sermos um Estado longe dos grandes centros consumidores do País, sem infraestrutura porque eles, Governo Federal, não recuperam a BR-319, sem um sistema portuário eficiente, com energia e serviço de telecomunicação precários, com uma burocracia absurda, com uma carga tributária insustentável. O que está por trás de tudo isso são 80 mil empregos diretos no PIM, declarou.”
MARCELO RAMOS
Marcelo Ramos disse que o posicionamento de Guedes deve receber reação no Congresso Nacional da bancada do Amazonas.
“O discurso dele é como se o Amazonas não fosse Brasil. Para o mundo, o Amazonas é a parte mais importante do Brasil. Vamos nos reafirmar como tal, vamos ser duros em relação à resposta para essa declaração do ministro e vamos mostrar a ele e ao Brasil que o modelo Zona Franca é um modelo exitoso, que precisa ser protegido a bem do povo amazonense”, disse.
PLÍNIO VALÉRIO
O senador Plínio Valério (PSDB) afirmou que as declarações de Paulo Guedes deixam claro que ele quer “matar a Zona Franca por asfixia”.
Plínio disse que só a fala de Paulo Guedes já impõe prejuízo ao modelo. “O ministro Paulo Guedes, que se acha um semideus grego, deixou claro que não acaba com a Zona Franca de Manaus porque não pode, é lei, mas vai matá-la à míngua, deixando assim uma grande incerteza e dúvida para quem pretendia investir no Amazonas. O ministro não aponta uma saída para um modelo que emprega quase cem mil trabalhadores diretos e que representa cinquenta por cento de toda arrecadação na região Norte. E mais: que é responsável direto pela preservação da maior reserva tropical do Planeta. A questão é: qual é o plano do Governo Federal pra Amazônia Ocidental? Eu concordo que estejamos reféns da ZFM. Mas quais as alternativas postas à mesa?”, disse.
O deputado federal Sidney Leite (PSD) disse que toda a bancada irá resistir à pressão que Paulo Guedes que impor à ZFM com medidas que reduzam a competitividade do modelo.
“Se isso acontecer, acaba com a Zona Franca. Isso mostra falta de compromisso com o nosso Estado e, deixa evidente sua intenção de extinguir de vez o modelo econômico. Não vamos permitir. Vamos lutar, em grupo e também nas comissões às quais participamos como membros, na defesa do nosso Polo Industrial”, disse Leite.
O senador Omar Aziz (PSD), coordenador da bancada do Amazonas no Congresso, declarou, em entrevista à Rádio Tiradentes, que o ministro Paulo Guedes deveria trabalhar mais e falar menos.
“Primeira vez que vejo um ministro da Economia ter uma declaração tão forte como essa em relação à ZFM. Ele tem que entender que a importância econômica da ZFM não é só para o Amazonas. É para o Brasil”.
Omar disse que as declarações de Paulo Guedes são “imbecis” e “irresponsáveis”.
“Essas declarações são de uma irresponsabilidade tamanha. Qual empresa vai se instalar no distrito agora se o ministro da Economia diz que pode acabar com tudo com uma canetada? Quem empresa vai querer aprovar um projeto aqui com uma declaração imbecil dessas? Por que ele não mexe nos bilhões que são dados de desoneração para os Estados do Sul e Sudeste? Por que ele não fala sobre isso?”, disse.
O senador disse que não dará sossego ao governo na Comissão de Assuntos Econômicos que ele preside no Senado. “Na Comissão de Assuntos Econômicos que eu presido, eles não terão vida fácil comigo. O Governo não terá vida fácil comigo”, disse.
O ex-governador do Amazonas disse que o ministro ainda não deu sinal positivo ao País.
“É um ministro que tem um papo que convence os parceiros banqueiros dele, mas não convence a população. Até porque a nossa economia, nos últimos três meses, caiu. Não se gerou emprego nenhum até agora e estão jogando tudo na conta, como se fôssemos resolver o problema do Brasil com a Reforma da Previdência”.
O senador indicou que o governo terá dificuldades quando a Reforma da Previdência chegar ao Senado: “A Reforma da Previdência é importante, mas não dá para a gente perder os ganhos sociais que a previdência tem. Principalmente para o BPC e a aposentadoria rural”, disse.
Na mesma entrevista, o senador Omar lembrou os benefícios do modelo nos governos do PT. “Veja bem, nós temos que dar a César o que é de César. O governo do presidente Lula e da presidente Dilma prorrogaram a ZFM e nunca nos deu um golpe mortal como está sendo dado agora. O Temer nos deu um golpe mortal em relação aos concentrados”.
Omar disse que a bancada se reúne terça-feira, dia 23, e cobrará o ministro pelas declarações.
Foto: Divulgação Senador Omar Aziz