Erivonaldo Nunes Oliveira, educador e historiador

Foto: Educador e historiador Erivonaldo Nunes de Oliveira (site afinsophia.org)

Por José Alcimar*

In memoriam

Segundo o Mouro de Trier, a morte é a vitória da espécie sobre o indivíduo. Mas a espécie não redime os que a negaram como indivíduos. São os indivíduos que morrem antes de morrer porque fazem da vida uma recusa ontológica a humanizar-se como espécie.

Nega a espécie em vida aquele que vive reativamente e se vai decompondo no egoísmo de seu miserável e biliar existir. Porque viver é compor bons afetos e produzir laços ontológicos que dignificam a vida.

Erivonaldo Nunes de Oliveira, cuja imanência não resistiu à política da dupla crueldade, do coronavírus e da necrocracia, que dissemina a morte em série nessa Manaus desolada, fez da vida uma composição ontológica de bons afetos, solidariedade classista e luta coletiva.

Neste domingo, 14 de fevereiro de 2021, Erinovaldo se fez transcendência. Pode parecer estranho que eu, que não o conheci, a ele me refira com este testemunho.

Não o faço por seguir a máxima de Quilão, “de mortuis nil nisi bonum” (dos mortos só se deve falar bem), mas antes em razão do que me testemunharam sobre o companheiro Erivonaldo duas educadoras e dois educadores (Gleice Oliveira, Víllian Herculano, Miguel Oliveira e Marcos José) que agem e pensam no contracurso da política do ódio e da educação para o mercado. Seres da boa itinerância, da qual Erinovaldo participou e agora involuntariamente se retira.

O educador Erivonaldo, além de fazer da história e do seu ensino o seu campo de trabalho, combinou sua prática educativa à militância popular e às lutas coletivas dos subalternizados. Lutador classista, não reduziu sua luta ao prevalente corporativismo sindical. Fazia a ponte, necessária e afirmativa, entre luta sindical e emancipação social. Num curto registro em vídeo postado pelo Filósofo Miguel Oliveira, o Educador Erivonaldo enuncia no espaço político da rua: “estou na greve, na luta pela vida”.

Sua prática humanista e educativa não admitia separação entre o mundo da sala de aula e o mundo da rua.

Honraremos sua memória, de historiador e educador, ao continuar na resistência e na recusa de ceder aos inimigos o futuro que nos pertence e ao qual ele dedicou o melhor de sua existência. Quem viveu na verdade continuará presente na história. Porque não lutou sozinho e era habitado pelo sentido coletivo da existência, Erinovaldo partiu na certeza de que a luta vai continuar.

Erivonaldo, Presente!

* José Alcimar de Oliveira, vacinado contra o negacionismo, é professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas, teólogo sem cátedra e filho do cruzamento dos rios Solimões e Jaguaribe. Em Manaus, AM, no dia 15 de fevereiro do ano (ainda coronavirano) de 2021.