Folha de SP: “Polícia fez um massacre em Manaus, diz testemunha”

Foto: Divulgação em grupos de Whats App no dia 30 de outubro

O Jornal Folha de São Paulo destacou entre as manchetes de sua primeira página deste sábado, dia 4, matéria em que uma testemunha afirma que os 17 homens e adolescentes mortos no Crespo dia 29 de outubro foram executados após serem rendidos por policiais da PM-AM (Polícia Militar do Amazonas):

“Ali aconteceu um massacre naquela noite, massacre”, afirma a testemunha ouvida pelo jornal.

A matéria, assinada pelo jornalista Fabiano Maisonnave, classifica o episódio como “a mais violenta ação policial registrada no País em 2019”.

A reportagem informa que, segundo o inquérito da Polícia Civil, quase metade dos mortos (sete dos 17) não tinha marcas de pólvora nas mãos. As marcas de pólvora nas mãos, via de regra, são as principais provas de confrontos e troca de tiros.

Dezesseis dos 17 mortos, receberam tiros no tórax.

A matéria da Folha diz que os corpos foram retirados do local do confronto antes da perícia chegar.

A SSP (Secretaria de Estado de Segurança Pública) sustenta, desde o dia da ação, que os 17 homens e adolescentes forma mortos após confronto a tiros com a PM-AM.

Na ação, dos 17 mortos pela PM-AM, metade tinha até 23 anos, sendo que três eram adolescentes de 17, 16 e um de apenas 14 anos.

Segundo inquérito da Polícia Civil, a ação teve como objetivo evitar confronto entre duas facções criminosas no bairro naquele noite. Nenhum policial saiu ferido. Ninguém foi preso. A ação policial iniciou às 22h do dia 29 e terminou às 3h no dia 30 de outubro.

Foto: Fabiano Maisonnave – Redes sociais. Data: 30 de outubro de 2019,

“Quando deram tiro na perna dele, estava de joelhos. Já estava dominado”

Nem de longe as 17 mortes no Crespo, bairro em que pessoas de baixo poder aquisitivo moram em palafitas e becos, envolveu a mesma repercussão que o assassinato de advogado Wilson Justo no bar Porão do Alemão e o homicídio do engenheiro Flávio Rodrigues condomínio de luxo do enteado do prefeito de Manaus, Arthur Neto. Na própria comunidade, o silêncio foi estabelecido.

A testemunha ouvida pela Folha de São Paulo diz não confiar na polícia e nem nas facções e por isso se manteve calada. Segundo a reportagem, a testemunha pediu para falar sob condição de anonimato por medo.

A mesma relata ter visto o adolescente de 14 anos vivo e algemado, durante a ação e também “um dos integrantes de facção” encontrado debaixo de uma das palafitas. A testemunha disse que esta segunda pessoa levou tiros na mão e no peito.

“Quando deram tiro na perna dele, estava de joelhos. Já estava dominado, não estava mais com arma, nada.”, contou a testemunha à reportagem da Folha de São Paulo. Ela indica que o homem ainda tentou fugir e se esconder numa casa. “Aí botaram ele pra fora e mataram na nossa frente”, destaca o jornal.

O jornal compara a descrição da testemunha sobre os locais do tiro nesta pessoa com a autópsia no corpo de Michel dos Santos Cardoso, 27, que, segundo a reportagem, foi o único dos 17 baleado na perna.

Ainda segundo a matéria da Folha, Michel dos Santos tinha passagem pela polícia por furto, posse de droga e narcotráfico. Ele é um dos que não teve vestígio de pólvora nas mãos.

“Eles gritavam, ficavam pedindo socorro, que não matassem eles”

A testemunha também contou ao jornal Folha de São Paulo que o adolescente Uéliton da Silva Júnior, de 14 anos, não estava armado e comia um churrasco de espeto e farofa no momento em que viu os policiais.

A testemunha disse que o adolescente saiu correndo, foi apreendido e levado de algema para uma casa. Segundo a reportagem da Folha de São Paulo, com base nesta testemunha, parte dos mortos foram executados neste casebre.

“Foi jogado lá de cima da laje, algemado. Aí botaram ele de joelho, começaram a falar um monte de palavrão e botaram pra dentro da casa. Ficaram maltratando eles, eles gritavam, ficavam pedindo socorro, que não matassem eles, e o tiro comendo.”, destaca a Folha de São Paulo em outro trecho da reportagem.

Segundo a matéria, o adolescente de 14 anos, que entre os 17 era o único morador do bairro e o único sem antecedentes criminais, foi morto “por um tiro que atingiu o coração e o fígado”. A reportagem da Folha indica ainda que a perícia no corpo detectou vestígio de pólvora na mão direita dele.

Foto: Fabiano Maisonnave – Redes sociais. Data: 30 de outubro de 2019,

Apenas seis policiais tinham marcas de pólvora nas mãos, diz jornal

A matéria da Folha de São Paulo também destaca dados sobre o exame residuográfico dos envolvidos no confronto: dos 17 mortos e dos policiais.

A reportagem indica que dos 17 mortos, 10 tinham marca de pólvora. Quase metade dos envolvidos no confronto e que foram mortos ( sete ) não tinha marcas de pólvora nas mãos.

Pelo lado dos policiais, segundo a matéria da Folha de São Paulo, apenas seis policiais tinham marcas de pólvora nas mãos. A reportagem destaca: “Em 14 policiais, não havia fragmentos de chumbo”.

O jornal afirma ainda que de 11 de 21 policiais que participaram da ação têm antecedentes criminais e lista o nome dos PMS e suas fichas. Os antecedentes, a quantidade e locais de tiros que causaram a morte também são listados com os nomes da vítimas.

A SSP informou, no dia do episódio, que 60 policiais participaram da ação policial no Crespo.

A reportagem indica que o inquérito da Polícia Civil foi concluído no dia 3 de dezembro e que ninguém foi indiciado. Agora, o caso está nas mãos do MP-AM (Ministério Público do Estado do Amazonas).

Leia a matéria da Folha de São Paulo na íntegra neste link.

Veja a capa da Folha de São Paulo deste sábado. É a segunda vez que o jornal dá destaque ao caso na capa:

Foto: Reprodução site da Folha de São Paulo