Fotojornalista afirma que foi intimidado por comandante da PM e secretário da SSP

Fotojornalista Edmar Barros é fotografado por policiais no Monte Horebe nesta quinta, dia 5. Foto: Edmar Barros
Fotojornalista Edmar Barros é fotografado por policiais no Monte Horebe nesta quinta, dia 5. Foto: Edmar Barros

O fotojornalista da Agência Futura Press de São Paulo Edmar Barros afirmou que sofreu intimidação por parte do comandante da PM-AM (Polícia Militar do Amazonas), coronel Ayton Norte, e pelo secretário da SSP (Secretaria de Estado de Segurança Pública), coronel Louismar Bonates, na manhã desta quinta-feira, dia 5, durante cobertura jornalística do quarto dia da desocupação do Monte Horebe, na Zona Centro-Oeste de Manaus.

A comunidade se originou na antiga ocupação Cidade das Luzes, ao lado do residencial Viver Melhor e, na segunda-feira, dia 2, o Governo do Amazonas deu início à desocupação do local onde se estima que havia cerca de 5 mil moradias.

“Sou o único fotojornalista neste momento aqui dentro. Entrei aqui pela manhã, tentando fazer meu trabalho de cobrir o que realmente está ocorrendo (…) Não fui hostilizado por ninguém. Só fui hostilizado pela PM. Impressionante. Estou apenas fazendo o meu trabalho. Não sei porque o secretário não permitiu que eu o fotografasse”, declarou durante uma transmissão ao vivo em seu Facebook.

Procurado pelo blog, Edmar disse que não costuma fazer transmissões ao vivo durante a execução do seu trabalho. Mas, nesta quinta, achou que precisava tomar medidas para registrar o que estava ocorrendo após se sentir ameaçado diante de dezenas de policiais armados e do tom adotado pelo secretário de segurança contra ele.

“Fiz a live mais por uma questão de segurança. Sei lá o que podia acontecer. Passei dias entrando lá com meu equipamento e em nenhum momento senti medo como senti hoje (nesta quinta)”, afirmou Edmar Barros.

Edmar disse que quando os policiais chegaram no local em que ele fotografava o abordaram e pediram para que se retirasse da comunidade. Na sequência, dois carros se aproximaram. No primeiro, segundo Edmar, estava o coronel Bonates e no outro o coronel Ayrton Norte.

“Ele (secretário Bonates) abriu a porta do carro e me olhou feio, perguntou quem eu era e o que fazia lá. Eu disse que era Edmar Barros da Agência Futura Press e que estava fazendo o meu trabalho. Ele (secretário) bateu a porta de volta e disse que ali não poderiam garantir minha segurança. Respondi que estava lá há dias e era o primeiro em que era hostilizado”, contou o fotojornalista.

Edmar disse que outras falas de intimidação foram feitas próximas dele, na sequência dos acontecimentos. Ele disse que também foi obrigado a desligar o gravador enquanto falava com o secretário.

“O comandante da PM, que vinha num segundo carro, não disse diretamente a mim, mas fez um comentário dentro do carro, eu ouvi. Ele disse: todo cara que fala mal da polícia ou é bandido ou é veado. Não sei se ele se referiu a mim, mas eu nem sou bandido, nem sou veado e muito menos falo mal da policia. Eu apenas estou fazendo meu trabalho”.

Edmar afirmou que quando se afastou dos policiais que estavam no entorno do secretário e do comandante da PM, um militar foi até ele e disse para que não fizesse fotos de Bonates. O fotojornalista questionou a razão da orientação e disse que o policial repetiu para não fazer foto do secretário.

Edmar Barros declarou que ninguém da comunidade o tratou desta maneira durante os dias em que trabalha cobrindo a desocupação. “A alegação do secretário que eu não deveria estar aqui para a minha segurança… Vim no primeiro dia de cara limpa, sem conhecer ninguém e ninguém me intimidou”, disse.

Imprensa

O fotojornalista questiona por que as histórias e os dramas dos moradores do Monte Horebe não estão sendo contados à população de Manaus pelos jornalistas que trabalham nos veículos de comunicação da cidade.

“Qual é o risco? Se a comunidade toda está la dentro? Por que o repórter não pode estar lá dentro também? Por que todo mundo aceita o cercadinho? Por que ninguém questiona?”, disse.

Edmar Barros disse que a intimidação que sofreu nesta quinta-feira não vai impedir que ele continue a exercer sua função no jornalismo.

“Por que a imprensa de Manaus não está aqui dentro?  Por que são patrocinados pelo governo? Eu não. Não tenho rabo preso com governo nenhum. Sou um profissional sério, ético. Não vou deixar que ninguém me impeça de fazer meu trabalho”, disse.

Para o fotojornalista, lugar de jornalista é ao lado da população mostrando todos os ângulos dos fatos.

“Tem muita história. Quase todas as casas sem energia, as pessoas passando uma dificuldade absurda. Sem luz, tocando fogo para enxergar alguma coisa de noite e a imprensa local não está cobrindo. Que diabo de jornalismo que esses caras querem fazer? Ficam num cercadinho que a secretaria põe vocês. Isso me envergonha como imprensa.”, declarou.

Cerceamento

A imprensa está impedida de entrar na comunidade e apenas é autorizada sob a guarda da polícia nos locais e horários indicados pelo governo. A medida foi alvo de uma nota do Sindicato dos Jornalistas, na segunda-feira, dia 2, que afirma que o cerceamento imposto pelo governo do jornalista Wilson Lima impede a população de ser adequadamente informada, restando apenas a versão oficial.

Outro lado

A reportagem procurou a assessoria de comunicação da SSP e a Secom para ouvir o governo sobre a situação. A resposta foi que iriam verificar o que ocorreu para se manifestarem.

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