
José Alcimar*
O tempo, em distintas concepções, sempre ativou a mais elevada reflexão filosófica.
Tempo como imagem móvel da eternidade em Platão.
Tempo como distensão da alma em Santo Agostinho.
Tempo como forma de sensibilidade a priori da razão pura em Kant.
Tempo como princípio da verdadeira autoconsciência em Hegel.
Tempo como espaço histórico da formação humana em Marx.
Tempo como tecido de nossa vida, segundo Antônio Candido.
E o tempo da Amazônia? É ele comensurável ao tempo do capital?
O modo de apropriação do tempo pelo ser social dos povos originários é a mais consistente negativa à expropriação do tempo da Amazônia pela predatória forma de pensar e viver promovida pelo sistema do capital.
A alma do tempo da Amazônia não se encontra no espírito do capitalismo, mas antes na forma de vida dos povos originários.
O dominante paradigma cartesiano da cultura ocidental, greco-romana e judaico-cristã, permanece hostil e indiferente ao tempo vivido, medido e pensado pelos povos originários da Amazônia.
O povo Yanomami, que neste 2023 ganhou visibilidade mundial pelas imagens eloquentes do secular e programático genocídio promovido pela gramática do capital contra os povos originários do Brasil, é hoje a vítima tornada paradigma da violência ecocida presidida pela arrogância da decadente forma burguesa de vida. Neste povo originário, em cada criança Yanomami, habita a Amazônia verdadeira, resistente e anticapitalista.
*José Alcimar de Oliveira / Filosofia/UFAM. Em Manaus, AM, 31 de janeiro do ano da virada de 2023.
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