
O doutor em Sociologia e professor da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), Marcelo Seráfico, afirmou que a concentração e não distribuição de riquezas com os trabalhadores é um problema da ZFM (Zona Franca de Manaus) e também do País.
Seráfico afirma que os argumentos dos economistas no jornal Folha de São Paulo na matéria “Zona Franca não dá vantagem ao Amazonas, indica estudo”, como forma de desqualificar o modelo ZFM, não são diferentes nas regiões Sul e Sudeste.
“Existe um problema que não é especifico de ZFM, mas das sociedades capitalistas. O modo como se distribui a riqueza em sociedades capitalistas é de desigualdade. É muito baixa a participação de salário no conjunto do PIB que ela (ZFM) produz”, analisou.
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O professor da Ufam disse que há estudos que mostram que os salários dos trabalhadores representam cerca 4% de tudo que gera o modelo ZFM.
“Os indicadores de infraestrutura, educação, saúde não acompanham este avanço. Há um descompasso e um profundo comprometimento politico com a concentração da renda, manutenção da precariedade da vida para a maioria da sociedade”, declarou o sociólogo.
Desonestidade no trato dos dados
O sociólogo aponta que há desonestidade no tratamento dos dados quando informações e indicadores sociais são analisados por um viés negativo para a ZFM e ignorados em relação a outros centros industriais do País.
“Há desonestidade do trato destes dados. O Sudeste concentra enormes incentivos fiscais ao longo do tempo, privilégios e esses critérios de análise não são aplicados para estas regiões. Há um uso desonesto dos dados tanto para lá quanto para cá.”, disse.
O professor citou o dado da migração apontado como “preocupante” pelo estudo apresentado na matéria da Folha de São Paulo em função do modelo ZFM.
“São Paulo também atraiu a migração de nordestinos”, disse.
Guerra fiscal e falta de projeto de nação
O cientista social afirmou que a guerra fiscal, muitas vezes protagonizadas por São Paulo e Amazonas, esconde temas mais importantes que estão fora do debate político, como, por exemplo, a falta de um projeto de nação e uma reabertura da guerra entre os estados por atração de investimento de empresas estrangeiras.
“O governo federal e os agente políticos e econômicos discutem formas de atração de investimentos e não se existe ou deixa de existir um projeto de nação, que leve ao desenvolvimento do País (…) Remonta o que foi a década de 90 a restauração da guerra fiscal. Várias regiões concorrendo entre si por atração do investimento”, afirmou.
ZFM
Marcelo Seráfico afirma que a lógica será sempre que as empresas se instalem onde há melhor infraestrutura e mercado consumidor mais amplo. Por isso, foi criada a região de incentivo fiscal no Amazonas em 1967.
“Há uma incapacidade das elites e governos de levar em consideração as desigualdades regionais. Quem tem melhor infraestrutura e mercado consumidor mais amplo sai na frente. Portanto, ficamos num jogo quase que obrigados a defender os incentivos aqui. E eles (incentivos fiscais) não foram capazes de produzir uma sociedade mais justa. Produzem uma riqueza espetacular para pouquíssima gente”, declarou.
Marcelo Seráfico é doutor em Sociologia. Sua tese teve como tema “O empresário local e a Zona Franca de Manaus: (re)produção social e globalização econômica” apresentada na UFRS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
Foto: Divulgação / Via site Band News Difusora
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