
O ex-deputado federal e pré-candidato a Prefeito de Manaus Hissa Abraão (PDT) declarou, nesta segunda-feira, dia 17, que o ex-governador Amazonino Mendes (sem partido) não sabe a hora de parar e ignora os conselhos políticos que dava ao também ex-governador Gilberto Mestrinho.
Gilberto Mestrinho é o fundador do grupo político que se revezou no poder por mais de 30 anos no Amazonas. Mestrinho morreu em 2009, aos 81 anos, e governou o estado por três vezes, foi prefeito de Manaus e senador pelo Amazonas.
Em parte da vida pública, o “boto navegador”, como era conhecido, revezou com Amazonino o comando do governo do Estado e da cidade de Manaus.
“Se você perguntar das pessoas mais antigas, sabe o que o Amazonino dizia do Gilberto num determinado momento da história política? Que era a hora do Gilberto parar, que o Gilberto estava numa certa idade, que não tinha mais vigor, mais paciência e condições para ser candidato”, disse e continuo:
“O conselho que ele dava para o Gilberto, não usa para si. O que eu acredito é que diante de uma cidade-problema como Manaus não dá mais para a gente ter um prefeito de gabinete”, declarou o ex-deputado.
O presidente estadual do PDT, que teve problemas de relação com Amazonino no último mandato do ex-governador, criticou a gestão do adversário à frente da Prefeitura de Manaus.
“Amazonino, que diz que vai ser candidato, nem sei se vai ser, vamos supor que vá, ele foi prefeito de Manaus entre 2008 e 2012. Não foi candidato à reeleição porque deixou a cidade destruída. Viu que não tinha a mínima chance”, disse.
Hissa Abraão afirmou não é desrespeito falar sobre a idade do ex-governador e a condição da saúde dele. Declarou também que Amazonino não tem condições biológicas de executar atividades necessárias a um prefeito.
O ex-deputado diz que faz apelo para que as pessoas reflitam que Amazonino não tem o vigor que Manaus precisa na prefeitura.
Hissa diz que Manaus, por ser uma “cidade-problema”, exige “vigor” físico que uma pessoa com mais de 70 anos não tem. O ex-governador Amazonino Mendes está com 80 anos e desde o ano passado aparece com um dos líderes nas pesquisas de intenção de votos para a disputa pela Prefeitura de Manaus.
“Aí eu não estou aqui criticando a pessoa Amazonino, vamos deixar isso muito claro. Quando eu tiver numa certa idade, não vou ter mais fôlego e vigor para fazer o que faço hoje. Ser prefeito de Manaus é praticamente ser um gerente, um síndico”, declarou.
O ex-deputado afirma que o prefeito tem que estar nas ruas e nos bairros.
“Você fica num gabinete algumas horas, planeja, lidera e depois tem que ir para a rua. Tem que ver se as ações políticas estão sendo implementadas. Coisas que uma pessoa de 70, 80, 90 anos não tem condições biológicas de executar. É só isso que eu preciso que as pessoas reflitam, assim como o Gilberto no passado, o Amazonino não tem hoje, com todo respeito, assim como minha mãe com 70, não tem vigor”, declarou.
Hissa diz que Manaus não pode ser enganada.
“Não consigo ver o Amazonino com este apetite e vigor. Falo isso com a mais absoluta paz na alma. Não dá para a gente se permitir ser enganado. Uma coisa é dar saltinho na televisão, fazer dancinha para mostrar que tem saúde. Outra cosa é passar quatro anos administrando uma cidade-problema, que é Manaus”, afirmou.
Arthur Neto: “Não é uma pessoa que ajuda o surgimento de lideranças, não é uma pessoa que vai deixar um legado para a cidade de Manaus”
Oito anos após se unir ao prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB), nas Eleições 2012, Hissa Abraão avalia a aliança como “um erro tático político” em função do perfil do tucano.
Naquele pleito, Hissa tinha capital de votos das Eleições 2010, quando disputou o Governo do Estado e ficou em terceiro lugar. Hissa era vereador de primeiro mandato.
“Foi um erro que me prejudicou, sim. Foi um erro de ação política, mas um erro porque a pessoa com a qual me aliei não é uma pessoa sociável. Não é uma pessoa que ajuda o surgimento de lideranças e vai deixar um legado para a cidade de Manaus. Deste ponto de vista, foi um erro tático da minha carreira política”, declarou.
“População quer perfil intermediário”
O pré-candidato disse, na entrevista, que a população, nesta eleição, tende rejeitar os velhos caciques e também o “rosto novo”.
“Entendo que hoje a população não quer um rosto desconhecido. Nem aquele cacique, pessoa antiquada que o tempo todo quer poder, poder, poder. Acho que vamos ter uma eleição em 2020 do intermediário: do jovem, que tem vigor e um pouco mais de casca grossa, que já viveu um pouquinho. E eu me enquadro”, disse.
Outro lado
A reportagem procurou o Coronel Otávio, que atua na segurança do ex-governador, para ouvir Amazonino Mendes sobre as declarações de Hissa Abrahão. O coronel respondeu que iria verificar se Amazonino se manifestaria sobre o assunto.
Hissa
Aos 39 anos, Hissa Abrahão tem 12 anos de vida pública. Em 2008, se elegeu vereador com cerca de 2 mil votos. No ano seguinte, com discurso do novo se lançou ao Governo no Estado, sem composição partidária, tempo de TV me fundo partidário, e ficou em terceiro lugar com 138.280.
A projeção rendeu a ele capital político e era um dos cotados para Prefeitura de Manaus em 2012 quando anunciou aliança com o, na ocasião, ex-senador Arthur Virgílio Neto (PSDB).
Hissa foi secretário de obras de Arthur e, um ano após a vitória, a aliança rachou. No pleito seguinte, Hissa disputou e se tornou deputado federal. Em 2018, desistiu de concorrer à reeleição para a Câmara dos Deputados e se lançou ao Senado.
Era duas vagas ao Senado com uma quantidade menor de candidatos que os que iria enfrentar caso concorresse à reeleição. Hissa terminou o pleito com 282.736 votos, o que rendeu a ele o 6º lugar na disputa.
Amazonino Mendes
O ex-governador Amazonino Mendes foi quatro vezes governador do Amazonas, três vezes prefeito de Manaus e senador pelo Amazonas entre 1991 e 1998.
Na última vez que exerceu o cargo de governador, Amazonino se elegeu para um mandato tampão, em 2017, quando o ex-governador José Melo foi cassado. Amazonino contou com o apoio do senador Omar Aziz (PSD) e do prefeito de Manaus, Arthur Neto, que também havia apoiado a eleição de Melo.
Tentou o quinto mandato em 2018, mas foi derrotado, no segundo turno, pela onda do novo que elegeu o apresentador de TV, Wilson Lima, com a maior votação da história do Amazonas.
A primeira vez que Amazonino Mendes governou o estado foi em 1987. Amazonino foi eleito por voto direto com o apoio do então governador que o antecedeu no poder, Gilberto Mestrinho.
Veja a entrevista na íntegra neste link.
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