
Membros do MP-AM (Ministério Público do Estado do Amazonas) fizeram uma inspeção no Hospital de Retaguarda da Nilton Lins, inaugurado no dia anterior pelo Governo do Amazonas e sustentam que o ato foi “simbólico”. O MP-AM informou ter constatado, no local, falta de equipamentos e medicamentos para internação de pacientes. Além de falta de material de proteção individual para os funcionários da saúde.
“Na inspeção observamos que a inauguração do hospital foi simbólica. Leitos de UTIs ainda não estão em funcionamento, setores ainda estão sendo arrumados, máquinas sendo montadas e testadas, EPIs e medicamentos insuficientes, ausência de toalheiros, dispenser de sabonetes líquidos. Continuamos a questionar a razão de o Estado não utilizar os leitos clínicos do Hospital Delphina, do Hospital Getúlio Vargas, da Beneficente Portuguesa. Pacientes precisam de estruturas funcionantes na totalidade”, afirmou a promotora que atua na área da Saúde Silvana Nobre Cabral.
Segundo o release do MP-AM, a procuradora geral de Justiça disse que pretende denunciar o Governo do Amazonas por não oferecer atendimento digno às pessoas infectadas pela covid-19 e aos profissionais da saúde.
“Pessoas estão morrendo sem o atendimento devido, precisamos garantir atendimento digno às pessoas infectadas, o Estado tem o dever, a obrigação legal de conferir dignidade a esses pacientes e aos profissionais da saúde e o MP está trabalhando firmemente para garantir isso”, afirmou a procuradora-geral Leda Mara Albuquerque.
A PGJ também destacou o cenário de falta de estrutura adequada constatada na unidade pela inspeção.
“Durante a inspeção, apuramos a falta de EPI’s para os operadores, falta de medicamentos, além de equipamentos para a estruturação integral dos leitos de UTI”, disse Leda Mara, segundo a assessoria do MP-AM.
Ainda segundo o MP-AM, participaram da inspeção a procuradora-geral de justiça, Leda Mara Nascimento Albuquerque, o subprocurador-geral de Justiça para Assuntos Jurídicos e Institucionais, Carlos Fábio Monteiro, as promotoras Silvana Nobre Cabral (58ª PRODHSP – Saúde) e Cláudia Câmara (54ª Prodhsp – Saúde), os promotores Alberto Rodrigues Júnior (secretário-geral do MPAM), Paulo Stélio (coordenador do Centro de Apoio às Promotorias de Justiça Especializadas na Proteção e Defesa do Meio Ambiente, do Patrimônio Histórico e Urbanismo – CAO-MAPH-URB) e Hilton Serra Viana (integrante).
Não há notícias de inspeção nas unidades do estado em que vídeos, com repercussão na mídia nacional e em redes sociais, mostram o desespero dos parentes de pacientes, as denúncias dos médicos e profissionais da saúde sobre a falta de estrutura e atendimento à remoção das vítimas para unidades com respiradores e pacientes dividindo espaço com corpos de pessoas mortas pela covid-19.
A reportagem questionou a Secom (Secretaria de Estado de Comunicação) sobre a inspeção do MP-AM e não teve respostas até o fechamento da matéria.
A reportagem também questionou a assessoria de comunicação do MP-AM sobre visitas nas unidades em que as pessoas buscam atendimento e registram os dramas da população. Não houve resposta até esta publicação.
O governo informou, no sábado, que a unidade começava a operar com 66 leitos, sendo 16 de UTI. O Governo do Estado informou buscar insumos e recursos humanos para alcançar a capacidade máxima da unidade, de 400 leitos.
A inauguração contou com a presença de deputados da base aliada e bênçãos de lideranças religiosas e políticas.
*Posteriormente à publicação da matéria, o Governo do Amazonas emitiu nota negando que a inauguração tenha sido simbólica e informou que, no domingo, já recebeu seis pacientes e que receberá outros seis que serão removidos por meio do sistema de regulação da Susam.
O governo informa ainda que “mantém todos os esforços” para ampliar os leitos no Delphina e no Hospital de Campanha.
Nota do governo:
“O Governo do Amazonas informa que o Hospital de Retaguarda da Nilton Lins, aberto ontem, já recebeu seis pacientes e, neste domingo, receberá mais seis que já estão regulados no sistema da Secretaria de Estado da Saúde (Susam).
As transferências estão sendo feitas à medida que o leito é demandado pelas demais unidades porta aberta da Susam. Dessa forma, o Governo não considera que a inauguração da unidade tenha sido simbólica e continua aberto à prestar esclarecimentos aos órgãos de controle.
Reitera, ainda, que mantém todos os esforços para ampliar a oferta de leitos tanto no Hospital e Pronto Socorro Delphina Aziz, referência para casos do novo coronavírus (Covid-19), quanto para o Hospital de Retaguarda da Nilton Lins. Devido à urgência na abertura de novos leitos, a unidade de retaguarda foi aberta, inicialmente, com 36 leitos, sendo 16 de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
A Susam está trabalhando para ampliar a capacidade de atendimento, que nessa unidade, é de 400 leitos.
Entre as medidas, está a convocação de 704 técnicos de enfermagem, por meio de processo seletivo, que vão reforçar o atendimento na Nilton Lins , hospitais 28 de Agosto, Platão Araújo e João Lúcio, em SPAs, dua UPAs, o Hospital Getúlio Vargas e a maternidade Chapot Prevost.
Além disso, tem recebido apoio do Governo Federal. Outros 517 profissionais de saúde aprovados no Concurso dos Bombeiros também foram convocados, além de ter recebido 16 voluntários do Governo Federal. Os mesmo esforços estão sendo feitos para obter insumos e equipamentos, o que neste período de pandemia torna-se muito mais complexo.“
Foto: Divulgação Governo do Amazonas