Investigada na Sangria, ex-secretária é homenageada na sede do governo

*Matéria atualizada á 14h03 após contato da Secom para indicar informações sobre a gestão de Assayag, adicionadas ao texto.

Seis meses após pedir exoneração da Secom (Secretaria de Estado de Comunicação) por causa do avanço e dos desdobramentos da operação da Polícia Federal Sangria envolvendo seu nome e do marido, a ex-secretária Daniella Assayag voltou à sede do Governo do Amazonas nesta segunda-feira, dia 14, para receber uma homenagem.

As informações recebidas por fontes do blog foram confirmadas pela Secom. Além dos funcionários da pasta, estavam presentes o atual secretário de comunicação, Rodrigo Araújo, e a secretária de governador Wilson Lima, Lúcia Carla.

Daniella Assayag foi alvo de busca e apreensão e o marido dela, o médico Luiz Avelino, preso na segunda fase da Operação Sangria deflagrada no dia 8 de outubro.

A ex-secretária da Secom participou da inauguração da nova sala da secretaria, foi homenageada durante uma confraternização pelos funcionários da pasta e fez discurso defendendo sua inocência no caso que investiga compra superfaturada de respiradores inadequados em pleno pico da pandemia.

No período, pessoas morreram no Amazonas sem atendimento adequado à covid-19 e as imagens do sofrimento das famílias e pacientes circularam em todo o mundo. Hoje, o estado registra mais de cinco mil mortos pela doença e é um dos que menor controle teve do avanço acelerado da contaminação.

A ex-secretária homenageada é apontada pela Subprocuradoria da República como um dos elos entre o nome do governador Wilson Lima (PSC) e a suspeita de superfaturamento de respiradores inservíveis para covid-19 em plena pandemia no Amazonas pela relação amizade e de influência no governo.

“Bem quista”

De acordo com a Secom, Daniella foi convidada para receber uma homenagem quando souberam que ela iria à secretaria para tratar de “pendências burocráticas e administrativas” referentes ao período em que foi titular da Comunicação do governo.

A Secom informou que a ex-secretária é bem quista pelos funcionários que resolveram “expressar solidariedade e reconhecimento” por ela ter iniciado um “processo de modernização” da comunicação no governo, incluindo a reforma da sala da secretaria, e pela “excelente gestora” que foi no período em que esteve no governo Wilson Lima.

A Secom informou ainda que na gestão de Daniella a secretaria passou pela maior reforma organizacional e de estrutura física dos últimos 20 anos.

A Secom não respondeu quem convidou Assayag. Para a secretaria, Daniella Assayag não fez “discurso” e tocou no assunto dos respiradores e Operação Sangria quando um funcionário da pasta, ao homenageá-la, disse esperar que ela supere o problema.

A Secom informou que o governador não sabia nem da homenagem e nem que a ex-secretária estaria presente na sede do governo. Ainda segundo a Secom, Wilson Lima não participou da reunião.

Questionada se alguém cogitou que a presença de Assayag na atual condição da investigação representaria um dano à imagem do governo, a secretaria respondeu que a ex-secretária é uma “pessoa comum, cidadã livre, sem condenação, que foi gestora e que a homenagem foi um gesto humano de reconhecimento e respeito”.

A reportagem enviou mensagem ao secretário de comunicação Rodrigo Araújo sobre o episódio e não recebeu resposta.

Daniella Assayag foi procurada por meio do telefone 92 99XX-XX12 e também pelo direct do Instagram. Não houve resposta até esta publicação.

Operação Sangria

A investigação que apura compra superfaturada de respiradores inservíveis para paciente covid numa loja de vinhos em pleno pico da pandemia, envolveu o nome da ex-secretária Daniella Assayag quando uma das sócias da empresa Sonoar, presa na primeira fase, fez delação premiada dizendo que tinha vendido meses antes sua parte na empresa ao marido da secretária, o médico Luiz Avelinno.

Renata Mansur disse ainda ter sido pressionada pelo médico e a outra sócia a não revelar o nome dele no negócio.

Pouco antes da prisão, o secretário Rodrigo Tobias afirmou à CPI da Saúde que Daniella participava de reuniões técnicas da pandemia e demonstrava interesse nas questões relacionadas a compra nos respiradores, alvo da investigação.

Logo após vir à tona o nome do marido como sócio oculto da empresa que mais lucrou com o negócio, a então secretária Daniella Assayag convocou uma coletiva negando participação na irregularidade, mas acabou revelando que tinha conhecimento do problema com os respiradores dois meses antes da ação da PF.

Depois de preso, Tobias, em depoimento, à PF afirmou que a secretária fez defesa veemente para que o Estado comprasse da Sonoar, empresa do marido.

Em trecho dos pedidos de prisão e busca e apreensão na segunda fase da Sangria, a subprocuradoria apresenta a ex-secretária como parte do círculo de influência do governador.

Segundo a subprocuradoria, pela amizade e cargo que ocupava, a ex-secretária teve “participação na efetiva aquisição superfaturada de respiradores pelo Governo do Amazonas, inclusive a partir de informações privilegiadas obtidas” em reunião da Susam (Secretaria de Estado de Saúde).

O casal nega que tenha participado da irregularidade.

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