
José Alcimar de Oliveira*
São belas, verdadeiras e fortes as palavras do Grande Profeta Isaías. A verdade é da ordem da beleza e também o modo de ser do real.
Não é à toa que em Lc 4, 16-19 encontramos o relato de que Jesus, num sábado, na pequena Nazaré onde ele foi criado, entra numa sinagoga para rezar. Cidade é um exagero, na verdade Nazaré era um povoado vítima de reconhecida e construída má fama, haja vista que por diversas vezes chegava aos ouvidos do Nazareno o preconceito corrente que repetia: pode vir alguma coisa boa de Nazaré?
Ao entrar na sinagoga lhe dão um livro, escrito na forma de um rolo, e Ele escolhe exatamente, para ler, uma passagem do Profeta Isaías:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; enviou-me para anunciar a Boa Nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a libertação, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ANO DA GRAÇA DO SENHOR”.
Ponho em caixa alta o versículo acima porque ele resume o sentido da missão de Jesus de Nazaré.
Não se trata de uma simples publicação, de um outdoor, ou de uma nota publicitária paga.
Ali ele torna público o projeto de sua vida, que lhe vai custar a vida, em razão de uma injusta e dupla condenação: pelo fundamentalismo religioso e hipócrita dos Doutores da Lei, de um lado, e pelas autoridades do Império Romano, de outro.
Não esquecer que a Palestina de Jesus, naquele tempo, estava ocupada pelas forças imperiais romanas.
Mas Jesus enfrenta os dois poderes. Não negocia sua liberdade. É por isso que Santo Irineu (nome que vem do grego eirenaios e que traduzimos por pacífico), que viveu no século II depois de Cristo, afirma que Jesus de Nazaré foi o único homem livre da história.
Na liturgia da missa de minha ordenação sacerdotal, em 26 de fevereiro de 1983, na Igreja de São Jorge, em Manaus, escolhi como leitura este belo texto escrito por Lucas.
A burguesia costuma repetir que os anos de 1980 perfizeram a década perdida. Digo o contrário: foram anos luminosos, de lutas e conquistas sociais.Onde há luta por justiça e direitos coletivos há luz.
Ninguém apaga a verdade da história: da luta pelas diretas, da Consituição de 1988, das pastorais libertadoras, das Comunidades Eclesiais de Base, da Teologia Latino-Amercana da Libertação.
Anos de semeadura libertária. Estas sementes, a despeito das cinzas produzidas pelo neoliberalismo, continuam vivas como brasas à espera de um sopro coletivo.
*José Alcimar de Oliveira, teólogo sem cátegra, em Manaus, AM, 02 de fevereiro de 2021.