Lula não consegue relação “mais republicana” com Congresso e terá de ceder emendas para começar a governar, avalia Marcelo Ramos

O ex-vice-presidente da Câmara dos Deputados e advogado Marcelo Ramos (PSD) avalia que o Governo Lula não será capaz de restabelecer relação “num marco mais republicano” com o Congresso Nacional neste início de gestão e precisará ceder à lógica de concessão de cargos e emendas individuais para começar a governar. A declaração foi feita em entrevista à coluna de política da rádio BandNews Difusora, na manhã desta segunda-feira, dia 8.

“Desde a criação do orçamento secreto, da emenda do relator, que nome dê àquela excrecência, deputado só vota por emenda. Deputado não vota porque o partido tem ministério ou porque deram cargo nos estados. Só vota quando o governo começar a liberar emendas. Emenda individual deve ser R$ 19 milhões. Tem deputado que fez R$ 500 milhões de extra”, afirmou Ramos.

O ex-deputado disse que a relação de poder está contaminada e não é possível ao Governo Lula, ao menos num primeiro momento, alterar o parâmetro para colocar o governo em funcionamento.

“Você tem algo que contaminou completamente as relações de poder na Casa. Se o Governo Lula vai ser capaz de restabelecer essa relação num marco mais republicano, eu sinceramente duvido muito. Acho que a base só vai se organizar quando começarem a nomear os cargos e distribuir os recursos. Num primeiro momento, ou é assim ou ele não consegue base mínima para aprovar matérias relevantes.”

Na entrevista, Marcelo Ramos falou sobre sua atual relação com Manaus, que considera tomada por um “transe” ao se referir à votação massiva na extrema-direita. O ex-parlamentar avalia a representação do Amazonas na Câmara e no Senado. Ramos também falou sobre a atuação política dos nomes novos do parlamento local e nacional, a continuidade do avanço da extrema-direita na América Latina e, mais uma vez, nega particpação na disputa eleitoral pela Prefeitura de Manaus em 2024.

Abaixo confira trechos transcritos da entrevista e no link a entrevista completa de Marcelo Ramos.

Amazonas, oportunidades e reconhecimento

“O Amazonas tem uma característica diferenciada dos outros estados. Os outros estados valorizam os seus filhos que conseguem prosperar no Brasil. O Amazonas, não. O Amazonas se desespera de como derrubar. Quem se projeta nacionalmente, ao contrário de ter um reconhecimento, uma valorização no Estado, tem uma guerra de desmonte de reputação.”

“As oportunidades que eu tenho profissionais, hoje, são muito válidas. Eu, hoje, ganho cinco vezes o que ganha um deputado federal. Mas, fora daqui. Tirando a Fieam, todas as outras oportunidades são fora daqui.”

“Eu fui o deputado federal mais relevante da história do Amazonas. Não fui o mais relevante desse mandato. Fui da história do Amazonas. Nesses quatro anos, eu fui o deputado que mais mandou dinheiro para o Amazonas em toda história; fui o que mais apresentou e aprovou projetos de lei da história; deputado que presidiu as comissões mais importante, de toda história (parlamentares do Amazonas); único amazonense que assumiu a vice-presidência da Câmara dos Deputados e a vice-presidência do Congresso Nacional, sendo que no Congresso das 28 sessões do biênio que eu fui vice, presidi 26. Por conta da confiança que o presidente Rodrigo Pacheco tinha em mim. Eu construí um patrimônio político, que é profissional e reputacional, que me permite ter uma vida próspera fora de Manaus. Meus laços diminuídos pelas oportunidades que tenho fora. “

“Está acontecendo um transe aqui (Manaus), coletivo. Uma hora isso vai passar. Quando passar, talvez eu resgate meus laços com a cidade.”

Deputados federais, votos e emendas

“Desde a criação do orçamento secreto, da emenda do relator, que nome dê aquela excrescência, deputado só vota por emenda. Deputado não vota porque o partido tem ministério ou porque deram cargo nos estados. Só vota quando o governo começar a liberar emendas. Emenda individual deve ser R$ 19 milhões. Tem deputado que fez R$ 500 milhões de extra”

“Você tem algo que contaminou completamente as relações de poder na casa. Se o Governo Lula vai ser capaz de restabelecer essa relação num marco mais republicano, eu sinceramente duvido muito. Acho que a base só vai se organizar quando começarem a nomear os cargos e distribuir os recursos. Num primeiro momento, ou é assim ou ele não consegue base mínima para aprovar matérias relevantes.”

Extrema direita e esquerda

“O mundo tem uma extrema-direita organizada, que não tem vergonha de sê-lo. Tem gente que tem orgulho de ser nazista, de ser fascista, de defender tortura, de defender que mulher tem que receber salário menor que o de homem, que negro é inferior ao branco. Tem gente que tem orgulho de verbalizar isso e essa gente está organizada.”

“A esquerda também tem um erro tremendo: tirar da centralidade do debate o emprego e fome e colocar a questão identitária. Não que essas questões não sejam importantes de serem debatidas. Agora, desculpe, num País que tem 33 milhões de pessoas passando fome, isso não pode ser prioridade. Prioridade é emprego e comida. Isso é um erro da esquerda mundial. Esse setor identitário sequestrou parcela da esquerda e tirou do centro do debate o que une a esquerda com o centro, que são as pautas de natureza civilizatória.”

“O que une esquerda com centro e até com direita moderada e não fascista? Combate à fome, desemprego, proteção do meio ambiente. Vamos lá, proteção do meio ambiente deixou de ser de esquerda, as grandes corporações têm na essência da sua estratégia a proteção do meio ambiente. Existem pautas que ampliam e unificam. O atual momento político, com crescimento de grupos de ultradireita, exige uma esquerda capaz de se apegar a essas pautas  e não se entrincheirar nas pautas identitárias, que só isolam cada vez mais”

Bancada do Amazonas no Congresso

“Temos um deputado experiente e alinhado com o governo do presidente Lula, que é o deputado Sidney Leite, vivido e que conhece o funcionamento da Câmara. Temos os deputados Átila Lins e Silas Câmara, que nunca se preocuparam muito em ser relevantes nos grandes temas do País. São deputados com trabalho mais paroquial, no dia a dia. Não estou nem avaliando se isso é bom ou ruim. Deve ser melhor tanto que se elegeram e bem.”

“Tem o deputado Alberto Neto, que tem essa atuação mais midiática e é muito alinhado com o bolsonarismo. E você tem quatro deputados novatos, que vão precisar de um tempo ali para se posicionar.”

“Agora, qual o lado bom da nossa bancada? O lado bom da nossa bancada é que nós temos dois senadores que, se eles não quiserem, não aprovada nada no Senado, que são os senadores Omar Aziz e Eduardo Braga. Se esses dois senadores não quiserem, nada é aprovado no Senado porque o Omar é muito relevante no PSD, que tem 15 senadores, e o Eduardo é muito relevante dentro do MDB, que tem 14 senadores. Eles meio que são ali o nosso salvo conduto nesse debate da reforma tributária. Se nós formos atropelados na Câmara, nós temos ali uma barreira de contenção no Senado.”

https://www.youtube.com/live/NPM06NPe3L8?feature=share&t=1372

https://www.youtube.com/live/NPM06NPe3L8?feature=share&t=1372
“O que mais nos preocupa é proteção territorial: o Vale do Javari não está protegido”, afirma Bushe Matis