Madeira: um rio devastado pelo desmatamento, obras do Estado e garimpo ilegal

Imagem: Reprodução transmissão BandNews Difusora no Youtube

Na semana passada, Autazes, Manaus e o mundo se assustaram com as centenas de balsas e dragas instaladas no rio Madeira, no município a 112 quilômetros da capital do Amazonas.

A notícia de que a área era promissora para a extração ilegal de ouro se espalhou e os garimpeiros fizeram uma corrida pelo mineral jamais vista próximo a uma capital que reúne as principais forças de segurança, repressão e fiscalização de crimes ambientais.

A verdade é que o garimpo ilegal não é uma novidade na região e é reflexo de uma grave desestrutura dos órgãos responsáveis pela fiscalização e dos problemas sociais que atingem os ribeirinhos.

O Exclusiva entrevista no episódio 19 da versão podcast o sênior campaigner do Greenpeace Brasil, o ativista Danicley de Aguiar, que atuou no diagnóstico da cidade flutuante de garimpo ilegal que se formou em Autazes.

O programa também ouve o biólogo e doutor em física ambiental, professor da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) Marcelo dos Anjos. Ele mora e trabalha em Humaitá, município a 696 quilômetros de Manaus que fica na calha do Madeira.

O programa inicia com um relato de campo do repórter fotográfico da AP (Associated Press) Edmar Barros que conversou com os garimpeiros e esteve na cidade flutuante do garimpo ilegal antes da dispersão da mesma e da operação que queimou, segundo a PF (Polícia Federal), 130 balsas que atuavam ilegalmente no local.

Texto e produção: Rosiene Carvalho e Thaís Gama.

Produção: Rafael Campos, Maurício Gama e Clara Toledo.

Confira o podcast ou veja a transmissão da gravação ao vivo do programa pelo Canal do Youtube da BandNews Difusora no final desta publicação:

“Se eu fosse ouvir o que as pessoas falavam, eu jamais teria vindo fazer a pauta. Quase todos colegas disseram: não vai que você vai ser recebido à bala. Lembrei muito do Monte Horebe. Todo mundo dizia para gente não ir que era uma área perigosa. E não era bem assim. Quando cheguei, fui bem recebido. Não teve hostilidade. O que vi aqui foi uma coisa diferente do que todo mundo pensa. Não quero aqui discutir em relação à legalidade. Todo muno sabe que garimpo é ilegal. Mas existe muita lenda. No caminho aqui, vimos dezenas e dezenas de famílias abandonadas. Balsas queimadas. As famílias abandonadas na beira dos rio com crianças, com sede. Não tem uma autoridade, o Ministério Público, nem estadual e nem federal, para acompanhar uma operação dessas. (Edmar Barros)”

“Temos que debater políticas de desenvolvimento que contenham esses bolsões de pobreza, que permitam que as pessoas evoluam na condição social tendo a capacidade de conviver com a floresta. Precisamos de uma economia que seja capaz de conviver com a floresta. Não podemos dinamizar a economia com outras cadeias produtivas baseadas na predação do ambiente (Danicley Aguiar)”

“Precisamos entender a rede de financiamento desta atividade. É fato que tem famílias em vulnerabilidade social sendo utilizadas por este esquema e é fato e que o Estado tem que protegê-las. Mas é fato também que o Estado tem que coibir a quebra da lei.” (Danicley Aguiar)

“A gente fala muito da contaminação do mercúrio atribuído exclusivamente ao garimpo, mas não é bem e só isso. O mercúrio é um metal que está presente no solo. Quando ocorre o desmatamento por uso e ocupação do solo, novas áreas agricultáveis e tudo mais: a supressão de vegetação com queima, ela faz com que este mercúrio presente no solo volatilize e depois seja carreado através das nuvens e precipitado dentro da calha do rio., sendo depositado no sedimento.”(Marcelo dos Anjos)

“O que acontece é que a soma de atividades, como a presença do garimpo., a presença do desmatamento, da supressão de cobertura vegetal com queima, a utilização de barreiras como algumas hidrelétricas, todas elas potencializam e o resultado final é o incremento do mercúrio nos corpos d’água, na calha do rio” (Marcelo dos Anjos).

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