
O ex-presidente Michel Temer (MDB), enquanto exercia o cargo, foi alvo duas vezes de pedido de investigação na Câmara dos Deputados em 2017.
Nas duas ocasiões, com voto da maioria dos deputados da bancada do Amazonas, o ex-presidente foi blindado pelos parlamentares das investigações.
Na manhã desta quinta-feira, dia 21 de março, dois meses e meio após ficar sem foro privilegiado, Temer foi preso pela força-tarefa da operação Lava-Jato em São Paulo por decisão do juiz federal de primeiro grau do Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, em pleno trânsito, quando se deslocava na cidade no carro pessoal.
A suspeita contra o ex-presidente da República é que ele tenha recebido propina no processo de contratação da Eletronuclear, estatal que geriu a construção da usina Angra 3.
De acordo com a decisão, a irregularidade teria ocorrido quando Temer era vice-presidente do País.
DENÚCIAS ANTERIORES
A primeira denúncia contra Michel Temer foi analisada no plenário da Câmara dos Deputados no dia 2 de agosto de 2017.
Temer era acusado pelo então procurador geral da República, Rodrigo Janot, de participar de um esquema de recebimento de propina envolvendo o grupo J&F e o ex-deputado federal e ex-assessor da Presidência da República, Rodrigo Rocha Loures (MDB-PR).
Loures é aquele deputado federal que, num monitoramento da PF, apareceu num vídeo saindo de um restaurante com uma valise com dinheiro e corre até o carro. A PGR suspeitava que a propina beneficiaria o ex-presidente.
Na Câmara, a proposta de investigar o ex-presidente foi derrubada num placar de 263 votos contra 227, sendo duas abstenções e 19 ausências.
Seis dos oito deputados que representavam o Amazonas, na ocasião, votaram a favor de Michel Temer. Apenas dois votaram pelo prosseguimento das investigações.
Parte deles, justificaram os votos.
“PELO BEM DO PAÍS”
O então deputado federal Alfredo Nascimento (PR) apenas se manifestou favorável ao arquivamento da denúncia. Alfredo disputou uma vaga ao Senado no ano passado e ficou sem mandato.
O então deputado federal Arthur Bisneto (PSDB) também votou contra a investigação de Michel Temer. Bisneto concorreu como vice de Omar Aziz (PSD) ao governo e ficou sem mandato.
Bisneto disse que nunca negociou emenda e nem tinha cargos no governo. Em seguida, afirmou que o Brasil precisava passar por reformas “estruturantes”, que fizessem a máquina pública se modernizar.
“País que olha para o futuro não pode trocar de presidente como quem troca de roupa”, afirmou.
O deputado federal reeleito Átila Lins (PP) disse que votava a favor de Temer “pela estabilidade do País”.
“FORA TEMER”
A deputada federal não reeleita Conceição Sampaio (PSDB) lamentou que “mais uma vez” a Câmara estava passando por aquela situação e votou em favor do prosseguimento da investigação.
O então deputado federal Hissa Abraão (PDT) disse que “em homenagem a milhões de brasileiros e brasileiras honestos” que não temiam investigação votaria a favor da apuração das denúncias contra Temer.
“Xô, corrupção. Fora Temer”, disse Hissa na ocasião. Hissa disputou uma vaga ao Senado e ficou sem mandato na última eleição.
“PELAS FAMÍLIAS”
O deputado federal não reeleito e então líder do Governo Temer, Pauderney Avelino (DEM), ao votar contra a investigação do ex-presidente, declarou: “Quem deveria estar preso é Joesley Batista da JBS”, disse.
O então deputado federal Sabino Castelo Branco também votou para livrar Temer da investigação e declarou que assim procedia “por um Brasil melhor”:
“Para a tristeza de muitos e alegria de poucos que estão querendo o fim de um Brasil melhor, meu voto é sim”, e votou pelo arquivamento da denúncia.
O deputado federal reeleito Silas Câmara (PRB) votou contra a continuidade da investigação, segundo ele, motivado pelo progresso do País e pelas famílias.
“Pela prosperidade, progresso e segurança jurídica da nação e em favor das famílias …”, disse na ocasião.
SEGUNDA BLINDAGEM
A segunda vez que a Câmara dos Deputados barrou a investigação contra o ex-presidente Michel Temer foi em 25 de outubro de 2017.
Na ocasião, a PGR queria autorização para que tramitasse no STF (Supremo Tribunal Federal) processo contra Temer e os então ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e Secretário-geral da Presidência, Moreira Franco, por formação de quadrilha, obstrução de Justiça e corrupção.
Desta vez, o Amazonas colaborou com quatro votos em favor da não investigação do ex-presidente: Alfredo Nascimento, Átila Lins, Pauderney Avelino e Silas Câmara reforçaram a blindagem a favor do ex-presidente.
A ex-deputada Conceição Sampaio votou a favor da investigação e o deputado Carlos Souza (PSDB) se ausentou da votação após o partido dele orientar voto em favor do ex-presidente.
Hissa Abraão e Sabino Castelo Branco estavam em licença médica, na ocasião.
Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil via Site Amazonas Atual