
O professor na Escola de Economia de São Paulo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e coordenador do estudo “Zona Franca de Manaus Impactos, Efetividade e Oportunidades”, Márcio Holland, afirmou aos representantes da indústria no Amazonas que a manutenção de empregos e renda é uma medida necessária à recuperação da economia pós-coronavírus.
Holland avaliou que os setores economia e CNI (Confederação Nacional da Indústria) não estão avaliando corretamente o momento e defende um diagnóstico dos possíveis cenários para traçar estratégias de enfrentamento os efeitos da pandemia.
Ao comentar sobre as propostas da CNI (Confederação Nacional da Indústria) aos representantes da indústria no Amazonas, Márcio Holland afirmou que as mesmas deveriam ser mais agressivas.
“Precisam focar mais na manutenção do emprego e da renda ao contrário do que está sendo defendido do corte do salário proporcional ao corte da jornada e antecipação de um possível 25% de seguro desemprego, o que é bem-vindo, mas poderia ter um programa adicional que é o de redução de tributos condicional a sustentação do emprego e salários, opcional”, opinou.
O pesquisador afirmou que esta postura pode piorar o cenário de recessão. Holland reuniu com representantes da indústria do Amazonas de forma virtual na sexta-feira, dia 20. As informações foram divulgadas pela assessoria de comunicação do Cieam (Centro das Indústrias do Estado do Amazonas).

Márcio Holland disse aos empresários da ZFM que impacto da pandemia do Covid-19 será bem mais severo que o que ocorreu após a greve dos caminhoneiros, em maio de 2018.
“Em síntese, eu preciso dizer para vocês que o surto de coronavírus vai dar um impacto na atividade econômica bem mais severo que a greve dos caminhoneiros, e com medidas mais intempestivas e agressivas por parte do governo, neste exato momento, nós vamos economizar logo na frente porque a recuperação será mais rápida e menos custosa”, disse o pesquisar.
Comparação com greve dos caminhoneiros
O pesquisador disse que num cenário comparado à greve dos caminhoneiros, o que destacou não ser o caso, já seriam necessárias intervenções de políticas públicas na economia.
“Nossa projeção já indica para o final do quarto trimestre deste ano que o crescimento acumulado estará negativo em 2,5%, num cenário que a gente já considera hoje como necessário existir a intervenção de políticas públicas. Daí a economia volta a se recuperar num formato em ‘V’ para meados de 2021, voltando a trajetória pré-surto de coronavírus”, explicou.
Holland traçou a diferença dos efeitos do coronavírus e da greve dos caminhoneiros: “A greve dos caminhoneiros foi uma interrupção local na cadeia de produção por 10 dias e o coronavírus é uma interrupção na cadeia global de produção e está durando muito mais que 10 dias” .
Cenário de maior colapso
O pós-doutor em Economia apresentou, no entanto, cenários ainda mais severos para a economia caso o Brasil sofra um colapso no sistema de saúde como vive a Itália, que ampliou o rigor do isolamento social e paralisação da economia.
“O governo mantém o nível atual de intervenção de política pública, que eu julgo muito tímida, não só eu, esse é um consenso que eu tenho falado com diversos outros economistas. Se for mantido o nível atual de medidas anunciadas até ontem por parte do Ministério da Economia, da Secretaria do Trabalho e Previdência, em geral e do Banco Central, nós vamos caminhar para um derretimento próximo a 4,5% para o PIB este ano, indo para uma recuperação parecida com a recuperação pós-greve dos caminhoneiros, ou seja, somente ao final de 2022 para 2023 estaríamos voltando a situação de alguma normalidade”, explicou.
Governo Bolsonaro emitiu MP que permitia suspensão de contrato de trabalho e voltou atrás
Na noite deste domingo, dia 22, o Governo Bolsonaro emitiu uma medida provisória que permite que funcionários fiquem até quatro meses sem trabalhar e também sem receber salário, a depender da negociação individual com o empregador.
Criticado pelo presidente da Câmara dos Deputados e outros setores da sociedade civil, na manhã desta segunda-feira, o governo voltou atrás no artigo que permitia a suspensão do contrato de trabalho.
Entidades
Da reunião em que o pesquisador deu sua opinião aos representantes da indústria do Amazonas, estiveram membros da Fieam (Federação da Indústria do Estado do Amazonas), Eletros (Associação de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), Cieam e Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares).
Fotos: Cieam/Divulgação