
A empresária Renata de Cassia Dias Mansur declarou que a ex-sócia Luciane Andrade e o médico Luiz Avelino queriam que ela cometesse ato ilícito e que a abordagem ocorreu na mesma ligação em que a investigada diz ter sido pressionada a esconder que o marido da ex-secretária de Comunicação do Amazonas, Daniela Assayag, era sócio da Sonoar.
A empresa Sonoar, investigada pela Polícia Federal, foi a que mais lucrou na venda de respiradores inadequados com sobrepreço ao Governo do Amazonas em plena crise da pandemia da covid-19 no estado. Avelino nega as acusações.
“Que na verdade Luciane e o médico Luiz Avelino queriam pagar a declarante da sua parte da venda da empresa com o dinheiro da própria Sonoar como retirada de pro-labore, sabendo que provavelmente este dinheiro seria apreendido pelos crimes que cometeram, sendo que seu marido, que é auditor fiscal, lhe aconselhou de maneira nenhuma fazer isso, pois era ilícito”, diz trecho do depoimento de Renata Mansur, que o blog teve acesso.
A abordagem, segundo o depoimento, ocorreu por meio de vídeoconferência no dia 21 de abril. O depoimento foi prestado pela empresária à PF (Polícia Federal) no dia em que a operação Sangria foi deflagrada e ela presa em São José dos Campos. Renata assinou acordo de delação premiada.
Avelino é marido da ex-secretária de Estado de Comunicação do Estado do Amazonas, a jornalista Daniela Assayag, que foi exonerada do cargo cinco dias após a operação e quatro depois da informação de que ele era sócio da Sonoar vir a público.
Confira todo depoimento no final da matéria.
No depoimento, Renata concordou em fazer delação premiada e entregou à PF, de “forma espontânea”, segundo o depoimento, uma pasta de documentos para provar que ela não era mais sócia da Sonoar desde 1º de janeiro deste ano, quando sua parte foi transferida para o marido da secretária.
Renata sustenta que não participou e nem se beneficiou do negócio porque já estava fora da sociedade.
A empresária disse ainda à PF que sofreu pressão do médico e da ex-sócia para não revelar que Avelino havia a substituído na sociedade depois que as suspeitas sobre o negócio repercutiram na mídia, conforme noticiou o site UOL no domingo, dia 5.
“Que no dia 21.04 foi feita uma vídeoconferência com a declarante, onde estavam presentes virtualmente Luciana e o médico Luiz Avelino, onde mais uma vez a declarante foi pressionada a ficar quieta de tudo pois o médico Luiz Avelino não poderia aparecer; Que a partir daí Luciana passou a tratar a declarante como sócia, lhe chamando de sócia, como se estivesse construindo uma situação fictícia para se proteger e proteger o médico Luiz Avelino”, afirma Renata em outro trecho do depoimento prestado à PF.
A videoconferência ocorreu um dia após a publicação de matéria no site UOL sobre a compra do Governo do Amazonas de respiradores inadequados com sobrepreço numa adega.
Covid-19: sobrepreço em respiradores no AM
Em pesquisa feita pela PGR (Procuradoria Geral da República), o preço dos respiradores comprados pelo Governo do Amazonas, em média, por R$ 106.285, 71 custam no mercado R$ 45.485, o que representou um sobrepreço de 133,67%.
No dia 8 de abril às 15h01, a Sonoar vendeu os respiradores no valor de R$ 2,48 milhões para a FJAP, (CNPJ da empresa de vinhos) que, por sua vez, vendeu os aparelhos para o Estado no mesmo dia, apenas 2 horas e 32 minutos depois, pelo valor de R$ 2,976 milhões. Houve um lucro de R$ 496 mil, num intervalo de duas horas.
Segundo a CPI da Saúde, a Sonoar também teve largo lucro no negócio. Isso porque comprou os respiradores de fornecedores em outros estados a um total de R$ 1.091.800,00. A venda para a loja de vinhos ocorreu no valor de R$ 2.480.000,00, o que gerou um lucro de R$ 1.414.270,04, num intervalo de seis dias.
Outro dado polêmico do negócio é que a Sonoar ofereceu o produto para o governo que recebeu a proposta no Setor de Compras da Secretaria de Saúde, ignorou o mesmo e, na sequência, a empresa do marido da secretária de comunicação do Amazonas fechou negócio com a FJAP.
Não houve reclamação por parte da Sonoar ao ser preterida pelo governo. A empresa vendeu os aparelhos à FJAP pelo mesmo preço oferecido ao Governo do Amazonas.
Para a PGR e para a CPI da Saúde, as transações demonstram fraude no processo de compras e superfaturamento e que as irregularidades começaram na Sonoar. O presidente da CPI da Saúde, o deputado estadual Delegado Péricles (PSL), afirma que a compra do governo foi moldada para o produto que a Sonoar tinha para venda.
Operação Sangria
No dia 30 de junho, a PF deflagrou a Operação Sangria que investiga desvio de recursos que deveriam ser aplicados com urgência no sistema de saúde para enfrentamento ao Covid-19. A operação tem como foco o governador do Estado no Amazonas, Wilson Lima (PSC), no caso dos 28 respiradores inadequados comprados de uma fornecedora de vinhos com suspeita de sobrepreço.
Na operação, foi presa a ex-secretária de Estado de Saúde, Simone Papaiz, outros funcionários da Susam e empresários. Houve cumprimento de mandado de busca e apreensão no gabinete do governador, na sede do Governo do Amazonas, na casa de Wilson Lima e ele próprio foi abordado pela PF no aeroporto de Brasília, quando teve o tablet e o celular apreendidos.
Após vir à tona a informação que um dos sócios da empresa Sonoar, suspeita de participação na irregularidade, Luiz Carlos Avelino Júnior, é marido da jornalista Daniela Assayag, a secretária deixou o cargo no domingo à tarde, dia 5.
Papaiz pediu exoneração após passar cinco dias presa em penitenciária do Amazonas cumprindo prisão temporária.
Todos negam que tenham cometido atos ilícitos.
Outro lado
De acordo com a defesa do médico e marido da ex-secretária Daniela Assayag, ele não é e nem foi sócio de fato e de direito da empresa Sonoar.
Ainda segundo a defesa do médico e marido da ex-secretária, Avelino não acompanhou a venda dos respiradores e não recebeu nenhum valor oriundo da negociação. A defesa dele sustenta que o médico não tomou conhecimento de qualquer ato ilícito que possa ter sido praticado pela Sonoar e suas sócias.
Leia a nota na íntegra:
“A defesa esclarece que o médico Luiz Avelino não é, ou foi, sócio de fato ou de direito da empresa ANDRADE E MANSUR COMÉRCIO DE MATERIAIS HOSPITALARES LTDA – SONOAR. O DR. LUIZ AVELINO NÃO ACOMPANHOU A VENDA DOS RESPIRADORES, NÃO RECEBEU QUALQUER VALOR EM DECORRÊNCIA DE TAL NEGOCIAÇÃO, NÃO CHEGOU A TER PODERES PARA REPRESENTAR A EMPRESA, NÃO CHEGOU A EXERCER QUALQUER FUNÇÃO DE GESTÃO DA SOCIEDADE, NÃO CONHECE AS EMPRESAS OU OS SÓCIOS DAS PESSOAS JURÍDICAS INVESTIGADAS NO INQUÉRITO.
Ainda que assim não fosse, não tomou conhecimento de qualquer ato ilícito praticado pela SONOAR ou pelas suas sócias.”
Leia o depoimento de Renata Mansur:


