Marido de ex-secretária teve prisão temporária renovada após mentir à PF, segundo delegado da Sangria

Foto: Médico e marido da ex-secretária de Comunicação Daniella Assayag, Luiz Avelino, e empresário e ex-militar Gutemberg Alencar ao chegarem ao IML antes de irem para penitenciária (Edmar Barros).

O médico Luiz Carlos Avelino Júnior, marido da ex-secretária de Comunicação do Amazonas Daniella Assayag, mentiu em depoimento à PF (Polícia Federal) ao negar ingerência na empresa Sonoar.

A informação consta no pedido em que o delegado da Polícia Federal, Igor de Souza Barros, requisitou a prorrogação da prisão temporária de Avelino e dos demais presos na segunda fase da Operação Sangria, que o blog teve acesso.

No pedido, o delegado afirma que há muitos elementos indicando que o marido da ex-secretária de comunicação teve “participação do lucro da empreitada criminosa”.

“O investigado LUIZ CARLOS DE AVELINO JÚNIOR (preso temporariamente pelos fundamentos expostos na Decisão Judicial), sócio oculto da SONOAR, mentiu ao dizer que não possui ou possuía ingerência na SONOAR, uma vez que não sobejam dúvidas da sua participação do lucro da empreitada criminosa”, disse.

O médico é apontado na investigação como sócio oculto da empresa Sonoar, que foi a que mais lucrou na triangulação envolvendo a compra de respiradores pelo Governo do Amazonas na Vineria Adega. A investigação envolve a compra superfaturada de 28 respiradores inservíveis para atender os pacientes de covid-19 na rede pública estadual.

A Sonoar comprou os respiradores de fornecedores em outros estados a um total de R$ 1.091.800,00 e vendeu por R$ 2.480.000,00, o que gerou um lucro de R$ 1.414.270,04, num intervalo de seis dias.

Duas horas depois a loja de vinhos vendeu os mesmos respiradores ao governo pelo valor de R$ 2,976 milhões. Na segunda venda, houve um lucro de R$ 496 mil, num intervalo de duas horas.

Em seu depoimento, Avelino negou participação na sociedade, influência na Sonoar e disse que conhecia as sócias da empresa porque encaminhava pacientes com distúrbios de sono para elas. O médico foi questionado pelo PF se comprou testes rápidos para revenda e negou. Disse que comprou 50 testes rápidos para serem usados em sua empresa e que sondou uma compra maior, mas não a efetivou.

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A investigação sobre os respiradores se virou para Avelino e Assayag quando uma das sócias da Sonoar, presa na primeira fase, fez delação premiada dizendo que tinha vendido meses antes a ele toda sua parte na empresa. Renata Mansur disse ainda ter sido pressionada pelo médico e a outra sócia a não revelar o nome dele no negócio.

Logo após vir à tona o nome do marido como sócio oculto da empresa que mais lucrou com o negócio, a então secretária Daniella Assayag convocou uma coletiva negando participação na irregularidade, mas acabou revelando que tinha conhecimento do problema com os respiradores dois meses antes da ação da PF.

Antes desta coletiva, o ex-secretário de Saúde, Rodrigo Tobias, já havia revelado na CPI da Saúde na ALE-AM (Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas), que a então secretária de comunicação havia participado de um reunião do comitê técnico tratando sobre a compra de respiradores.

Depois de preso, Tobias, em depoimento, à PF afirmou que a secretária fez defensa veemente para que o Estado comprasse da Sonoar.

“Círculo do governador”

Na segunda fase da operação, Avelino foi alvo de busca e apreensão e Daniella de busca e apreensão, a pedido da PGR (Procuradoria Geral da República), segundo a decisão do ministro Falcão que o blog teve acesso.

A decisão do ministro Falcão que determinou a execução da segunda fase da Sangria, ao se referir ao casal, aponta dados da PF e da PGR, em que eles interpretam os dois como do “círculo” do governador Wilson Lima, “o que corrobora a hipótese investigativa de que o primeiro é o principal articulador” dos crimes investigados.

“O que fica claro é que os investigados Luiz Carlos Avelino e Daniella Assayag tendo relação próxima com o governador Wilson  Lima, em virtude do cargo ocupado pela segunda, de vinculação direta com o governador, tiveram participação na efetiva aquisição superfaturada de respiradores pelo Governo do Amazonas, inclusive a partir de informações privilegiadas obtidas na referida reunião”, diz trecho da decisão do ministro que deflgrou a segunda fase da Sangria.

A reportagem procurou a defesa de Luiz Carlos Avelino e Daniella Assayag, por mensagem de celular, mas não obteve resposta. Em outras ocasiões, o casal, por meio de sua defesa, negou participação em irregularidades.

Sangria

De acordo com a PGR (Procuradoria Geral da República), o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC) e o vice-governador Carlos Almeida Filho, são suspeitos de terem conhecimento e autorizarem desvios de dinheiro público na saúde durante a pandemia do novo coronavírus. Ambos negam.

Na primeira fase, Wilson Lima teve sua casa e gabinete revistados pela PF. Carlos foi alvo na segunda e, ao ser ouvido na PF, implicou o governador nas suspeitas de irregularidade.

Veja o trecho do pedido de prorrogação de prisão temporária em que o delegado da operação se refere a Avelino:

Trecho do pedido do delegado federal citando o marido da ex-secretária de comunicação Daniella Assayag

Leia também:

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/07/04/sangria-no-am-secretaria-se-contradiz-ao-explicar-envolvimento-do-marido.htm

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/07/02/marido-de-secretaria-amazonas-lucrou-com-venda-de-respiradores-diz-cpi.htm