Comício da Candidata Marina Silva na Ceilândia (Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil)
A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva afirmou que os mandatos de esquerda que adotam omissão e métodos bolsonaristas para não perder votos fortalecem a política do Governo Bolsonaro para a região. A entrevista foi concedida à rádio BandNews Difusora nesta sexta-feira, dia 27.
Para a ex-senadora, o Governo Bolsonaro “nega a ciência e o desmatamento e quer atropelar povos indígenas e a floresta”. “É em função dessas pessoas, que tem ética de conveniência, que avançam essas coisas que estão aí”, declarou.
Marina Silva foi questionada, durante a entrevista, sobre a representatividade da Amazônia no Congresso Nacional e falou sobre a maioria de mandatos de direita, claramento alinhados à política do Governo
Bolsonaro, e dos de esquerda que, para não desagradar o eleitor bolsonarista, não representam a defesa veemente dos povos da Amazônia, nem atuam contra ataques aos povos indígenas e o avaço de interesses predatórios sobre a floresta.
Ao longo de sua atuação pública como extrativista, sindicalista, senadora e ministra do Meio Ambiente, Marina Silva teve linha intransigente a respeito de projetos que representavam danos ambietais e sociais.
Na entrevista, Marina falou sobre as pressões e que nunca priorizou votos em detrimento da realidade do que poderia ocorrer nas obras de hidrelétricas como Belo Monte, no Pará, Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, e na BR-319. Com o tempo, o que Marina apontava ocorreu.
“Eu não dei a licença de Belo Monte com pressões e críticas enormes. Vamos olhar o que está acontecendo agora do ponto de vista ambiental e social. E o empreendimento não entrega a energia que prometeu entregar”, declarou.
Marina Silva também diz que valeu a pena não ter se associado aos danos causados à floresta e à população, mas que lamenta que tenham ocorrido.
“Tem gente que é assim troca ética por voto, troca coerência política por voto, troca dignidade humana por voto e, às vezes, troca até vidas por voto. Troca liberdade de imprensa por voto.”, afirmou.
Marina afirmou que a atuação sem veemência sobre a floresta e os direitos dos povos originários e tradicionais funciona como “fazer o jogo do adversário” que você “supostamente” critica.
“Porque quando, para fazer o jogo daqueles que você supostamente critica, faz esse tipo de relativização, você está fazendo o jogo do adversário mesmo.”
E acrescentou: “Quando você se orienta por valores, você não relativiza democracia, você não relativiza a ética e não relativiza direitos humanos.”
Candidatos indígenas
Marina Silva afirmou que os indígenas estão hoje preparados, até melhor que ela quando assumiu o primeiro mandato, para representar a região Norte nos espaços de poder. A ex-senadora disse que os indígenas não atuam unicamente em defesa de seus povos, mas pelos direitos de toda sociedade e citou o mandato da deputada federal Joência Wapichana (Rede-Roraima).
“Joênia faz um trabalho brilhante na Câmara dos Deputados. Virou uma espécie de parlamento indígena e a gente quer que mais lideranças indígenas possam ser eleitas. Quando você elege um indígena ele também está representando toda sociedade. Ele vai defender os direitos dos povos indígenas, mas também a saúde, a educação, a segurança pública e é isso que a Joência faz”, declarou.
Marina Silva afirmou que a Rede apoia candidatura de mulheres indígenas da região Norte para a Cãmara dos Deputados e citou a Joênia Wapichana, que disputa sua reeleição por Rorainma, Maial Kaiapó, liderança indigena do Pará. No Acre, a Rede lançará Ninawa (Huni Kuin}).
“E, no Estado do Amazonas, temos a candidatura da Vanda Witoto. A Vanda é uma liderança incrível, uma jovem mulher indígena altamente preparada que, com certeza, vai defender muito bem os povos indígenas que estão precisando, mas também todo o povo do Amazonas”, disse.
Marina afirmou que as novas lideranças, em função de todo contexto social, pode dar maior visibilidade e potencializar a região Norte.
“Eu tinha mais ou menos a idade da Vanda e fui eleitra senadora pelo meu estado do Acre e, naquele momento, foi muito importante a contribuição que foi dada com aquele mandato. Eu fico imaginando agora, em pleno século 21, essas novas lideranças. Muito mais articuladas, contectadas não só internamente, mas com outros países o que ela pode trazer de apoio, recursos e dar visibilidade para um estado com a potência que já é o estado do Amazonas, é fantástica”, disse.
Marina disse que torce pela possibilidade de que nomes que representem bem a Amazônia sejam eleitos. “Fico muito feliz com essas possibilidades e torcendo muito para que a gente tenha para quem passar o bastão”, afirmou.
A ex-senadora é cotada como pré-candidata a senadora por São Paulo e procurada pelo ex-presidente Lula como apoio à sua candidatura à presidência da República. A federação Rede/PSol já anunciou aliança com o PT, mas deixou livre membros da Rede que queiram apoiar outros candidatos, exceto os que representam o “facsimo” e a destruição das bases democráticas do País.
Marina e a ex-deputada Heloísa Helena apresentam resistência ao PT. Ambas foram filiadas ao partio. Marina deixou sob crtítica da linha política antes do PT sair do poder e Heloísa Helena foi expulsar por votar contra o partido.
Na entrevista à BandNews Difusora, Marina Silva afirma que não se pode admitir a reeleição de Bolsonaro. Mas afirma que para anunciar apoio, a Lula ou a Ciro Gomes, precisa que eles deixem mais claro o projeto de País e os compromissos deles com a sustentabilidade. Ela também criticou a lógica política de polarização que teve no PT e PSDB por anos seus principais agentes e acabou resultando numa polarização que, de um dos lados, tem um representante que é um risco para a democracia.
“A disputa PT/PSDB era o embrião desta polarização que hoje está comprometendo a própria democracia. Depois de tantos anos de PT e PSDB, chega uma força política contrária à democracia, que acha que pode chegar ao poder pelo uso da força. Tudo isso tem que ser pensado com responsabilidade. Não podemos arriscar, em hipótese alguma, aquilo que nos é fundamental, que esse é um país livre, um país democrático para resolver os seus problemas”, afirmou.
Assista entrevista completa de Marina Silva à BandNews Difusora:
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