Mayc diz ter matado Flávio após Elizeu decidir “dar susto” na casa do enteado do prefeito

Foto: Elizeu e Mayc reprodução Vídeo Condomínio Passaredo

O funcionário público Mayc Vinicius Texeira Parede, 36 anos, apresentou nesta terça-feira, dia 8, uma segunda versão para o homicídio do engenheiro Flávio Rodrigues, ocorrido no dia 29 de setembro.

Ele declarou, em depoimento à polícia, que sozinho colocou o engenheiro no carro e também só decidiu e matou o Flávio no terreno onde o corpo foi encontrado, no Tarumã.

Portanto, sustenta que a morte teria ocorrido fora da casa do enteado do prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB), Alejandro Valeiko, no condomínio Passaredo, zona Centro-Oeste de Manaus.

O funcionário público, embora isente o policial Elizeu de culpa, disse que fez tudo na presença do amigo. Mayc disse que acompanhou o policial lotado na Casa Militar da Prefeitura de Manaus no condomínio do filho do enteado do prefeito e declarou que Elizeu foi ao local para uma “ronda” e para “dar um susto no pessoal”.

Ao confessar o crime, ele também afirma que não conhecia nenhuma das pessoas que estavam na casa de Alejandro naquela noite, incluindo Flávio Rodrigues e que ignorava que Elizeu trabalhava na segurança de Arthur Neto.

Entrada no condomínio

Mayc é o homem que aparece ao lado do policial militar lotado na Casa Militar da Prefeitura de Manaus, que entra e sai do condomínio Passaredo, no momento em que se registra a confusão na casa de Alejandro Valeiko, no dia em que o engenheiro foi visto no local antes de ser encontrado morto.

A polícia indica que o carro que os dois entram e saem do condomínio é alugado pela prefeitura e Elizeu afirmou, em depoimento, que sua função era garantir a segurança de Alejandro Valeiko.

A primeira versão pública para o assassinato foi dada pelo prefeito de Manaus, Arthur Neto, em suas redes sociais. Arthur disse que a casa do enteado foi invadida por pessoas ligadas ao tráfico de drogas, que elas sequestraram Flávio como parte de uma cobrança do tráfico.

Com contradições apontadas pela polícia, parte dos depoimentos dos presentes na casa de Alejandro relataram a versão da invasão. O que a polícia, com base nas apurações, negou nos primeiros dias e a família de Flávio reagiu.

Mayc, no depoimento, conta que é amigo de Elizeu há 20 anos, mas desconhecia que ele trabalhava como segurança na Casa Militar. Disse que estava na companhia dele em um bar na avenida do Turismo e que Elizeu o chamou para uma “ronda” no condomínio.

Ele informa que é agente de portaria de uma escola estadual no bairro Cidade de Deus.

“A invasão”

Ele disse que, quando chegaram ao Passaredo, foi informado pelo amigo: “Parede, eu vou dar um susto neste pessoal. Me acompanha”. No depoimento, diz que Elizeu colocou a balaclava e disse que o policial demonstrou irritação antes de entrar na casa ao ver que “aquele pessoal” estava lá.

Mayc conta que Elizeu foi na direção de Alejandro e que ele foi surpreendido por um homem com uma faca na mão e que conseguiu desarmá-lo com a mão direita e que com a esquerda o esfaqueou.

Este homem ferido saiu da casa, o que se supõe se tratar de Elielton Magno de Menezes Gomes Júnior, que foi um dos convidados de Alejando na noite do crime, que saiu da casa e pediu socorro na portaria do condomínio.

O depoimento de Mayc diz que Flávio foi em sua direção, tentou dar um soco nele e que imobilizou o engenheiro com um golpe que o deixou desacordado por dez segundos. No momento seguinte, Mayc diz que Flávio passou a gritar e que Elizeu disse para que eles o levassem para fora da casa.

Flávio imobilizado

Mayc conta que levou Flávio para o carro o imobilizando “pelo pescoço” e o colocou no banco de trás do carro. Diz que usou a força do corpo contra o engenheiro para que Flávio não se debatesse.

Questionado sobre como fez para que Flávio parasse de gritar, Mayc disse ter usado fita “silver tape cinza”, “a qual tirou (de sua mochila) e enrolou em volta da boca de Flávio”.

A polícia questionou como abriu a mochila, desenrolou a fita e colocou na boca de Flávio se estava tentando imobilizá-lo com o corpo e se Elizeu o ajudou neste momento.

Ele respondeu que não teve ajuda e que o policial militar lotado na prefeitura que foi “dar um susto” na casa do enteado do prefeito. Disse apenas que o policial estaria entrando no carro no momento em que ele adotava todos os procedimentos sozinho para imobilização de Flávio.

Disse que o engenheiro estava consciente quando colocou a fita nele, que tentava gritar e se mexer.

Ao entrar no carro, segundo Mayc, Elizeu disse que o ele (Mayc) tinha feito “muita merda” e que deixariam o “cara” fora do condomínio.

A polícia perguntou por que levaram Flávio e não outros dos presentes na casa de Alejandro, Mayc disse que “porque ele estava muito agitado”.

Ele não justifica, no depoimento, porque fez essa avaliação e porque tomou essa decisão, considerando que era apenas o acompanhante do policial lotado na prefeitura que disse à polícia ser o responsável pela segurança do enteado do filho do prefeito e que, segundo Mayc, foi ao local “dar um susto” nos presentes.

Mayc conta que, quando chegaram a um determinado ponto que ele não sabia dizer onde era, “puxou Flávio” para fora do carro. A polícia o questionou por que “puxou” já que alega que o engenheiro estava vivo. E o funcionário público diz que fez isso para soltá-lo longe do carro.

No depoimento, Mayc disse que Flávio reagiu quando ele tirou a fita e os dois travaram luta corporal. Ele diz que Flávio atirou uma pedra nele.

“Que então desferiu dois ou três golpes de faca em Flávio, que acredita que os golpes o lesionaram da cintura pra baixo (…) Que depois disso Flávio correu em direção para dentro do descampado”.

Mayc disse que ao voltar para o carro falou a Elizeu: “Fiz merda. Acabei com a minha vida”. E que o policial disse: “você acabou com a minha carreira”.

Ele foi questionado sobre o motivo de não prestarem socorro a Flávio, considerando que diz que ele correu após os golpes, Mayc respondeu “não saber”.

Mayc afirma que não sofreu ameaças para assumir o crime e não aceitou fornecer material genético para exames periciais, segundo ele, por orientação do advogado. Disse que pagará o advogado a partir da venda de um terreno.

Mayc pede perdão

Ao final do depoimento, Mayc é questionado se quer acrescentar algo e responde que quer. O funcionário público pede, então, perdão às famílias de Flávio, a dele próprio, de todos os envolvidos no episódio e à sociedade.

“Sem pé nem cabeça”

De acordo com matéria publicada pelo site Estado Político, o delegado da DEHS (Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros), Paulo Martins, disse que o depoimento de Mayc é “sem pé nem cabeça”.

Caso Flávio Rodrigues

Flávio foi encontrado morto num terreno no bairro Tarumã, com marca de seis facadas na costas, perna e barriga, horas após se reunir no domingo, dia 29, com outros homens na casa de Alejandro Valeiko. A casa de Alejandro foi o último local que Flávio foi visto vivo antes do homicídio.

O desembargador José Hamilton Saraiva dos Santos afirmou, na decisão que determinou prisão temporária de 30 dias para Valeiko nesta segunda-feira, dia 7, que “fatos concretos evidenciam” participação dele no assassinato do engenheiro.

A polícia também pediu prisão temporária de Vittorio Del Gato (cuidador de Alejandro), Elizeu da Paz Souza (policial lotado na Casa Militar), Mayc Vinícius Teixeira Parede (amigo do policial), José Evandro Martins de Souza Júnior e Elielton Magno de Menezes Gomes Júnior. Os dois últimos estavam na casa de Alejandro, no dia do homicídio.

Elizeu da Paz foi considerado pelo delegado do 19º Dip (Distrito Integrado de Polícia), Aldeney Goes Alves, que iniciou as investigações e fez os pedidos de prisão, como suspeito de “autoria ou participação” no homicídio do engenheiro Flávio Rodrigues e que pode ter usado veículo do executivo municipal no crime.

Elizeu é policial militar lotado na Casa Militar da Prefeitura de Manaus. A defesa de Elizeu nega a acusação. A prefeitura até agora não se manifestou sobre as informações.

Foto: Reprodução vídeo Condomínio Passaredo