MENA, em memória de um militante coletivo

*José Alcimar

A Ufam (Universidade Federal do Amazonas), a Saúde Coletiva, a Medicina Preventiva e anticapitalista, a Luta Social, a Política das Causas Sociais, a População Subalternizada e continuamente agredida por governantes nas esferas municipais, estaduais e federal, que operam sob a ordem de um Estado homicida e sob os interesses do capital, enfim, todos nós que não nos entregamos e continuamos na luta pela democratização de direitos, perdemos neste 25 de dezembro de 2022 o Professor e Médico MENABARRETO SEGADILHA FRANÇA, lutador irredento e um grande e querido amigo.

O nosso MENA, visionário, destemido, inimigo da bajulação e das palavras feitas optou por viver no contracurso da sociedade dos contentes. MENA era ontologicamente um dessassossegado incurável. O seu cuidado social se sobrepunha ao cuidado de si.

Sem arrependimento e remorso admitiu isso ao amigo comum e Padre Manuel do Carmo, e a mim, quando o visitamos no leito do HUGV, no dia 05 de dezembro de 2022. Manifestou o desejo (que será cumprido) de que não houvesse velório, que seu corpo fosse cremado e as cinzas (sementes de militância) fossem lançadas sobre o encontro exuberante entre os rios Solimões e Negro.

Um gesto com força dialética e heraclítica, inspirado no Filósofo do fogo transformador, para quem ninguém toma banho duas vezes no mesmo rio.

Por alguns anos trabalhamos em comum no nosso MEC – Movimento Educar para a Cidadania -, que se reunia de forma insurgente na tarde das quartas-feiras no Auditório de nossa velha e combativa ADUA – Seção Sindical. Nosso decano de todos os militantes, OSVALDO GOMES COELHO, que hoje dá nome ao nosso Auditório, era um dos poucos que tinham autoridade para impor alguma disciplina à pedagogia indignada do nosso combativo MENA.

Os professores Alcebiades e Michiles bem podem confirmar isso. Dentre as qualidades do meu velho amigo, ressalto a capacidade de ouvir as pessoas. Sabia ouvir. Coisa difícil para um intelectual nesses tempos de Academia movida à pressa e produtivismo adoecedor.

Sempre inquieto, esconjurava com igual força tanto o inconformismo teórico quanto o comodismo prático. Enquanto viveu, lutou a boa luta. Era um intelectual militante, que agia e se alimentava de projetos, sempre.

Jamais diria nesse momento triste e impossívelmente incontornável: descanse em paz, velho amigo. Sua bela imanência o credencia a viver na mais nobre e ativa transcendência, a da memória.

Já deve estar, agora, tramando contra a ordem ao lado de gente como Conceição Derzi, Graça Barreto, Paulo Monte, Rogélio Casado, e mais outras e outros, todas e todos profanamente santas e santos.

MENA, presente!

*José Alcimar de Oliveira é professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas, teólogo sem cátedra, segundo vice-presidente da ADUA-Seção Sindical e filho do cruzamento dos rios Solimões e Jaguaribe. Em Manaus, AM, aos 26 de dezembro do ano da virada de 2022.

Filosofia, poder, comunicação e mendacidade: as oficinas de satanás
Superar o sono da razão