
A faxina que a desocupação do Monte Horebe faz na imagem de associação a criminosos do vice-governador, Carlos Almeida Filho (PRTB), em pleno ano eleitoral, é o efeito mais plausível, pelos componentes da ação, diante dos ricos que o governo corre a respeito dos resultados desta medida.
Com o protesto desta terça-feira à noite, dia 3, em frente ao Viver Melhor no segundo dia da desocupação do Monte Horebe não é possível avaliar precisamente como fica a imagem do Governo Wilson nesta operação, mas a do vice está sendo faxinada.
Carlos Almeida negou em várias ocasiões a associação e demonstrou seu preparo jurídico e técnico sobre o tema moradia em áreas ocupadas irregularmente, mas pesava contra ele a imagem de favorecimento a grupos criminosos na Cidade das Luzes, ocupação que originou o Monte Horebe.
O defensor público atuou na Cidade das Luzes em favor dos moradores e contra a retirada deles do local, como em várias outras ações desta natureza.
Em função disso e do crescimento da chance de vitória de Wilson Lima nas Eleições 2018, Carlos Almeida virou alvo de ataques das campanha adversárias. E até poucos dias atrás era acusado indiretamente nos discursos e entrevistas do prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB), a este respeito.
Com a ofensiva das forças policiais sob o comando do vice-governador no lugar para acabar com a comunidade e a justificativa de combater a influência do crime no local, o governo traça um novo desenho sobre esta chaga na imagem do vice.
É oferecido à sociedade o contorno de um agente público ativo e protagonista no combate a criminosos, começando exatamente onde estava sua ferida.
As declarações e material oficial do governo foram massificada neste sentido, inclusive em detrimento de uma cobertura jornalística mais ampla sobre o primeiro dia da operação.
A comunicação do governo também massificou outro ponto: esta gestão é a favor das pessoas sem moradia ao oferecer aluguel social com o dobro do valor pago pela Prefeitura de Manaus. Prefeitura paga R$ 300, governo: R$ 600.
Marketing
A faxina na imagem do vice ocorre pouco tempo depois do governo, que terminou 2019 e iniciou 2020 apanhando na mídia nacional, contratar o marqueteiro Jefferson Coronel como uma espécie de consultor da comunicação – um dos grandes problemas do primeiro ano do novo governo.
Os secretários de Segurança, Coronel Loiusmar Bonates, e de Justiça e Cidadania, Caroline Braz, abriram alas com os confetes da “histórica” operação que serviria de “exemplo para o País” por ter convencido, sem registros violentos, a população a ceder.
Carlos Almeida apareceu para colher os louros, no dia seguinte.
Foi ele, e não o governador Wilson Lima, quem deu entrevistas em praticamente todas as emissoras de TVs, nesta terça-feira destacando mais uma vez o sucesso da operação e anunciando novo front do combate à criminalidade: o residencial Viver Melhor. À noite, o conjunto manchou a narrativa do governo.
Antes, porém, Carlos Almeida conseguiu destaque, com aparições positivas, em horários nobres até na filiada da Rede Globo, a TV Amazonas. Mesma emissora que foi o espaço das matérias negativas seguidas no Jornal Nacional sobre morte de crianças cardiopatas e aumento de homicídios.
Na ALE-AM, a base aliada o elogiou pela condução da “operação de sucesso”.
O alívio no desgaste que sua imagem sofreu na campanha de 2018 é ângulo avaliado por membros do governo, nos primeiros dias dos imprevisível resultados da operação.
Influente
Caso coloque o nome nas urnas, este quadro alivia um risco de arsenal contra ele em campanhas adversárias na disputa pela sucessão da vaga Arthur Neto.
Se não for ele o candidato, o vice de Wilson já deu vasta demonstração que não quer a histórica caneta sem tinta do cargo e vai tentar se manter no processo de tomada de decisão.
Os movimentos dele desde que a dupla de “outsiders” assumiu o governo demonstram este perfil.
Além disso, Carlos é visto com agente no entorno de situações que minaram ou tentaram minar antecipadamente projetos de candidaturas de aliados de Wilson Lima, como os do ex-secretário da Seduc, Luiz Castro (Rede), e do presidente da ALE-AM, Josué Neto (sem partido) .
Há ainda neste componente de preparativos do governo para apoiar um nome nas Eleições 2020, outros aditivos: o programa Muda Manaus é um exemplo. Com o programa, o governo leva ações de vários órgãos do Estado para bairros populosos e de pessoas de baixa renda com o objetivo de conceder a elas benefício.
“Bem-me-quer, malmequer”
A possível candidatura de Carlos Almeida à Prefeitura de Manaus divide opiniões dos aliados de Wilson Lima.
Há aliados do governo que avaliam que, a não ser por este calcanhar de aquiles da imagem associada a criminosos, Carlos não tem um passado que o comprometa e por isso seria um bom nome e poderia compensar a falta de empatia com o apoio poderoso da máquina estadual.
Quem tem esta linha de raciocínio argumenta que, por ser vice e não ser obrigado a renunciar ao cargo, Carlos Almeida não tem o que perder.
Por outro ângulo, há quem avalie que o vice tem muito a perder e que uma derrota constrangedora poderia afundar as articulações e liderança política do governo.
O quadro negativo é visto, em especial, por dois ângulos: a máquina estadual não tem demonstrado poder de decisão nas eleições em Manaus nas últimas décadas e pesquisas qualitativas de vários lados apresentam motivo de sobra para que o Governo Wilson Lima se preocupe com a avaliação da população.
Ouros avaliam que tirar Carlos Almeida do caminho seria uma mão na roda para outros aliados que querem domínio de influência sobre o governador Wilson Lima.
“Claramente tem objetivos eleitorais”
Atento e experiente no circuito político, o deputado Serafim Corrêa (PSB) cantou a pedra na sessão desta terça-feira, dia 3, na ALE-AM:
“Durante um bom tempo aquela invasão foi estimulada. E aí os próprios que estimulam fazem uma operação para desocupar. Isso não é correto. Isso tem objetivos eleitorais. Claramente objetivos eleitorais”, declarou.
O ex-senador João Pedro, em entrevista ao programa Exclusiva da Rádio BandNews Difusora, disse estranhar a desocupação em ano eleitoral, a promessa de aluguel social de R$ 600 por quase dois anos e a falta de uma política pública para o déficit de moradias no Amazonas.
“Esse caminho que o vice-governador está apresentando, no ano eleitoral, acho muito estranho isso. Acho uma maquiagem com dinheiro público”.
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