
O arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Steiner, ao anunciar esta semana que as atividades presenciais e de aglomeração da Igreja Católica continuarão suspensas, destacou que a decisão foi tomada com base no número de infectados em ascendência no Amazonas e a responsabilidade da igreja em evitar um número maior de contaminação pelo novo coronavírus.
Do mesmo vídeo, Dom Leonardo Steiner comenta com tom de reprovação a inclusão das igrejas como um dos setores da primeira fase do planejamento do Governo do Amazonas de retomada da circulação em Manaus, que começa nesta segunda-feira, dia 1º.
“Por enquanto, vamos continuar dando a nossa contribuição. É necessário. Não é porque o governo determinou, que nós vamos participar. Nós temos responsabilidade como igreja não só com os nossos fiéis. Temos responsabilidade com toda sociedade. E queremos assumir esta responsabilidade”, declarou.
A inclusão das igrejas na primeira parte da reabertura do Amazonas ocorreu sob forte pressão de lideranças religiosas evangélicas e num cenário de crise financeira em função da perdas de dízimos com o isolamento social provocado pela pandemia.
O aumento do número de infectados amplia o número de óbitos. E segmentos religiosos costumam realizar campanhas em defesa da vida. Em função disso, esta pressão tem sido questionada pelos próprios adeptos das religiões.
A reabertura do comércio também ocorre a partir da pressão da economia, com a diminuição da arrecadação e com as perdas de setores não essenciais do comércio.
A declaração de Dom Leonardo foi publicada num vídeo no canal do Youtube da Arquidiocese de Manaus um dia depois do anúncio do governo feito ao lado de parlamentares da base aliada e de lideranças evangélicas.
No mesmo dia, na quinta-feira, dia 28, o Amazonas bateu recorde de registro de infectados nas últimas 24 horas: 2.638, rapidamente superado no dia seguinte.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, o Amazonas ocupa com destaque há semanas o segundo lugar no ranking de segundo estado brasileiro com maior taxa de mortes por covid-19.
São 872,1 casos por 100 mil habitantes, enquanto a média nacional é de 208,5 casos por 100 mil habitantes. O Brasil é o sexto País mais afetado do mundo em número de mortes e também tem batido recordes diários de infecção, enquanto planeja reabertura em vários estados.
Controle de infectados
Em outros Países, a base de sinal de controle da pandemia tem mesmo o parâmetro que dom Leonardo segue para orientar as atividades católicas: a diminuição por semanas seguidas de infectados, além de ofertas de leitos e aumento de testagens para que as decisões e avaliações sejam feitas com menor risco de morte.
Isso porque a doença provocada pelo novo coronavírus não tem tratamento, nem vacina. Além disso, pessoas fora do grupo de risco tem agravado ao contrair a doença.
“Com o decreto do governo para o dia 1º de junho , talvez muitos irmãos pensem que nós íamos voltar. Não, nós continuaremos. Continuaremos porque nossas igrejas são bem frequentadas. Nós continuaremos com o isolamento. Os sacramentos talvez se formos observando a diminuição da transmissão, mais adiante, nós poderemos abrir as igrejas para orações”, declarou.
“Nós demos uma grande contribuição não tendo a celebração pública do sacramento. Isso ajudou no isolamento e a não ter tanta transmissão do vírus”, disse o arcebispo.
Pesquisadores reprovaram plano de reabertura
Nesta semana, pesquisadores da UEA, Ufam e Inpa enviaram ao MPE-AM uma nota técnica recomendando maior rigor ao isolamento social, reprovando a reabertura programada pelo Governo do Amazonas e afirmando que a volta do funcionamento de igrejas nesta fase inflará o número de infectados e de mortes pela covid-19.
Elogios pelo ato em defesa da vida
Segundo o arcebispo, nova avaliação da igreja católica deve ser feita em 23 de junho. A medida rendeu a dom Leonardo uma carta de reconhecimento e elogio à decisão pelo cuidado com a vida da promotora Silvana Nobre, na Defesa dos Direitos Humanos e Saúde Pública do MP-AM.
A Igreja Católica é o segmento com maior número de seguidores no Amazonas.
Cuidado antecipado
Dom Leonardo assumiu a condução da igreja católica em Manaus semanas antes da crise provocada pela pandemia.
O arcebispo tomou a decisão de evitar aglomeração nas igrejas antes da publicação do decreto governamental e se manteve ativo na condução das atividades evangélicas da igreja por meio das mídias e redes sociais; de assistência e orientação à população; e de voz de liderança e formadora de opinião em Manaus.

Presença no cemitério e preocupação com pacientes e profissionais da saúde
No pico da aflição das famílias que tiveram que enterrar seus parentes em valas comuns, mesmo sendo grupo de risco, dom Leonardo esteve no cemitério do Tarumã para prestar as unções e rituais católicos de consolo.
Também acatou convite do Governo do Amazonas para inauguração do Hospital de Campanha Nilton Lins. A liderança evangélica, ao discursar no evento, deu tom político incensando o governador Wilson Lima e chamando-o de “nosso líder”.
Dom Leonardo optou por uma passagem evangélica, a bênção do local e dos funcionários com água benta e uma prece em que pedia ao funcionários o acolhimento aos doentes.
No dia seguinte, uma inspeção do MP-AM classificou a inauguração como “simbólica” e questionou a falta de estrutura para atendimento digno dos pacientes.
Nem celebrações e nem procissões.
UIsso ajudou no isolamento e a nao ter tanta transmissao do vírus