
José Alcimar de Oliveira *
Nietzsche que, quando criança, era chamado de pastorzinho, considerava que Jesus Cristo foi vítima da religião.
Do judaísmo, do platonismo e do cristianismo. Da religião combinada à política. Duas forças que se aliaram contra o Evangelho e sentenciaram de morte o Homem de Nazaré.
Um pouco antes de Nietzsche, Feuerbach considerava a teologia mais perigosa do que a religião. Afinal é a teologia que positiva o fenômeno religioso. É a sua gramática.
Mas o mundo da religião sempre escapa ao disciplinamento da gramática e sua pretensão de lhe enquadrar, seja pela Filosofia, seja pela Ciência. Com forte alicerce na tradição platônica do pensamento ocidental, o cristianismo era visto por Nietzsche como um tipo de platonismo dos pobres.
Na década de 1980, a mais importante revista internacional de teologia – Concilium, até hoje com a versão portuguesa publicada pela Editora Vozes – dedicou um número inteiro ao estudo das relações entre Nietzsche e o Cristianismo.
Mas quem ainda hoje lê a Concilium? Hoje a Teologia foi capturada ou pela teologia da prosperidade ou pelo mercado, sempre crescente, do discurso de autoajuda.
Nietzsche, em seu estilo polêmico e nunca dado a concessões, admitia que o único cristão verdadeiro foi morto na cruz.
A verdade é que autores como Marx, Nietzsche e Freud – acertadamente chamados de mestres da suspeição – seguem incontornáveis para a compreensão das patologias espirituais, sociais e pulsionais desse mundo submetido à regressão do sociometabolismo do capital.
Que seja dito: o sistema do capital nunca perde de vista a oportunidade de capitalizar a religião. Walter Benjamin soube captar com fina argúcia essa relação em seu escrito inconcluso e irredento O capitalismo como religião.
Que também poderia ser, sem pretensão de corrigir o título do grande Benjamin, O capitalismo como teologia, sobretudo nesses tempos de prosperidade teológica da abrangente teologia da prosperidade.
*José Alcimar de Oliveira é professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas e filho dos rios Solimões e Jaguaribe. Em 26 de janeiro de 2020.
Foto: https://www.infoescola.com/filosofos/friedrich-nietzsche/