
O presidente estadual do PCdoB, Eron Bezerra, ao cobrar maior maturidade do PT nas Eleições 2020, classificou como “nada” a liderança de votos de José Ricardo nas pesquisas eleitorais até agora.
“O José Ricardo tem 10%, 12%: isso não é nada”, afirma o presidente estadual do PCdoB.
Eron defende que partidos progressistas, esquerda e centro, se unam na construção de uma candidatura viável e de propostas para Manaus, sem imposição de protagonismo por parte do Partido dos Trabalhadores.
Com 52 anos de militância e um dos fundadores do PCdoB no Amazonas, Eron Bezerra foi mais uma vez eleito presidente estadual do partido no Amazonas neste final de semana.
A Conferência Estadual deu o tom dos rumos do partido para 2020: quer ampliar arco de aliança partidária e abandonar a tradicional posição de coadjuvante do PT.
Estiveram presentes no evento liderança do PDT, PSB, PSOL e PMN. O PSDB de Arthur Virgílio Neto foi convidado e aguardado, embora não tenha comparecido. PT estava ausente.
A fala de Eron traz uma carga de crítica que é cobrada e não feita pelo PT, neste momento pós “Lula Livre”. Eron diz que PT não é vítima e que está errado ao adotar a mesma tática de Bolsonaro para ganhar eleição, apostando na polarização, no ódio e nos votos contra.
O comunista afirma que os ataques à esquerda e ao PT no ano passado não fizeram de Lula e do Partido dos Trabalhadores as maiores vítimas. Eron exige dos aliados maior maturidade na construção política para 2020. “O PT é o maior partido do Congresso. Não foi a maior vítima”.
Com nove vereadores, sendo um em Manaus, o partido com maior número de filiados no Estado tenta se preparar para 2020 após derrota nas urnas de uma das principais representantes da sigla no Amazonas, a ex-senadora Vanessa Grazziotin.
Voz ativa e presença atuante nos principais momentos de ataque ao PT, Vanessa não contou com o apoio da militância da sigla no Amazonas em 2018 e carregou o peso do antipetismo que dominou o eleitorado em Manaus, ficando em quinto lugar na disputa por duas vagas ao Senado.
Leia trecho da entrevista que Eron concedeu ao blog:, neste final de semana:
Rosiene Carvalho (RC): O PCdo B terá pré-candidato à Prefeitura de Manaus?
Eron Bezerra: Temos dez pré-candidatos a prefeito, incluindo Manaus. Vamos apresentar, no começo do ano, um nome para Manaus. As alternativas serão colocadas para que a Frente (democrática de partidos) analise. Queremos construir uma candidatura de oposição, eleitoralmente viável.
“Se a gente conseguir juntar cinco partidos, o PT e pode vir outros, é uma boa encrenca Teremos uma frente eleitoralmente viável e ampla”.
RC: Oposição a quê?
Eron Bezerra: Ao governo central e estadual. Somos oposição nestes três (sic) níveis. PCdoB e demais partidos são oposição nestes níveis. O conteúdo de esquerda é mais pela proximidade. Mas, se um partido de centro eventualmente quiser integrar esta frente, sem problema. Desde que tenha esse compromisso: de se levantar contra esta política que está ai. Se a gente conseguir juntar cinco partidos, o PT e pode vir outros, é uma boa encrenca Teremos uma frente eleitoralmente viável e ampla.
RC: Por que o PT não está aqui?
Eron Bezerra: Eles participaram de uma ou outra reunião. Hoje, o José Ricardo e o Waldemir Santana me ligaram e explicando que estão no Congresso Nacional do PT, que de fato está acontecendo em São Paulo.
RC: Soube que o prefeito de Manaus, Arthur Neto, foi convidado.
Eron Bezerra: Foi convidado, exatamente dentro desta mesma visão. Não temos preconceito contra ninguém que queira defender essa ideia: democracia, liberdade e soberania do País.
“A tática do PT, que por acaso é a do Bolsonaro também, polarizar um com o outro. A visão é absolutamente idêntica”.
RC: A soltura do Lula e a presença dele é decisiva nas campanhas municipais?
Eron Bezerra: Ajuda por um lado e complica por outro. Deixa eu lhe dizer qual é a tática do PT, que por acaso é a do Bolsonaro também, polarizar um com o outro. A visão é absolutamente idêntica. Eles acham que têm determinado nível de votos e que as pessoas votarão neles porque estão votando contra o outro. Uma das coisas que enfatizo que é hora do Brasil parar de votar contra.
RC: O que o senhor acha da estratégia do José Ricardo de tentar esconder o Lula?
Eron Bezerra: Ele vai ter vantagem e desvantagem. O apoio eventual dos lulistas, ou não. E também atrai o ódio dos antipetistas. Se ele faz isso (separar imagem dele de Lula), aí ele tem um risco, é de nem ter o apoio dos lulistas e ainda ter o ódio dos bolsonaristas. Eu acho que perde ainda mais, honestamente. É aquela história, tu é jornalista. Não adianta tu se fantasiar de freira que ninguém vai te levar a sério. Não é verdade? Eu passei a vida inteira de um lado e agora eu mudo de lado? Mas isso, vou repetir, é uma tática, estratégia que ele está adotando, porque a tática do PT não é essa. A tática do PT é estabelecer o contraponto com Bolsonaro.
RC: Não é uma forma de entrar num eleitorado que há um ano votou em maioria no Bolsonaro?
Eron Bezerra: Aqui tem um probleminha. Bolsonaro teve quase 70%. Hoje ele não teria 30%.
“Se o PT tiver um pouco mais de, não vou chamar de bom senso, mais de maturidade compõe uma frente ou ajuda a compor uma frente que possa derrotar esta direita. Mesmo que o candidato não seja do PT.”
RC: O senhor acha?
Eron Bezerra: Claro. Tem pesquisa. Mesmo as encomendadas, ele passou para 40% ou 30%. Neste cenário de agora não podemos ver o cenário de 2018. Aquele cenário não existe mais. Naquele cenário, a esquerda estava toda criminalizada. Antipetismo, antiesquerda de maneira geral, estava consolidado. As pessoas não votaram no Bolsonaro, votaram contra o PT. Isso não quer dizer que as pessoas vão votar no PT, agora. Por isso, se o PT tiver um pouco mais de, não vou chamar de bom senso, mais de maturidade compõe uma frente ou ajuda a compor uma frente que possa derrotar esta direita. Mesmo que o candidato não seja do PT. Vão dizer: ‘Não, mas o José Ricardo tem 10%, 12%’. Isso não é nada. Não tem um candidato favorito em Manaus. Amazonoino tem de 12%, 14%. David 15%, 18% e o José Ricardo na margem de 12%. Isso revela justamente a ausência de um nome que possa galvanizar a expectativa e que não seja o do contra. É onde surge a frente, para ser esse polo.
“O PT é o maior partido do Congresso. Portanto, não foi a maior vítima. Não foi nem o PCdoB, PSB. A maior vítima foi o povo”
“Esse tipo de maturidade e altruísmo que eu tenho direito de exigir do PT. Nós também fomos sacaneados e nem por isso, eu estou xingando ninguém. Entendo que a votação tem que ser a favor e não contra.”
RC: Há pessoas que defendem que o PT deveria fazer uma autoavaliação e reconhecer erros. O senhor concorda?
Eron Bezerra: Eu compreendo o tom, um pouco acima, do Lula. Ele foi preso por uma trama do Moro para eleger o Bolsonaro, que depois ganhou o cargo de ministro e promessa do STF. Qualquer um que foi vítima dessa trama, tem direito de ficar magoado. Mas, como líder político, ele não pode cometer essa bobagem. Ele tem que compreender que não foi contra ele e nem contra o PT, que aliás foi a menor vítima disso. Basta ver a quantidade de deputados que o PT elegeu e governadores. O PT é o maior partido do Congresso. Portanto, não foi a maior vítima. Não foi nem o PCdoB, PSB. A maior vítima foi o povo, que está perdendo tudo: emprego, estabilidade, Bolsa Família, direitos, ‘Minha Casa, Minha Vida’, nossa soberania que está por um fio, ameaçada. Estatais entregues de mão beijada. Esse tipo de maturidade e altruísmo que eu tenho direito de exigir do PT. Nós também fomos sacaneados e nem por isso, eu estou xingando ninguém. Entendo que a votação tem que ser a favor e não contra.