*Marcelo Seráfico

Não sei como nem quando haverá reação à altura das brutalidades perpretadas pelo governo federal e seus sócios estaduais e municipais.
Os golpes dados já foram mais que suficientes para liquidar com o serviço público, objetivo prioritário de Bolsonaro.
Reside aí uma diferença fundamental entre este governo e a ditadura de 1964, pois esta não minou a estrutura estatal, ao contrário, até a fortaleceu em algumas áreas com vistas a executar suas políticas de controle social e dinamização econômica.
Bolsonaro pretende liquidar o setor público para dinamizar a economia privada, controlando a sociedade através de dispositivos policiais e legais. Estamos vivendo a estruturação do Estado de exceção, ainda que muitos creiam tratar-se apenas de lawfare contra Lula, numa leitura que reduz a política à hagiografia.
Essa leitura enviesada sacrifica a organização para a luta, pois subordina o todo a uma parte.
Espero que tenhamos juízo suficiente para sair dessa postura acovardada que, a pretexto de militar pela justiça, acaba por enfraquecer a luta política por uma sociedade justa.
Lula merece estar livre por não haver provas do crime de que é acusado. Como não há para milhares de outros brasileiros na mesma condição que ele.
Que isso aconteça é sintoma de um sistema de vigilância, controle e punição seletivo, que pinça, quando importa, quem incomoda.
Modificar esse sistema, como a história parece estar provando, exige mais do que “presidencialismo de coalizão”.
*Marcelo Seráfico é doutor em Sociologia e professor de Ciências Sociais da Ufam
Foto: Rosiene Carvalho