Pacientes e corpos de mortos por covid-19 ocupam mesmo espaço no João Lúcio

Foto: Reprodução vídeo feito por funcionários do João Lúcio na madrugada de quarta para, dia 15, e quinta-feira,dia 16.

Uma cena de chocar até mesmo funcionários da saúde acostumados a lidar com a morte e as dificuldades nos plantões nas unidades pública do Amazonas viralizou nas redes sociais nesta quinta-feira, dia 16.

O vídeo feito e divulgado por profissionais da saúde mostra pacientes e mortos dividindo espaço em salas do Hospital João Lúcio, Zona Leste de Manaus.

No vídeo, a pessoa que faz as imagens diz que foram 14 mortos só na sala rosa, unidade semi-intensiva, nesta madrugada.

A pessoas que filma circula entre os leitos que mostram corpos já empacotados em macas lado a lado com pacientes e funcionários que estavam no plantão. O vídeo mostra pelo menos dez corpos.

O vídeo passou a circular nas primeiras horas da manhã desta quinta-feira. Uma médica, que pediu para não ser identificada, e enviou cedo o vídeo para o blog informou que o mesmo foi feito por volta de 8h.

Veja vídeo:

https://www.instagram.com/tv/B_D5XDbjWIY/?igshid=1dm62qrl5fha

Respostas

A reportagem questionou o governo sobre o vídeo. Apesar do mesmo ter circulado e ter sido citado na sessão virtual da ALE-AM (Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas) pelo deputado de oposição Dermilson Chagas (sem partido), nenhuma citação foi feita sobre o episódio durante a live diária em que o governo dá informes sobre a covid-19.

Por volta de 18h30 desta quinta, o governo enviou resposta à reportagem sobre os questionamentos feitos a respeito do vídeo.

Diz na nota esclarecer que os 14 óbitos ocorridos no João Lúcio, na madrugada de quarta para quinta, foram de pacientes suspeitos de covid-19.

A nota informa que dos 14 óbitos, cinco corpos foram liberados até as 17h de hoje. Os outros nove aguardavam os familiares com as declarações de óbitos.

A reportagem havia questionado o governo, por meio de mensagem enviada a Secom (Secretaria de Estado de Comunicação), a razão dos corpos estarem na mesma sala que os pacientes.

Também questionou por quanto tempo a situação (pacientes e mortos lado a lado) permaneceu. Outra pergunta foi se havia ou se haverá protocolo da Susam (Secretaria de Estado de Saúde) ou da FVS (Fundação de Vigilância em Saúde) para situações como a vivenciada no plantão do João Lúcio, nesta madrugada.

Todos esses questionamentos foram ignorados na nota do governo.

Sem leitos

O Governo do Amazonas informou que Hospital João Lúcio “tem recebido pacientes suspeitos de covid-19 até que seja ampliado o número de leitos do Hospital Delphina Aziz e o Hospital da Nilton Lins entre em operação”.

Uma decisão judicial determinou a suspensão do contrato do hospital particular e o governador Wilson Lima declarou que só deixará de usar os leitos na Nilton Lins se passarem “por cima do cadáver dele”.

A nota sobre o vídeo de mortos na sala em que pacientes são tratados da covid-19 diz que a João Lúcio só ficará exclusivo para atendimento de urgência e emergência quando o Delphina sofrer ampliação de sua capacidade e o governo contar com reforço de leitos do hospital de retaguarda.

Segundo o governo os mortos, que aparecem ao lado de pacientes que também estão em tratamento de covid-19, “receberam assistência adequada e manejo clínico de acordo com as suas necessidades, medicação e oxigênio”.

Cinco deles morreram em menos de 24 após darem entrada na unidade. O governo sustenta que chegaram em estado grave. “Todos foram admitidos no hospital em estado grave, sendo cinco nas últimas 24 horas”.

A nota indica ainda que dos 14 pacientes que aparecem mortos no vídeo, oito tinham idade acima de 60 anos e seis tinham comorbidades severas.

Delphina tem containers frigoríficos para mortos pelo Covid-19

No dia 4 de abril o Governo do Amazonas emitiu nota para esclarecer a aquisição, dias antes, de containers frigoríficos instalados no Hospital de referência para tratamento de coronavírus, Delphina Aziz.

O governo informou que seguia “padrões de segurança já definidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para manuseio de corpos de pessoas que faleceram por Covid-19”.

A nota do governo dizia que os corpos deveriam ser acondicionados em compartimento refrigerado, mas por “segurança biológica e limitado espaço”, os corpos dos pacientes da covid-19 não ficariam em necrotério comum.

Os corpos devem ser acondicionados em compartimento refrigerado, mas por segurança biológica e limitação de espaço, ficou definido que não ficarão no necrotério comum. Por isso, desde o início dessa semana a secretaria providenciou junto com o Hospital Delphina Aziz a instalação de containers frigoríficos naquela unidade”.

A nota informava que o Delphina Aziz contaria com dois containers para os corpos de mortos pela covid-19. De lá para cá, o Amazonas entrou numa fase de “aceleração descontrolada” da doença, segundo classificação do Ministério da Saúde, com crescentes registros de infectado e mortos.

O governo fechou portas para o atendimento de entrada no sistema dos pacientes para covid-19 no hospital referência. A medida, que espalhou os pacientes para outras unidades, é criticada por profissionais da área médica.

Leia a nota na íntegra:

“A Secretaria de Estado de Saúde (Susam) esclarece que os 14 óbitos ocorridos no Hospital João Lúcio, entre a noite de ontem e o início da manhã desta quinta-feira (16/04), foram de pacientes suspeitos de Covid-19. Dos 14 óbitos, cinco já haviam sido liberados até às 17h desta quinta-feira, e nove aguardavam os familiares com as declarações de óbito.  

A Susam informa, ainda, que o Hospital João Lúcio tem recebido pacientes suspeitos de Covid-19 até que seja ampliado o número de leitos do Hospital Delphina Aziz e o Hospital da Nilton Lins entre em operação. Com a capacidade ampliada do Delphina e o reforço dos leitos do hospital de retaguarda, o HPS João Lúcio ficará exclusivo para o atendimento de urgência e emergência para suporte da rede.

Desses pacientes, oito tinham idade acima de 60 anos, seis tinham comorbidades serveras, todos foram admitidos no hospital em estado grave, sendo cinco nas últimas 24 horas. Todos os pacientes receberam assistência adequada e manejo clínico de acordo com as suas necessidades, medicação e oxigênio”.