
O coordenador do estudo Atlas ODS Amazonas da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) e professor do programa de Pós-graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Henrique Pereira, afirmou que a reabertura e o estímulo à circulação de pessoas em Manaus deveria ser adiada.
A opinião do pesquisador é com base no resultado dos dados analisados da evolução da covid-19 e nos estudos divulgados pelo núcleo de pesquisa.
Para o professor da Ufam, a reabertura deveria avaliar o menor risco de morte das pessoas em função de um novo inchaço no sistema de saúde. Henrique Pereira também destacou que, por concentrar os leitos de UTI, Manaus teria que planejar a reabertura de olho na evolução da doença nos município do interior.
“Não adotamos o pico da pandemia como data ou prazo para flexibilização do isolamento. Mas sim (o percentual de) 97% dos casos já ocorridos (…) Por isso, um prazo mais à frente, nós entendemos, ser o mais adequado para inciar a flexibilização”, declarou.
O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), informou que esta semana realiza reuniões e deve anunciar nesta quarta-feira, um novo planejamento de reabertura gradual do comércio a partir de 1º de junho, ou seja, em 5 dias. A rigor, as zonas mais populosas da cidade não aderiram ao isolamento social decretado pelo governo.
O Distrito Industrial está com praticamente 100% de suas atividades. Isso porque a Moto Honda voltou a funcionar nesta segunda-feira e segurava a volta ao trabalho de cerca de 35 mil trabalhadores da sua fábricas e de outras que abastecem de insumos o setor de duas rodas.
Três semanas antes, segundo informações da Suframa, Cieam e Sindicato dos Metalúrgicos, 50 mil trabalhadores voltaram às fábricas. Suframa, Cieam e Metalúrgicos fizeram anúncios de adoções de protocolos que permitam menor risco de contágio e controle de possíveis infectados.
Governo deveria esperar achatamento da curva
A recomendação do estudo é que a reabertura e o estímulo à circulação de pessoas ocorra no achatamento da curva, quando houver contundente diminuição da velocidade da taxa de mortes.
“Mas isso é uma visão nossa baseada no princípio da preocupação, há outros elementos, outras pressões sociais que vão pesar na decisão do governador (…) Não estamos olhando para outros tipos de informação e interesses que vão pesar na decisão que cabe ao governo e à sociedade “, afirmou o pesquisador.
Para o pesquisador o fundo da curva de número de mortes e infectados é o momento mais seguro para a reabertura. Isso porque o sistema de saúde não congela a necessidade de atendimentos por outras demandas, que tendem a aumentar na retomada de atividades.
“A recomendação não é olhar o topo da curva, mas o fundo da curva, quando ela estiver realmente encostando na velocidade zero de casos, zero de mortes (pela covid). Porque na cidade outras doenças continuarão acontecendo. Outras doenças vão agravar. Essas pessoas também precisam de atendimento de saúde. Por isso, um prazo mais à frente, nós entendemos ser o mais adequado para iniciar a flexibilização”, disse.
Henrique Pereira salientou que a recomendação do estudo analisa unicamente parâmetros analisados nos dados da pesquisa e não os fatores externos que também são analisados pelos gestores na tomada de decisões administrativas.
“Nós não nos arvoramos em fazer contas com vidas humanas. Então, esse lado vou deixar aberto para os tomadores de decisão. Nossa recomendação é pelo número de óbitos e casos. Em Manaus, a data de reabertura deveria estar mais à frente”, disse.
Para o pesquisador, a decisão de reabertura em Manaus deve levar em consideração a evolução da doença no interior, que depende do sistema de saúde da capital.
“Nós estamos pensando sobre a medida governamental estadual, o decreto do estado que abrange todo o Amazonas. Mesmo sendo um decreto estadual, ele deve conter mecanismos que permitam a harmonização e os ajustes que precisam ser tomados na escala municipal”, disse o pesquisador da Ufam.
“Outra dado é que o sistema de saúde é único. E, neste caso do Amazonas, significa que os leitos de UTI estão em Manaus. Além disso, a taxa de ocupação de UTI não significa que é só covid”, disse.
Henrique Pereira disse concordar que os números de Manaus estão sinalizando “estacionamentos” e “mudanças”. Mas as projeções, na opinião, dele indicam que o seguro é adiar a reabertura para um momento de taxas baixas de infecção e mortes no estado.
As análises sobre os números e a velocidade atual da doença, segundo o pesquisados, se for mantida, permite prevê que 97% do que se projeta de casos de óbito por covid e de infectados, registrados pelo governo devem ocorrer em meados e final de junho, respectivamente. Para o pesquisador, este deve ser o parâmetro de curva baixa e sem risco.
“Os modelos pra Manaus têm estacionado. Não tem havido grandes mudanças. Se a coisa se mantiver como está, a gente projeta que Manaus devera apresentar 97% dos casos de mortes até meados de junho e de casos sintomáticos até final de junho. Sim, Manaus está numa fase diferente, nunca curva descendente. Recentemente, começou haver uma desaceleração dos casos e de mortes”, disse.

Manaus, divulgados pelo estudo da Ufam. Fonte: Boletim Atlas ODS Amazonas da Ufam
Assista a apresentação do estudo e a entrevista sobre o mesmo neste link.
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