Policial lotado na Prefeitura é suspeito de “participação ou autoria” no homicídio de Flávio, diz delegado

Policial lotado na prefeitura, Elizeu Paz, na entrada do Condomínio Passaredo no dia que Flávio Rodrigues foi assassinado.

*Texto atualizado com resposta da prefeitura às 10h28.

O delegado do 19º Dip (Distrito Integrado de Polícia), Aldeney Goes Alves, afirma que o policial militar lotado na Casa Militar da Prefeitura de Manaus, Elizeu da Paz Souza, é suspeito de “autoria ou participação” no homicídio do engenheiro Flávio Rodrigues e que pode ter usado veículo do executivo municipal no crime.

Flávio foi encontrado morto num terreno no bairro Tarumã, com marca de seis facadas na costas, perna e barriga, horas após se reunir no domingo, dia 29, com outros homens na casa de Alejandro Valeiko, enteado do prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB). A casa de Alejandro foi o último local que Flávio foi visto vivo antes do homicídio.

As informações estão no pedido de prisão temporária de cinco dias do policial, que o blog teve acesso.

Veja trecho do pedido de prisão em que o delegado relata sua suspeita sobre a participação do policial no homicídio que envolve o enteado do prefeito Arthur Neto, Alejandro Valeiko.

“O segurança institucional ELIZEU DA PAZ DE SOUZA é policial militar cedido para a Prefeitura de Manaus e mantem consigo um Corolla que é alugado pelo poder público para servir como viatura na prestação de seus serviços na guarda de ALEJANDRO MOLINA VALEIKO (familiar do prefeito municipal), tendo ele cadastro biométrico que o permite acessar o condomínio.

Mesmo assim naquela data o policial ELIZEU DA PAZ DE SOUZA não usou o registro biométrico e tão logo viu a confusão começar tratou de sair de local de forma estranha e rápida, como que se fugisse levando algo, o que poderia ser o corpo da vítima FLÁVIO RODRIGUES DOS SANTOS pois nenhum outro veículo saiu até a chegada dos policiais”.

Em outro trecho do pedido de prisão, o delegado afirma:

“Também há que se relatar que ELIELTON MAGNO DE MENEZES GOMES JÚNIOR, que estava no local dos fatos, alega ter sido ameaçado por arma de fogo e ter sofrido dois ferimentos a faca nas costas produzidas por uma pessoa que tem a mesma compleição física do ora representado ELIZEU DA PAZ DE SOUZA, o qual comprovadamente teve acesso ao local”.

Nos pedidos de prisão temporária de cinco dias, concedidos e executados ao longo desta quinta-feira, dia 3, o delegado apresenta imagens de câmeras internas na portaria e uma série de depoimento de pessoas que estavam na casa de Alejando Valeiko, de morador e funcionários da portaria do condomínio Passaredo, que fica na Ponta Negra, zona Centro-Oeste de Manaus.

Nesta quinta-feira, o delegado Aldeney Góes, afirmou à reportagem no 19º Dip que não daria declarações enquanto as diligências não fossem cumpridas. Mas informou que a polícia vai apresentar detalhes sobre o homicídio, com vídeos e documentos apontando a participação dos envolvidos em coletiva à mídia. A coletiva está prevista para às 15h desta sexta, na Delegacia Geral.

A polícia pediu prisão temporária de 30 dias para Alejandro Valeiko (o enteado do prefeito), Vittorio Del Gato (cuidador de Alejandro), Eliseu da Paz Souza (policial lotado na Casa Militar), Mayc Vinícius Teixeira Parede (amigo do policial), José Evandro Martins de Souza Júnior e Elielton Magno de Menezes Gomes Júnior. Os dois últimos estavam na casa de Alejandro, no dia do homicídio.

Até o fechamento desta matéria não havia confirmação sobre a prisão de Alejandro Valeiko que, segundo o prefeito de Manaus, foi internado em uma clínica para recuperação de dependentes químicos horas após o crime. A polícia informou que Alejandro está no Rio de Janeiro.

No pedido de prisão, o delegado afirma que há contradições nos depoimentos dos homens que estavam com Flávio na casa de Alejandro.

A Prefeitura de Manaus foi procurada na manhã desta sexta-feira para se pronunciar sobre as informações relativas ao executivo municipal no pedido de prisão. A Semcom (Secretaria Municipal de Comunicação) informou que não se pronunciaria.

Polícia indica que depoimentos apontam participação de policial

Na junção destes depoimentos e imagens, o delegado indica que Elizeu da Paz entrou no condomínio por volta de 22h14 acompanhado de Mayc Vinícius Teixeira Andrade num veículo Corolla, da Prefeitura de Manaus e acautelado no nome do policial, segundo as informações do delegado.

Veja o vídeo da entrada do policial, disponibilizado pela polícia:

https://www.facebook.com/jornalistarosienecarvalho/videos/2514483872117055/

O delegado do 19º afirma que Elizeu, lotado na Casa Militar, atua como um segurança do filho da primeira-dama Elisabeth Valeiko, Alejando Valeiko. Não há informação que indique qualquer ligação de interesse da administração pública entre o enteado de Arthur e a Prefeitura de Manaus.

Em seu depoimento, Elizeu também confirma o tipo de serviço que executa no município, ao definir sua função à autoridade policial: “garantir a segurança de Alejandro”.

No depoimento, o policial informou não ter conhecimento sobre a confusão na casa de Alejandro no dia em que Flávio foi morto e que passou no Condomínio Passaredo, na Ponta Negra, apenas para um “ronda de rotina”

Em função destas características da atividade do policial, o delegado considera suspeito a saída dele exatamente na hora em que houve a confusão na casa de Alejandro. O enteado do prefeito e três homens que estavam como ele relatam a invasão da casa por um homem armado de pistola que os feriu com faca e levou Flávio Rodrigues do local.

“Conclui-se ainda pelas narrativas dos seguranças JUNIOR BARBOSA DOS SANTOS e JUZENILDO OLIVEIRA BARROS que o representado ELIZEU DA PAZ DE SOUZA (e o carona MAYC VINICIUS TEIXEIRA PAREDE) estava dentro do condomínio logo após o incidente tendo saído apressando o que não é justificável pois ele tinha o dever de manter a segurança”, informa o delegado em outro trecho do pedido de prisão.

Tutor conta detalhes do dia do crime

De acordo com o depoimento de Vittorio Del Gato, 67, apresentado na peça policial e por ele próprio como “tutor” de Alejandro Valeiko, o filho da primeira-dama do município estava na casa desde às 10h do domingo, dia 29, na companhia de Flávio, Elielton Magno, José Evandro Martins de Souza Júnior e outros dois homens não identificados por ele.

Vittorio contou, no depoimento, que, por volta de 16h30, Alejando, Flávio e Júnior saíram para uma rave e que Magno ficou na casa. Os dois homens não identificados também saíram, segundo o cuidador de Alejandro.

O tutor de Alejandro afirmou que por volta de 22h, o grupo volta para a casa e ficou bebendo e ouvindo música na sala. Ele disse que se retirou para o quarto por volta de 22h15, de onde só saiu ao receber uma ligação do síndico às 22h56. Disse que encontrou a sala revirada e Alejandro ferido.

Policial lotado na Prefeitura de Manaus é suspeito de participação no homicídio de Flávio, diz delegado

Magno, no depoimento, disse que dormiu na casa durante o dia e não foi a rave. Disse que estava de saída quando o grupo voltou da festa à noite e ofereceu carona para ele voltar para casa.

Ainda segundo o depoimento de Magno, que consta no pedido de prisão, ele estava usando o celular quando um homem com capuz e uma arma de fogo entrou no local e o ameaçou. Ele afirma que um outro indivíduo mais baixo o feriu com arma branca e, na sequência, ele saiu correndo da casa e pediu ajuda na portaria.

Elielton Magno relata, no depoimento, que antes do ataque percebeu “clima pesado” no grupo que chegou da festa.

E, ainda segundo o depoimento, a polícia mostrou a Magno um vídeo disponibilizado pelo Condomínio Passaredo com “dois indivíduos”. No texto do depoimento, há informação que Magno reconhece os dois indivíduos do vídeo “sem vacilo” como as pessoas que invadiram a casa de Alejandro.

“Abre, abre, abre”

O depoimento do agente de portaria Juzenildo Oliveira Barros informa que, no momento em que estavam socorrendo Magno, a pessoa que dirigia o Corolla Prata – identificado no pedido de prisão como veículo da prefeitura dirigido por policial lotado na Casa Militar, chegou na portaria no sentido da saída do condomínio dizendo: “abre, abre, abre”.

O agente de portaria diz que a forma como o condutor falava para abrir a cancela demonstrava “desespero”.

Elizeu da Paz, o policial da Casa Militar da Prefeitura de Manaus, foi questionado no depoimento sobre as palavras e a forma como saiu do condomínio de Alejandro e disse que não lembrava.

A polícia também o questionou porque, sendo segurança e atuando para garantir a guarda de Alejandro, saiu do local em meio à confusão. O policial, segundo o depoimento que consta no pedido de prisão, respondeu que já havia cumprido sua ronda rotineira e estava cansado.

Um vizinho de Alejandro, identificado como Igor Gomes Ferreira, que também prestou depoimento à polícia, disse que encontrou o enteado de Arthur na portaria na noite do crime ensanguentado e que ele falava coisas desconexas.

Veja o depoimento de Elizeu à polícia:

Foto: reprodução vídeo